Agronegócio
Domingo, 19 de maio de 2024

Produtores de cana chegam a prejuízos de R$ 1 bilhão e questionam faturamento das usinas

Organização das Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar pede a atualização das normas do Consecana para que remuneração se aproxime da rentabilidade das usinas

Sempre que a cana-de-açúcar é transformada em açúcar ou etanol, há um produtor e uma usina envolvidos. No entanto, de acordo com a Organização das Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil (ORPLANA), a disparidade entre os custos de produção para ambos os lados é evidente. A entidade alega que os produtores enfrentam prejuízos de mais de R$ 1 bilhão ao considerar a safra de 2023 e os custos de produção planejados para a próxima colheita.

De acordo com a ORPLANA, as usinas de açúcar e etanol têm uma receita média de aproximadamente R$ 390 por tonelada de cana moída, com um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) próximo a R$ 190 por tonelada processada, o que resulta em ganhos financeiros para as usinas. Por outro lado, os produtores enfrentam um prejuízo de R$ 17,03 por tonelada.

José Guilherme Nogueira, CEO da Organização, aponta que o modelo de pagamento aos produtores não foi atualizado nos últimos 10 anos, o que torna necessário uma revisão no preço e formato de pagamento, especialmente para corrigir as disparidades nos custos de produção entre os produtores e a indústria.

Desde a desregulamentação do setor em 1998, as normas e regras de preços para produtores e indústrias são definidas pelo Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), composto pela ORPLANA e pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).

Nogueira também enfatiza que fatores como índice de fermentação, perdas industriais, bagaço excedente e outros não têm sido devidamente considerados na avaliação de custos e preços pagos aos produtores. Em relação à safra 2023/2024, ele argumenta que os modelos de comercialização não estão proporcionando uma remuneração adequada, uma vez que não cobrem os custos de produção.

A ORPLANA informa que 40% de toda a cana no Brasil é cultivada por agricultores, enquanto os outros 60% são produzidos pelas usinas. No entanto, em várias regiões do Centro-Sul do país, os custos de produção dos produtores, incluindo arrendamento de terra, custos operacionais e despesas administrativas, tornam o negócio não lucrativo.

Além da desigualdade nos custos de produção, o CEO da entidade também menciona que o estatuto do Consecana está desatualizado em relação à realidade do setor sucroenergético. Por exemplo, as usinas recebem 100% dos Créditos de Descarbonização (CBIOs) e repassam apenas 50% aos produtores, o que, segundo Nogueira, não reflete a realidade do setor. Caso não haja uma revisão no Consecana, ele considera acionar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Do ponto de vista da Unica, “os números apresentados pela ORPLANA não representam a realidade do mercado de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo”. A entidade das usinas afirma que a maioria dos produtores recebe prêmios ou bonificações adicionais ao valor de referência publicado pelo CONSECANA-SP. A Unica sugere a revisão dos aspectos técnicos e econômicos, bem como a contratação de uma empresa externa para conduzir um novo estudo sobre a situação atual do mercado de cana-de-açúcar no estado de São Paulo.

Fonte: Exame