“É pertinente no contexto da África Ocidental, onde tem se falado muito sobre as negociações com o GSIM”, o Grupo de Apoio Islâmico e Muçulmano afiliado à Al-Qaeda, afirmou Aymenn Jawad Al-Tamimi, pesquisador do Programa de Extremismo da Universidade George Washington, nos Estados Unidos.
A “resistência dos povos”
Os talibãs não se contentaram em deixar a situação piorar. Enquanto estavam em guerra, negociavam com os americanos e com o governo afegão. Com isso, moviam seus peões para frente.
Simbolicamente, sua vitória ajuda a convencer os militantes de que, “se continuarem lutando, seus adversários acabarão derrubados”, acrescentou o pesquisador iraquiano. Nas últimas 24 horas, as redes sociais se encheram de propaganda extremista.
A agência de propaganda da Al-Qaeda, Al-Thabat, afirmou que “os muçulmanos e mujahedines do Paquistão, Caxemira, Iêmen, Síria, Gaza, Somália e Mali estão celebrando a libertação do Afeganistão e a aplicação da sharia”.
Quanto ao Estado Islâmico, a questão é, obviamente, mais difícil. Quando a Al-Qaeda prometeu lealdade ao Talibã, o EI chamou-os de traidores. No Afeganistão, o ódio é ainda mais persistente, porque o Estado Islâmico em Khorasan (ISKP) foi criado por desertores talibãs.
De qualquer modo, o Estado Islâmico também está se beneficiando do colapso do Estado afegão. “Dr. Q”, um especialista ocidental sobre o grupo extremista que publica suas pesquisas no Twitter sob este pseudônimo, constatou 216 ataques do ISKP entre 1º de janeiro e 11 de agosto, contra 34 no mesmo período do ano passado.
“Nem tudo está diretamente relacionado com a retirada americana, mas a vitória do Talibã também dá um impulso ao ISKP, disse à AFP.
Lembrança do Iraque em 2011
Dr. Q também destaca que, além do ódio entre os grupos, há objetivos convergentes.
“O EI fala, frequentemente, sobre o fato de os ocidentais não poderem ficar para sempre” em terras estrangeiras. Neste sentido, o triunfo dos talibãs “legitima sua forma de agir”.
Colin Clarke também aponta que o caos e a guerra são as condições básicas para o desenvolvimento de qualquer grupo extremista.
“O colapso do Exército afegão é uma estranha lembrança do que vimos no Iraque em 2011. Temo que a mesma situação se repita no Afeganistão, com o desenvolvimento simultâneo do EI e a ressurreição da Al-Qaeda”, advertiu.
Aqui está, talvez, a maior lição que os talibãs ensinaram à esfera extremista mundial: a paciência e a determinação podem triunfar, independentemente do inimigo. Uma lição estimulante para todos os movimentos com ambições locais, opositores, ou aliados, dos novos líderes de Cabul.
Fonte: IstoéDinheiro