Cultura
Domingo, 19 de maio de 2024

Trama de ‘Os Segredos de Madame Claude’ beira o pornô soft

Não deixa de ser curioso o fato de que “Os Segredos de Madame Claude”, que estreou no mês de abril na Netflix, seja dirigido por uma mulher.
Afinal, esperava-se um olhar menos estereotipado das desventuras da cafetina Fernande Grudet, que viveu entre 1923 e 2015 e ficou famosa no mundo inteiro nos anos 1960 e 1970 sob a alcunha de madame Claude –há um outro filme, o francês “Madame Claude”, lançado por Just Jaeckin no ano de 1977, que é igualmente sem brilho.
A diretora Sylvie Verheyde, no entanto, apresenta um filme raso, de roteiro fraco e que, dada a profusão de mulheres peladas ou de lingerie, poderia se inscrever no gênero de pornôs soft. A classificação indicativa da Netflix é de 16 anos.
O caso é que o filme ambiciona ir além das delícias e desprazeres da vida de cafetina e da prostituição.
Enquanto passeia pelas mansões e pelos quartos onde as “filhas” de Claude recebem políticos e atores de primeira grandeza (Marlon Brando é um dos que tocam a campainha do prostíbulo no filme), o longa não chega a irritar. Aliás, a trilha sonora de rocks sessentistas e de canções românticas francesas são o ponto alto da obra.
O problema ocorre quando a diretora tenta explicar a derrocada de madame Claude. Suas ligações com políticos da alta esfera e com embaixadores ou cônsules de nações rivais atraem o interesse do serviço secreto francês. A madame, então, acaba obrigado a botas as suas meninas para espionar, fotografar e a ajudar na chantagem de vários desses personagens.
Alguns anos depois, no entanto, com a troca de poder no governo francês, ela se torna um calcanhar de Aquiles e precisa ser anulada. O filme de espionagem que se segue é terrivelmente confuso.
Personagens são citados a torto e a direito e custa conseguir acompanhar o que está acontecendo. Uma hora ela está bem com a polícia, na outra, é perseguida, e não se entende bem como passamos de um ponto para outro.
As interpretações de Karole Rocher, como madame Claude, e Roschdy Zem, como sua braço direito, não comprometem, mas também estão longe de serem notáveis.
A diretora também não chega a ter uma obra respeitável, apesar de seu penúltimo filme ter chamado a atenção. “Confissões de um Jovem Apaixonado”, de 2012, trazia Charlotte Gainsburg e Pete Doherty (da banda de rock Libertines) como protagonistas, mas a crítica não perdoou na época da estreia. Cássio Starling Carlos, da Folha de S. Paulo, avaliou o filme como ruim na ocasião.
Talvez esse seja um pouco menos ruim, mas falta muito para que Sylvie Verheyde esteja à altura das vozes mais interessantes do cinema francês recente.

Os Segredos de Madame Claude
França, 2021.
Dir.: Sylvie Verheyde.
Com Karole Rocher, Garance Marillier e Roschdy Zem.
Disponível na Netflix.
Avaliação: Regular

Fonte: FolhaPress/Ivan Finotti