A centenária rede varejista que durante décadas atraiu senhoras em busca de fronhas e lençóis agora multiplica seus resultados com marcas como Star Wars, Marvel e Frozen.
Star Wars, Marvel, Frozen, Disney Princesas e Mickey & Amigos. As produções do mundo do cinema, da animação e dos quadrinhos agora fazem parte da estratégia da rede varejista Pernambucanas para atrair os consumidores. Produtos com referências às franquias podem ser encontrados no espaço Disney, inaugurado, no início do mês, na unidade da rede no Shopping Aricanduva, na capital paulista, após investimento de R$ 500 mil. Apesar da curta existência, o modelo já é o responsável pela alta de 30% do tíquete médio da área, em comparação ao da loja, e pelo aumento do fluxo de pessoas no estabelecimento. Um feito e tanto para uma companhia centenária, fundada em 1908, e que durante décadas teve como público-alvo donas de casa que sonhavam em renovar o enxoval surrado.
Além de parcerias do tipo, a empresa aposta na manutenção do ‘figital’ (união do atendimento físico com o digital), na diversificação do portfólio e na expansão física para incrementar as vendas nos últimos dias do ano, de olho também em 2021. “Com a inclusão de novas categorias no negócio, a empresa quer mostrar solidez, diversificação e expertise, oferecendo uma experiência única de compra”, afirmou à DINHEIRO Sergio Borriello, CEO da Pernambucanas.
Com muita ficção entre os seus negócios, e também altas doses de realidade, a companhia celebrou este mês outros três acordos comerciais para ampliar a gama de produtos disponibilizados. O primeiro envolveu a Multi B, detentora das marcas Vult, Eudora (Siàge) e Australian Gold. Outra novidade foi a parceria com as drogarias Pacheco e São Paulo para garantir descontos e benefícios aos colaboradores e clientes da Pernambucanas. E a varejista também passou a comercializar peças da Marisol, referência no segmento de confecção infantil. “Trazer inovação para o mercado é fundamental para sustentar as vendas e o fluxo.” Além de vestuário, a rede comercializa produtos para o lar (cama, mesa e banho), eletroportáteis, telefonia, informática, livros e brinquedos e itens de beleza. A diversificação do portfólio chegou ao mundo animal com confecção e acessórios para pets.
EXPANSÃO A ampliação das categorias atendidas coincide com o plano de expansão das lojas físicas. Com investimento de R$ 150 milhões, a companhia inaugurou 38 unidades em 2020, pouco acima das 25 a 30 previstas em junho, já durante a pandemia, e perto das 50 planejadas no início do ano. No total, vai fechar a temporada com 412 pontos no País. A Pernambucanas fortaleceu a presença nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Em 2021, a meta é abrir, no mínimo, a mesma quantidade deste ano, “mas isso vai depender do da economia e da evolução da pandemia.”
Além dos espaços físicos, o ‘figital’ resultou em um incremento de 1600% no faturamento da bandeira durante a quarentena. Experiências como clique e retire (responsável por 17% do faturamento do segmento), ship from a store (diretamente da loja para a casa do cliente), vendas por WhatsApp e drive thru seguem como trunfos da empresa para alavancar as vendas em 2021, a exemplo do e-commerce, responsável pelo recorde histórico contabilizado em novembro, durante a Black Friday. “Vendemos R$ 42 milhões no período, marca nunca antes alcançada em um único mês.”
A animação com os resultados continua ao projetar crescimento de 15% (descontado o período de lojas fechadas) nos segmentos de informática e telefonia em 2020 em relação a 2019. Já o setor de vestuário mostra recuperação – fechou o terceiro trimestre com alta de 6% – e deve ganhar participação no período do Natal.Playvolume00:00/01:28TruvidfullScreen
Com cerca de 14 mil colaboradores pelo Brasil, a Pernambucanas vê como principal desafio para 2021 a continuidade do plano de expansão em meio à segunda onda da Covid-19. O fim do auxílio emergencial e o possível aumento da inflação também preocupam. Mas até certo ponto. O executivo acredita que a redução de demanda em função da perda de renda da população será compensada pelo reequilíbrio da oferta, após o fechamento de muitas empresas durante a pandemia. “Quem apoiou o consumidor no momento de crise e no pós-crise deixando o crédito aberto espera ver uma certa fidelidade no ano que vem. E aqueles que afugentaram o cliente devem sofrer um pouco mais.” Sem revelar números, Borriello afirmou que o faturamento deste ano deve ficar “um pouco abaixo ao do ano passado”, de R$ 4,1 bilhões.
As estratégias adotadas pela Pernambucanas para ampliar as vendas são endossadas pela especialista Flávia Pini, CEO da FX Data Intelligence, plataforma de inteligência de dados para entrega de indicadores relevantes ao varejo. Para a publicitária, 2020 mostrou que, “sozinho, ninguém vai a lugar algum”. “Eu, Pernambucanas, sou uma marca forte e com um tráfego intenso. Se trouxer outras marcas, gero movimento para elas e ganho em cima disso. Quando se juntam, os varejistas são mais fortes.”
Apesar do crescimento do e-commerce na pandemia, Flávia defendeu a expansão das lojas físicas. Para a CEO, esses espaços assumiram outro papel. “A loja física é fulfillment (cumprimento, realização e satisfação), a experiência. É muito mais do que eu ir lá, comprar e ir embora. Deixo o meu rastro, os meus dados, um pouco do meu comportamento”, disse. “E acaba sendo um investimento mais barato, do ponto de vista figital, porque o investimento no mundo digital é muito alto. O custo de aquisição (de um cliente) de uma loja física é mais baixo. A pessoa está passando em frente e entra. Não precisa ser impactada por campanha nem clicar em nada.”
Fonte: IstoéDinheiro