FÁBIO ZANINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) A 34 km da praça da Sé, no extremo sul de São Paulo, a campanha para a prefeitura ocorre em uma espécie de realidade paralela, em que a favorita não está na urna.
O vasto distrito de Parelheiros poderia ser chamado de Martalândia, tal a popularidade que a ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) conserva.
Em 2016, quando estava no MDB, ela ganhou a eleição na região com 37,1% dos votos, folga considerável sobre João Doria (PSDB), que teve 28,2%.
Foi um dos dois únicos distritos em que o tucano, que venceu a eleição no primeiro turno, foi derrotado. O outro foi o vizinho Grajaú, em que Marta também ganhou, mas de forma apertada (31,5% a 30,6%).
A Folha de S.Paulo esteve na última terça (20) em Parelheiros e conversou com moradores.
Para quase todos, a polarização entre tucanos e petistas, que dominou a política municipal nas últimas décadas, se mantém. Marta apoia Covas, embora muitas pessoas no bairro não saibam disso.
Celso Russomanno (Republicanos) é personagem secundário, mas pior é para Guilherme Boulos (PSOL), ignorado por grande parte dos eleitores.
A praça em torno da capela Santa Cruz, de 1898, é o coração de Parelheiros. Na hora do almoço, Antonia de Paula Santos distribuía santinhos do PT, enquanto falava com a comerciante Rosemeire Helfstin, que tende a ir de Covas.
Elas concordam que Marta foi a melhor prefeita para o bairro, mas se engajam num debate acalorado sobre a decisão dela de deixar o PT, em 2015. “Marta valorizou muito a região. Eu trabalharia para ela de graça. Quem for contra é muito injusto”, diz Rosemeire.
Antonia concorda, mas agrega que o grande erro da ex-prefeita foi sair do partido. “Ela só é a Marta por causa do PT”, diz. A amiga corta: “Ela saiu porque viu a sujeira toda”. Antonia emenda uma tréplica: “Saiu porque é burra”.
A reportagemperguntou o que ambas acham de Boulos. “Boulos para mim é só o amigo da [Luiza] Erundina [sua vice]”, afirma Antonia.
Com área de 353 km2, maior que cidades como Guarulhos ou Santo André, Parelheiros é o maior distrito de São Paulo, com quase um quarto do território do município. É esparsamente povoado, com 139 mil moradores.
Longe do centro, perto da Serra do Mar e com áreas rurais separando núcleos urbanos, lembra uma pequena cidade dentro da capital.
O coração da Martalândia é um triângulo de cerca de 1 km de lado cujos vértices são a praça da capela, o CEU e o novo Hospital Parelheiros. Nas seções eleitorais desse área, Marta teve picos de mais de 50% dos votos em 2016.
A gratidão vem sobretudo de algumas obras que ela entregou quando prefeita (2001-05): a pavimentação da Estrada da Colônia, importante artéria do distrito, a construção do terminal de ônibus e de corredores que reduziram o tempo de viagem ao centro.
Ela também é creditada como a mãe do CEU local, embora a obra iniciada em sua gestão tenha sido finalizada na de Gilberto Kassab (PSD).
Proprietário de um bar ao lado do terminal de ônibus, o baiano José Cornélio Santana, 66, diz que a vida toda simpatizou com o PT. Esse ano, diz estar indeciso entre Covas, por causa do apoio de Marta, e Jilmar Tatto (PT), por ser do partido que implantou o bilhete único. E descarta Russomanno: “Esse aí não vai longe. Não vai chegar [no segundo turno], não”.
O mesmo dizem quatro clientes sentados numa mesa na calçada: todos antigos eleitores petistas, mas ainda indecisos. Uma mulher, que não quis dar o nome, afirma que provavelmente votará em Fernando Haddad (PT). Informada que o ex-prefeito não concorre, diz que talvez vote em quem ele estiver apoiando.
Na entrada do terminal de ônibus, o vigia Lúcio Mario, 40, diz estar entre “Josimar” Tatto e Covas. “O Bruno eu acho que foi bem nesse tempo de coronavírus. E ele sempre fez pela saúde aqui”, diz, mencionando o hospital do bairro, inaugurado em 2018.
Ele, assim como a maioria das pessoas ouvidas, não sabia do apoio de Marta ao tucano. Apesar de ser mais um fã da ex-prefeita, diz que isso não será decisivo para sua opção. “O que define o voto é a formação da pessoa, o que ela fala, não quem o candidato tem de apoio”.
Mario diz que descarta Russomanno por causa dos processos trabalhistas que sofre de ex-funcionários. “Eu trabalhei 16 anos numa empresa, estou há um ano tentando receber meus direitos”, afirma.
Sobre Boulos, primeiro responde: “Quem?”. Depois, complementa: “Ouvi falar, mas nunca parei para analisar”.
Atendente de um mercado, Anderson Souza da Silva, 21, é uma das poucas vozes que admitem votar em Russomanno. Diz estar indeciso entre o candidato e Márcio França (PSB).
Silva estudou quatro anos no CEU e, antes da pandemia, utilizava o espaço para lazer aos fins de semana. Sua única queixa é a lotação da piscina. “Se Marta fosse candidata, eu votava. Até gostaria que o PT voltasse, mas não estou vendo muito jeito”, diz.
Seu colega no mercado, Luiz Felipe Chaves, 27, diz que a vida no bairro é sossegada, embora pudesse haver mais policiamento. “O que precisa aqui é uma infraestrutura melhor, para a população não ter de se deslocar tanto atrás de emprego”. Ele se diz indeciso, mas rejeita o PT. “Depois dos escândalos, nunca mais voto”.
A pandemia afetou em cheio um local já repleto de carências. O distrito é o mais pobre de São Paulo, com Índice de Desenvolvimento Humano de 0,68 (a média da cidade é 0,80).
Dona de uma mercearia e uma lan house, “Adaídes Cunha e Silva, 61, diz que só manteve abertos os negócios “por um milagre de Deus”. Os dois estabelecimentos ficam em frente ao CEU, que está fechado. Isso derrubou seu faturamento diário, de até R$ 300 antes da pandemia, para R$ 30.
Ela usou o auxílio federal para pagar os aluguéis, mas diz que isso não significa que votará em Russomanno, apoiado por Bolsonaro. “Do Russomanno até gosto, mas nunca vi ele fazer nada”, diz.
Mesmo sem mandato desde o ano passado, quando deixou o Senado, Marta mantém uma estrutura de apoio na região.
Um de seus articuladores, Fábio Menezes, 50, diz que é preciso reforçar a vinculação com Covas. “Só teve um vídeo que ela fez dando apoio ao prefeito, nem todo mundo teve acesso. Se a Marta visitar Parelheiros com Bruno, a situação dele melhora muito”, diz.
Para Menezes, a ex-prefeita é a única que consegue dividir o eleitorado do PT. “Muita gente me diz que fica com ela independente do partido em que estiver. Mas também tem os petistas. E petista é igual corintiano, vai ser petista até o fim”, diz.
Política
Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
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