ARTUR RODRIGUES E JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com acusações de que a iniciativa é eleitoreira e bate-boca entre vereadores, o projeto de renda básica emergencial avalizado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) começou a ser discutido nesta terça-feira (20) na Câmara Municipal de São Paulo com o apoio do PT, mas sem contemplar o texto original do vereador petista Eduardo Suplicy.
Na semana passada, o tucano candidato à reeleição prometeu uma dobradinha com o petista, defensor histórico da bandeira, ao sinalizar via redes sociais que apoiaria a aprovação de um texto, apresentado por Suplicy no Legislativo em abril, que liberaria o pagamento por causa da pandemia do coronavírus.
Nesta terça, a prefeitura surpreendeu o PT ao apresentar um substitutivo (novo texto) de um projeto de lei sobre o tema enviado pelo Executivo em 2016, na gestão Fernando Haddad (PT). A versão encaminhada para votação desidratava a proposta original e restringia o benefício a um período de três meses.
O projeto foi aprovado em primeira votação com 39 votos a favor e 2 contra. Pelo acordado até o momento, até três pessoas da mesma família poderão receber R$ 100 por três meses, que posteriormente poderiam ser prolongados.
Durante a sessão, Suplicy usou as redes sociais para cobrar Covas e o presidente da Câmara e aliado do prefeito, Eduardo Tuma (PSDB), sobre o descumprimento da promessa. “Infelizmente não é isso [o projeto do petista, endossado por outros vereadores] que está sendo votado”, reclamou Suplicy. Na troca de mensagens públicas, Tuma afirmou na última quarta (14) que o texto seria incluído na pauta desta semana.
O aceno de Covas havia sido interpretado como uma reação ao principal rival na eleição, Celso Russomanno (Republicanos), que tem como bandeira a criação do “auxílio paulistano”, um complemento local do programa federal Renda Cidadã.
O PT também enxergou uma oportunidade de colher dividendos eleitorais com a iniciativa, embora, para isso, tivesse que se alinhar ao PSDB e votar favoravelmente ao projeto.
Para evitar que Covas herdasse sozinho os bônus, o plano era exaltar o protagonismo de Suplicy no tema e deixar claro que, independentemente de divergências políticas, o mais importante era garantir o benefício.
Outras bancadas também decidiram marcar sim à proposta, por concordarem com a necessidade de auxílio a famílias pobres no cenário de crise. O curioso é que, ao mesmo tempo, rivais de Covas na corrida eleitoral dispararam ataques contra a decisão, vista como oportunista.
O próprio candidato do PT, Jilmar Tatto, chamou a iniciativa de eleitoreira e demagógica. “Agora, a um mês da eleição, sabendo que o povo está na miséria, querem implantar. Mas não tem problema, tudo que é para o bem do povo nós somos favoráveis”, disse.
A movimentação de Covas também criou uma saia justa no PSOL e no PSB: enquanto os candidatos Guilherme Boulos e Márcio França faziam críticas a Covas por apoiar a ideia só às vésperas da eleição, já era consenso entre vereadores das duas legendas que o voto favorável seria inevitável.
Depois de ser apresentado por Suplicy, outros vereadores solicitaram coautoria no projeto. Hoje são 29 coautores, de 12 partidos.
O texto chegou a ser colocado para votação três vezes, em julho e em setembro, mas sofreu boicote de vereadores da base de Covas, que deram voto contrário ou não se registraram para votar.
No último fim de semana, a avaliação era a de que, com o novo cenário, o projeto poderia ser aprovado até por unanimidade na Câmara.
A discussão teve uma guinada nesta terça, com a decisão do governo Covas de ressuscitar o texto formulado pela gestão Haddad.
O argumento oficial para descartar a proposta liderada por Suplicy foi a de que, por se tratar de iniciativa que cria despesa para a prefeitura, o assunto só poderia ser legislado por meio de um projeto de autoria do próprio Executivo.
O vereador petista também participou da elaboração desse projeto, na época em que era secretário de Direitos Humanos de Haddad.
Só que, diferentemente da versão original, que previa um programa permanente, a nova se restringia a um pagamento emergencial em decorrência da pandemia. Suplicy afirmou que o projeto havia sido descaracterizado, mas apresentou uma emenda, que não foi aprovada.
A bancada do PSDB usou a sessão para defender Covas e afastar a pecha de eleitoreira que a oposição buscava colar na medida. Em vários momentos, os aliados do prefeito entraram em atrito com vereadores como Antonio Donato (PT) e Alfredinho (PT).
Donato disse que o prefeito fez uma jogada e que, apesar do mérito, não poderia “ignorar a manobra eleitoral”.
Donato propôs emenda para aumentar de duas para três pessoas o número máximo de beneficiados pelo auxílio, o que foi apoiado pela base de Covas após acordo.
A expectativa inicial da prefeitura era gastar R$ 300 milhões para atender 480 mil famílias. No entanto, após a emenda de Donato não foram apresentados novos números.
“É claro que jamais vamos ser contrários a que se conceda qualquer tipo de ajuda a quem precisa”, afirmou Alfredinho. “[Mas] é um projeto eleitoreiro!”
Em outra frente, adversários de Covas já avaliam questionar na Justiça Eleitoral a legalidade do pagamento do benefício em plena campanha.
A legislação proíbe, por exemplo, a distribuição de bens e valores em ano eleitoral, mas em 2020 foram estabelecidas exceções por causa da situação de emergência provocada pela Covid-19.
O vereador Fernando Holiday (Patriota), um dos que votou contra o projeto, fez uma petição para o Ministério Público Eleitoral com o objetivo de barrar a lei. Além disso, entrou com ação na Justiça Eleitoral pedindo suspensão via liminar.
“Vejo como uma tentativa desesperada de assumir a liderança nas pesquisas. Há uma tentativa do Covas de fazer o seu próprio auxílio paulistano. Pretende se mostrar mais eficiente que o Russomanno, mas na prática se trata de uma compra de votos descarada”, afirmou Holiday.
Advogado da campanha de Márcio França, Anderson Pomini também analisa o caso. “Forçar a criação de uma renda básica durante o período eleitoral avança para um ato claramente eleitoreiro.”
“Se a ação pretendida fosse legítima e emergencial, o prefeito já poderia ter implementado independentemente de lei”, diz Pomini.
A campanha de Covas não comentou o assunto. Informalmente, assessores dizem que é preciso esperar a conclusão da votação na Câmara para se ter clareza sobre as condições do programa.
Política
Sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Reforma tributária não é suficiente para solucionar obstáculos da indústria brasileira, diz Meirelles
A reforma tributária não será suficiente para sanar o que Henrique Meirelles aponta como um dos principais obstáculos para a indústria: a carga tributária elevada. O ex-presidente do Banco Central (BC) e ex-ministro da Fazenda ressalta a importância de se simplificar o sistema tributário, mas indica que o projeto em tramitação no Congresso não vai...
Economia
PF indicia os senadores Eduardo Braga e Renan Calheiros por corrupção, diz portal
O ex-senador Romero Jucá também foi indiciado; acusação é de receberem propina de cerca de R$ 20 mi para facilitar no Congresso Nacional pautas favoráveis ao antigo grupo Hypermarcas, hoje Hypera Pharma A Polícia Federal indiciou os senadores Eduardo Braga (AM), líder do MDB no Senado, e Renan Calheiros (MDB-AL) pelos crimes de corrupção passiva,...
Política
Apostas em bets não são investimento ou meio de vida, diz secretário da Fazenda
Em meio ao crescimento acelerado das apostas online no país, o Ministério da Fazenda quer reduzir os riscos de uma epidemia de endividamento e trabalha com limites de apostas e de propagandas, e até mesmo restrições de perfis para tentar conter os gastos excessivos, disse à Reuters o secretário de Prêmios e Apostas do Ministério...
Economia
Nike troca CEO e traz veterano de volta; ação dispara
John Donahue, o CEO da Nike cuja estratégia vinha sendo culpada pelo mau desempenho da ação nos últimos meses, vai pendurar as chuteiras. Para substituí-lo, a Nike recorreu a um veterano com mais de 30 anos na empresa. Elliott Hill deixará a aposentadoria e assume como CEO em 14 de outubro. A notícia, que saiu...
Negócios
Salar de Uyuni: Riqueza é promessa distante na ‘cidade do lítio’ na Bolívia
Região com mais da metade das reservas do mundo de mineral fundamental para uma economia verde é uma das mais pobres do país sul-americano Quem anda pelas ruas da cidade de Uyuni, na Bolívia, porta de entrada da região que abriga as maiores reservas de lítio do mundo, se vê muito distante da discussão sobre...
No Mundo
Wise obtém licença para atuar como Instituição de Pagamento no Brasil
A Wise informou que recebeu licença de Instituição de Pagamento (IP) do Banco Central do Brasil. A autorização concede à fintech conexão direta ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e ao Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI – infraestrutura que viabiliza o Pix), eliminando a necessidade de intermediários. A fintech de contas internacionais já possui conexão...
Negócios
Líder do Hezbollah diz que liderança do grupo escapou de explosões de terça (17)
Combatentes estariam usando modelos de pagers antigos O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, declarou que a liderança do grupo escapou em grande parte das explosões de pagers na terça-feira (17), que matou várias pessoas no Líbano. Nasrallah disse que os combatentes estariam usando dispositivos mais antigos enquanto “os novos foram enviados para outros lugares”. “De qualquer...
No Mundo