Política
Domingo, 19 de maio de 2024

Partido de Marta Suplicy contraria ex-prefeita, rejeita Covas e anuncia apoio a Márcio França em SP

CAROLINA LINHARES E JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Solidariedade, partido da ex-prefeita Marta Suplicy, decidiu nesta quarta-feira (9) que vai procurar o pré-candidato Márcio França (PSB) para apoiá-lo na corrida pela Prefeitura de São Paulo.
A decisão vem após a silga não convencer Marta a lançar uma candidatura própria e nem conseguir emplacá-la como vice de Bruno Covas (PSDB).
Segundo o presidente municipal do Solidariedade, Pedro Nepomuceno, o pré-candidato do PSB é esperado na sede da sigla nesta quinta-feira (10) para o anúncio oficial do apoio.
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, a aliança com França desagrada a Marta, que já definiu seu apoio à reeleição do prefeito Covas, independentemente da posição do Solidariedade.
Com a falta de um acordo, a ex-senadora e ex-ministra não deve participar da convenção do Solidariedade, marcada para domingo (13).
Após a convenção, Marta cogita se desfiliar da atual sigla. A ex-prefeita chegou à legenda em abril deste ano, depois de passar pelo MDB (entre 2015 e 2018). Antes, ficou 33 anos no PT.
Articulador político e marido de Marta, Marcio Toledo almoçou com líderes do Solidariedade nesta quarta, quando indicou o endosso da ex-prefeita a Covas e deixou clara a discordância dela com o apoio a França.
Na opinião de Marta, a coligação de Covas, com dez partidos, representa uma frente ampla em defesa da democracia e pode construir um caminho de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido), no plano nacional, em 2022. A construção dessa coalizão é uma bandeira dela desde que deixou o MDB.
O apoio da ex-prefeita ao postulante à reeleição não depende de que Marta seja candidata a vice do tucano, opção hoje descartada pelo PSDB. Entre os tucanos, o apoio da ex-prefeita a Covas, independentemente de ocupar posição na chapa, é tido como certo e bem-vindo.
O PSDB, no entanto, também esperava que o Solidariedade apoiasse Covas. Mas a saída do partido acabou sendo minimizada por aliados do prefeito, já que a coligação tem o maior tempo de TV de qualquer forma.
Nepomuceno, que faz parte da gestão Covas como prefeito regional de Santana/Tucuruvi, afirma que irá entregar seu cargo e que está fechado com França.
“Defendemos essa posição de centro-esquerda na eleição em São Paulo. Vamos construir um caminho novo com Márcio França. Foi uma decisão da maioria. A direção do partido entendeu ser melhor assim”, diz o dirigente municipal.
Ele afirma que o Solidariedade se sentiu desprestigiado na construção da coligação de Covas e se vê mais valorizado ao lado de França. À espera de uma comunicação oficial, o ex-governador não se manifestou nesta quarta sobre o possível novo aliado, com o qual já vinha dialogando.
Nepomuceno lembra que Marta foi filiada com a intenção de ser candidata a vice de Fernando Haddad (PT), plano que acabou frustrado porque o ex-prefeito resolveu não concorrer. Como ela se recusou a caminhar com outro nome petista, o Solidariedade a queria como candidata própria, o que ela descartou.
O caminho, então, passou a ser Marta como vice de Covas, ideia que era bem vista no Solidariedade e agradava à própria ex-prefeita, mas que acabou vetada pelo PSDB, preocupado que o histórico dela no arquirrival PT provocasse um estrago eleitoral.
“Marta precisa ser ouvida sempre, pelo tamanho que ela tem, mas nenhuma opção se viabilizou. Não nos sentimos prestigiados pelo PSDB”, afirma Nepomuceno.
Da parte da ex-prefeita, o discurso é o de que, desde sua filiação à legenda, estava pactuado que seu papel não seria necessariamente o de aparecer nas urnas, mas o de apoiar uma frente ampla -que hoje ela vê fortalecida em torno de Covas, tido com o atual favorito da disputa.
Ao entrar no Solidariedade, no início deste ano, Marta também indicou que o partido deveria se reposicionar na esfera federal, afastando-se do centrão e se alinhando aos progressistas. A ex-prefeita considera que a promessa foi descumprida.
Marta vinha dizendo que, na época da filiação, o partido se comprometeu a seguir suas decisões na eleição municipal e, por isso, esperava que seu apoio a Covas fosse abraçado pela cúpula do Solidariedade, o que lhe rendeu uma segunda decepção.
Aliados dela atribuem a decisão do Solidariedade à aproximação do presidente nacional do partido, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), com o centrão que orbita Bolsonaro. França se encontrou em agosto com o presidente e busca votos de seus apoiadores em São Paulo.
A postura ambígua do ex-governador, que tem evitado fazer críticas diretas ao governo federal, é a razão apontada por Marta para rejeitar apoiá-lo e para discordar de Paulinho. Procurado, o dirigente nacional não quis se manifestar.
Nepomuceno, por sua vez, rejeita essa análise. “Isso é especulação. Bolsonaro não pesou na decisão. Até porque hoje o centrão está na coligação de Covas em São Paulo”, diz. Covas é apoiado por DEM, MDB, PL, PP, Pros, Podemos, PSC, PV e Cidadania.
Nos bastidores, membros da campanha de França buscavam atrair o Solidariedade na expectativa de também engordar seu tempo de propaganda na TV. O pré-candidato do PSB já tem o apoio de PDT, Avante e PMN.
Se mantivesse o plano de aderir a Covas, o partido de Marta teria pouco a acrescentar na soma, já que a lei determina que o tempo reservado a uma coligação só leva em conta os seis maiores partidos da coalizão, cálculo que já excluiria os segundos acrescentados pelo Solidariedade.
Mesmo com a saída do Solidariedade, há o entendimento de que Marta fará campanha para o tucano. No PSDB, o apoio é comemorado e visto como menos arriscado do que sua participação na chapa como vice.
Apoiadores de Covas avaliam que a adesão da ex-prefeita demonstra que o arco de alianças em torno dele é amplo, numa frente que vai da esquerda ao centro. Marta também é vista como um ativo eleitoral importante por ter deixado marcas sociais em sua gestão (2001-2004) e dialogar com a periferia.
A ex-prefeita usa a seu favor, ainda, o histórico de alianças com o clã Covas. Em 1998, ela, à época no PT, declarou apoio a Mário Covas (PSDB), avô do atual prefeito, na eleição para o governo estadual em 1998. Dois anos depois, em 2000, foi o tucano quem declarou voto nela, na disputa pela prefeitura paulistana.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Marta fez, pelo menos até janeiro deste ano, críticas à gestão de Bruno Covas -depois substituídas por afagos de parte a parte. No passado, ela também teve rusgas com o avô dele, superadas nas duas ocasiões em nome de uma união para deter vitórias do então candidato Paulo Maluf.
Na campanha de Jilmar Tatto (PT), o apoio da ex-prefeita ao adversário tem sido tratado como algo até natural diante das candidaturas colocadas hoje. O petista pretende explorar legados do partido na cidade, o que inclui a gestão de Marta, com os CEUs (Centros Educacionais Unificados) e o Bilhete Único.
Na visão de setores do PT, o impacto causado por Marta é bem menor como mera apoiadora do que como candidata a vice ou a prefeita.
“Não compromete nosso discurso do legado. É um legado do PT. Os secretários dela, como o próprio Jilmar, eram do PT”, afirma o deputado estadual José Américo (PT). “Não vamos tirar o que é mérito dela, mas também não vamos tirar o que é nosso.”
“[O apoio de Marta a Covas] Reforça que a candidatura do PT, do Jilmar, apoiada pelo Lula, que foi quem polarizou com Bolsonaro neste Sete de Setembro, tem tudo para se firmar como a principal candidatura de oposição a Bruno Covas e ao bolsonarismo”, diz o deputado federal Alexandre Padilha (PT).