FABIANE SECCHES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Se alguém pudesse nos olhar do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que andam apressadas, suadas e exaustas e também veria suas almas, atrasadas e perdidas no caminho por não conseguirem acompanhar seus donos”, diz uma mulher ao protagonista de “A Alma Perdida”, conto da polonesa Olga Tokarczuk, laureada com o Nobel de Literatura de 2018.
O protagonista é João, um homem que, andando depressa, acabou perdendo a alma no caminho. Quando esquece até o nome, passa por uma consulta com essa espécie de médica nada ortodoxa.
“A Alma Perdida” é um livro infantil, mas também uma ótima leitura para pessoas de todas as idades. No plano simbólico, ao menos para os adultos, a interpretação é tão direta que poderia empobrecer a experiência literária. Por isso, o maior desafio da obra talvez tenha sido o de desenrolar o enredo de maneira vivaz, fazendo uma costura entre a dimensão mítica e a concreta.
Mas, em poucas páginas, Tokarczuk e a ilustradora Joanna Concejo nos apresentam não só a ação –que é quase nenhuma, pois essa é a premissa–, como representam, esteticamente, o descompasso entre mundo externo e mundo interno que marca tanto a vida de João quanto a nossa.
O livro recupera o sentido etimológico do termo “alma” – do latim, animu ou anima, que significa o que anima, o que dá vida– em oposição a automatização, uniformização e segmentação próprios da atualidade. No conto, a explicação para o divórcio entre a pessoa e a alma é a de que “a velocidade com que as almas se movimentam é muito menor do que a dos corpos”.
Então, o conselho que João recebe da velha sábia é “achar um lugar só para si, sentar-se e aguardar com paciência a sua alma”. “Ela deve estar, neste momento, no lugar onde você passou há dois, três anos.”
Com um pouco de humor e melancolia, a fábula encontra um tom híbrido equilibrado.
A desaceleração que então passa a ocorrer no campo do enredo também se dá no campo da linguagem. O livro, que começa com páginas recheadas de texto, vai sendo tomado por ilustrações bucólicas detalhadas, entrecortadas por uma ou outra frase, como se o tempo estivesse se distendendo e, assim, nós também estivéssemos tomados pela lentidão, à espera da alma junto com o protagonista.
Mas, se ainda não podemos enterrar relógios para ver nascer flores, como faz João, talvez possamos observar as páginas sem pressa, com atenção e presença, contemplando as imagens que vão contando, de forma poética, uma parte dos “muitos dias, semanas, meses” em que a alma do protagonista fez o caminho de volta e de como ele mesmo foi se preparando para a receber.
Com sorte, pelo brevíssimo intervalo em que estivermos lendo essa beleza que é “A Alma Perdida”, quem sabe não reencontremos a nossa.
Cultura
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