Política
Domingo, 19 de maio de 2024

Em SP, Marta quer que partido apoie Covas

JOELMIR TAVARES E CAROLINHA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com um almoço marcado com Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, nesta quarta (9), para definir os rumos do partido na eleição em São Paulo, a aposta da sigla, ex-prefeita Marta Suplicy, está decidida a apoiar Bruno Covas (PSDB) em sua campanha à reeleição.
O apoio não depende de que Marta seja a vice, opção praticamente descartada. Entre tucanos, o endosso da ex-prefeita já é tido como certo.
O PSDB prevê em sua convenção, no sábado (12), aprovar a coligação de apoio a Covas com o Solidariedade registrado entre os partidos aliados -embora a convenção da sigla de Marta esteja marcada para o dia seguinte.
Na cúpula do Solidariedade, porém, há resistência a apoiar Covas. O partido tentará, no encontro com Marta, convencê-la a ser candidata. Da parte da ex-prefeita, por sua vez, há clareza de que, desde sua filiação à legenda, estava pactuado que seu papel não seria necessariamente o de aparecer nas urnas, mas sim o de apoiar uma frente ampla.
Tal frente, construída em 2020, serviria de base para um acerto entre partidos com vistas a derrotar Jair Bolsonaro em 2022. Hoje, Marta enxerga esse potencial na coligação de Covas e entende que o Solidariedade deveria seguir o caminho de apoiá-lo.
Entre os dirigentes do Solidariedade, diante da recusa de Marta em concorrer, admite-se uma composição com o PSDB, até porque o presidente municipal do partido, Pedro Nepomuceno, faz parte da gestão, como subprefeito.
Ao mesmo tempo, porém, Paulinho tem demonstrado uma aproximação com partidos do centrão e a candidatura de Márcio França (PSB), o que desagrada a ex-prefeita. França tem sido questionado no campo da esquerda por seu flerte com Bolsonaro.
Ao se filiar ao Solidariedade, Marta indicou que o partido deveria se reposicionar na esfera federal, afastando-se do centrão e se alinhando ao campo progressista. A ex-prefeita considera que a promessa não foi cumprida.
Caso Paulinho não honre o segundo compromisso, de apoiar a frente ampla indicada por Marta, a ex-prefeita cogita até romper com o Solidariedade. Procurado pela reportagem, o deputado não se manifestou.
Nepomuceno, por sua vez, diz que a candidatura própria de Marta seria o melhor caminho e que qualquer movimento do partido depende da reunião com ela nesta quarta.
A oito dias do fim do prazo de convenções, essas não são as únicas peças se movimentando no xadrez eleitoral paulistano.
A confirmação da candidatura de Celso Russomanno (Republicanos) a prefeito, o eventual apoio de Bolsonaro e o nome a ser escolhido como vice de Covas também movimentam os bastidores em uma semana decisiva.
Na quarta-feira que vem (16) termina o prazo dado pela Justiça Eleitoral para que os partidos realizem as convenções para sacramentar os competidores que apresentarão no pleito ou eventuais coligações.
No caso de Russomanno, a oficialização da candidatura é tida como dúvida por adversários e até por aliados. O parlamentar vinha se mostrando avesso à ideia de participar pela terceira vez da disputa.
Sua entrada, no entanto, é a que tem maior potencial para embaralhar as intenções de voto, sobretudo se um apoio de Bolsonaro vier a se consolidar –apesar do discurso do presidente de que não se envolverá com campanhas no primeiro turno.
Na semana passada, Russomanno teve três encontros com Bolsonaro. No sábado (5), apareceu ao lado do presidente em visita à obra na pista do aeroporto de Congonhas.
De acordo com pessoas próximas ao deputado, Bolsonaro não lhe prometeu nada, mas a possibilidade de apoio é grande, sobretudo se ele chegar à segunda fase da disputa.
Alinhado ao Planalto e ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o Republicanos abriga dois filhos do presidente –o senador Flávio e o vereador Carlos, no Rio.
Russomanno é visto ainda como a opção mais competitiva para Bolsonaro em São Paulo. Outros nomes simpáticos ao bolsonarismo, como Levy Fidelix, do PRTB do vice-presidente Hamilton Mourão, e Marcos da Costa, do PTB de Roberto Jefferson, são considerados nanicos.
No entanto, Russomanno tem histórico de largar na frente na corrida eleitoral, mas desidratar –terminou em terceiro em 2012 e em 2016.
No comitê de Covas, as discussões envolvendo a definição do vice esquentaram nos últimos dias, com uma disputa velada entre partidos da coligação. MDB e Democratas, as duas legendas mais fortes da coalizão, reivindicam o posto.
Nesse contexto, Ricardo Nunes (MDB) é um dos cotados.
Por outro lado, alas do PSDB defendem uma chapa pura, com uma dupla tucana. Aí Ricardo Tripoli é o favorito.
A chance de uma composição com o Republicanos também está no horizonte, caso as conversas entre os dois grupos avancem. Tucanos afirmam, no entanto, que dificilmente haverá uma composição em que Russomanno seja o candidato a vice.
Já Marcos Alcântara, presidente do Republicanos em São Paulo, reafirma a intenção de confirmar a candidatura de Russomanno no dia 16 (último dia possível) e diz que as portas estão abertas para formar uma coligação que apoie a campanha.
“Nossa campanha é sólida. Não tem volta. Russomanno não foi vice das outras vezes. Nossa possível composição com outros partidos é para fortalecer a candidatura dele, até quem sabe algum partido indicar um vice. Também estamos prontos caso a campanha seja de chapa pura”, diz.
Outra definição prevista para a semana é a vice de Jilmar Tatto (PT). O partido, que faz sua convenção também no sábado, já bateu o martelo que a vaga será de uma mulher, de preferência negra e militante em temas caros aos petistas.
Carmen Silva, coordenadora do Movimento Sem Teto do Centro, chegou a ser sondada, mas a princípio recusou. O nome mais cotado hoje é de Selma Rocha, historiadora ligada à Fundação Perseu Abramo.
Embora muitas dúvidas sobre as negociações partidárias ainda permaneçam, alguns pontos começam a ganhar contornos mais definidos.
A Rede, que vinha fazendo mistério, anunciou nesta terça (8) ter escolhido como pré-candidata a deputada estadual Marina Helou. O partido, que agendou sua convenção para o dia 15, ainda poderá se aliar a outra legenda, hipótese agora considerada remota. As tentativas de acordo com o PC do B (que tem o deputado federal Orlando Silva como candidato) esfriaram.
Orlando vinha cogitando Helou para a vaga de vice.
As conversas, segundo ela, dizem respeito também à decisão sobre quem a acompanhará na chapa. Se não houver aliança, a cadeira será preenchida com alguém dos próprios quadros do partido.
A Rede exaltou Helou como uma mulher progressista e afirmou que sentiu falta de uma postulante com esse perfil na corrida pela prefeitura.
“A cidade de São Paulo precisa de uma candidata que saia da velha armadilha da polarização”, disse no ato desta terça a ex-senadora e ex-presidenciável Marina Silva, fundadora da Rede.