Cultura
Sábado, 20 de abril de 2024

Documentário sobre Tarantino mostra bastidores saborosos

IVAN FINOTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Como diz o nome, “Quentin Tarantino: Os Oito Primeiros” traça um panorama dos oito primeiros filmes do diretor. E como é comum em documentários desse tipo, o filme é um veículo para que todos os entrevistados -especialmente produtores e atores- despejem elogios e chamem o objeto de estudo de nada menos que “gênio”.
Feita essa pequena ressalva, “Os Oito Primeiros” é um entretenimento interessante para quem gosta de cinema e de seus bastidores. Os atores que aparecem dando entrevista à diretora Tara Wood são aqueles que frequentam os filmes de Tarantino: Samuel L. Jackson, Christoph Waltz, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, Lucy Liu, Jennifer Jason Leigh e mais alguns.
O filme se divide em três partes, abordando a carreira do diretor de forma temática. O capítulo um se chama “A Revolução” e começa falando dos roteiros iniciais de Tarantino, como “Amor à Queima-Roupa” (dirigido por Tony Scott em 1993) e “Assassinos por Natureza” (Oliver Stone em 1994).
Seu primeiro filme, que o tornou uma estrela em Cannes, foi “Cães de Aluguel”, de 1992. Já “Pulp Fiction”, de 1994, levou a Palma de Ouro no mesmo festival.
Não faltam curiosidades sobre essas primeiras filmagens. Michael Madsen, por exemplo, conta como Tarantino pediu para todos os atores chegarem no estúdio com seus próprios ternos pretos e camisas brancas. Havia pouco dinheiro para o figurino, e apenas as gravatas foram compradas e distribuídas.
“Cães de Aluguel” também marca o início da colaboração e amizade de 25 anos de Tarantino com os donos da Miramax, Harvey Weinstein e seu irmão Bob. Os oito filmes apresentados no documentário foram produzidos pela Miramax.
Tarantino rompeu publicamente com Weinstein após a revelação, em 2017, de seus casos de assédio, abuso sexual e estupro contra dezenas de atrizes. O documentário nota que “Era uma Vez em… Hollywood”, de 2019, é o primeiro sem o estúdio que caiu em desgraça -em seu lugar, entrou a Sony.
Esse início de carreira também marca um interessante jogo de personagens e objetos que se intercambiam entre as obras do diretor. Você sabia que o sedutor gângster Vincent Vega, de “Pulp Fiction”, é irmão de Vic Vega, o bandido que tortura e arranca a orelha do guarda em “Cães de Aluguel”?
Os cigarros Red Apple e o hambúrguer Big Kahuna, que nascem em “Pulp Fiction”, são exemplos de produtos inventados pelo diretor que povoam diversos outros de seus filmes, seja sendo fumados e comidos, seja em anúncios e outdoors exibidos na tela.
“Jack Brown” (1997), “Kill Bill” (2003 e 2004) e “À Prova de Morte” (2007) formam o segundo capítulo do documentário, que tem dois títulos: “Mulheres Casca-Grossa e Gêneros”. Está claro que mulheres fortes são as protagonistas dos três filmes e também a adaptação de gêneros segundo a visão Tarantino: um filme de blaxpoitation (crime e pancadaria com atores negros como protagonistas), um filme de kung-fu e outro de terror/suspense/serial killer.
O bastidor mais marcante dessa época foi o que abalou a amizade e parceria com Uma Thurman.
Convencida por Tarantino a dirigir um carro mexido no lugar da dublê, ela bateu e teve lesões permanentes no pescoço e joelho. Ela pediu as imagens e a Miramax não entregou, causando, ao que parece, um mal-estar irreconciliável.
O último capítulo se chama “Justiça”, mas poderia se intitular “Filmes de Época”. É quando temos o filme de Segunda Guerra “Bastardos Inglórios” (2009) e os faroestes “Django Livre” (2012) e “Os Oito Odiados” (2015).
Tarantino já falou diversas vezes que vai dirigir apenas dez filmes na carreira. Após “Era uma Vez em… Hollywood”, só falta um.