LUCAS ALONSO
BAURU, SP (FOLHAPRESS) – A Guerra Fria 2.0 entre Estados Unidos e China ganhou novos contornos de crise diplomática nesta sexta-feira (24). Cumprindo a promessa de retaliação ao governo de Donald Trump, o Ministério das Relações Exteriores chinês ordenou o fechamento do consulado americano em Chengdu, no sudoeste do país.
A determinação de Pequim é uma resposta à ordem dada pelos EUA na última terça-feira (21) de fechar o consulado chinês em Houston, no estado do Texas. Para Pequim, uma reação “legítima e necessária ao ato injustificado” do governo americano.
“Os EUA violaram seriamente o direito internacional, as normas básicas das relações internacionais e os termos da Convenção Consular China-EUA”, diz o comunicado do ministério chinês. “Prejudicaram gravemente as relações China-EUA.”
“A situação atual nas relações China-EUA não é o que a China deseja ver, e os EUA são responsáveis por tudo isso. Mais uma vez, pedimos aos EUA que retirem imediatamente sua decisão errada e criem condições necessárias para trazer o relacionamento bilateral de volta aos trilhos.”
O porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, acrescentou que alguns membros do consulado em Chengdu estavam “realizando atividades que não estavam de acordo com suas identidades”.
Além disso, os funcionários americanos teriam, segundo Wang, interferido em assuntos da China e prejudicado interesses de Pequim na área da segurança.
De acordo com uma publicação de Hu Xijin, editor do Global Times, jornal controlado pelo Partido Comunista Chinês, o prazo para o fechamento da unidade diplomática em Chengdu é de 72 horas, mesmo período estabelecido pelo governo americano para o fim das atividades do consulado chinês em Houston.
Na ocasião, Hu considerou o prazo abrupto uma “manifestação de pânico” do governo Trump.
Inaugurado em 1985, o consulado em Chengdu tem quase 200 funcionários, incluindo cerca de 150 contratados localmente, de acordo com seu site. Parte dos diplomatas americanos, contudo, deixou a China nos estágios iniciais da pandemia do novo coronavírus.
Em 2013, a China exigiu explicações de Washington sobre um programa de espionagem, depois que Edward Snowden divulgou um mapa ultrassecreto com instalações de vigilância dos EUA em embaixadas e consulados de todo o mundo -inclusive no posto diplomático em Chengdu.
A mesma unidade, em 2012, foi o local para onde Wang Lijun, um alto funcionário do regime chinês, fugiu de Bo Xilai, ex-secretário-geral do Partido Comunista chinês. Em 2013, Bo foi condenado à prisão perpétua por corrupção, abuso de poder, recebimento de suborno e por tentar encobrir um assassinato cometido pela esposa.
Além de Chengdu, os EUA mantêm unidades também em Cantão, Shenyang, Wuhan e Xangai, além de mais um consulado em Hong Kong e a embaixada em Pequim.
Já a diplomacia chinesa nos EUA segue representada por outros quatro consulados localizados em Chicago, Los Angeles, Nova York e San Francisco, além da embaixada na capital, Washington.
Em comparação, o Brasil possui dez consulados em território americano, além da embaixada. Na China, são dois consulados, em Cantão e Xangai, e a embaixada em Pequim.
De acordo com a agência de notícias Reuters, o regime de Xi Jinping considerava o fechamento do consulado americano em Wuhan, cidade onde foi confirmado o primeiro caso da Covid-19. A unidade em Chengdu, porém, tem significado diferente para a estratégia americana em território chinês.
“O consulado de Chengdu é mais importante que o de Wuhan porque é onde os EUA reúnem informações sobre o desenvolvimento do Tibete e da China de armas estratégicas nas regiões vizinhas”, disse Wu Xinbo, professor e especialista em estudos americanos da Universidade Fudan, em Xangai.
Para Jeff Moon, cônsul-geral dos EUA em Chengdu entre 2003 e 2006, a decisão da China indica uma opção “por continuar aumentando o conflito, em vez de pausar ou acalmar as tensões”.
“Se a China tivesse fechado o consulado de Wuhan, o assunto poderia ter sido encerrado, porque o problema em Wuhan era a China impedindo que diplomatas americanos retornassem ao país após o surto de Covid-19”, disse Moon à CNN americana.
Na prática, com o fechamento em Chengdu, os EUA ficam com dois consulados a menos, já que a unidade em Wuhan foi quase totalmente esvaziada no início da pandemia.
O novo coronavírus acirrou ainda mais a Guerra Fria 2.0 entre China e Estados Unidos.
Na terça-feira (21), o Departamento de Justiça dos EUA acusou dois hackers chineses de roubar informações sobre projetos de vacina contra a Covid-19 e de violar a propriedade intelectual de empresas nos EUA e em outros países.
Os americanos, com Trump à frente, passaram meses insinuando que os chineses haviam liberado o novo coronavírus, acidentalmente ou não, de um laboratório em Wuhan.
Já autoridades de Pequim chegaram a afirmar que uma delegação militar americana havia dispersado o patógeno durante competição esportiva na cidade onde a Covid-19 surgiu.
Hoje os EUA são o país mais afetado pela pandemia, com mais de 4 milhões de casos, enquanto a China estacionou e conta pouco mais de 86 mil infecções.
Em um discurso nesta quinta-feira (23), o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que Washington e seus aliados devem usar “maneiras mais criativas e assertivas” para pressionar o Partido Comunista Chinês a mudar de atitude. Disse ainda que essa era a missão dos EUA.
“Devemos admitir uma dura verdade que deve nos guiar nos próximos anos e décadas: se queremos ter um século 21 livre, e não o século chinês com o qual Xi Jinping sonha, o velho paradigma do compromisso cego com a China simplesmente não será feito”, disse Pompeo. “Não devemos continuar e não devemos voltar a ele.”
No Twitter, Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, acusou o secretário de Estado americano de “lançar uma nova cruzada contra a China”.
“O que ele está fazendo é tão fútil quanto uma formiga tentando sacudir uma árvore”, escreveu. “Está na hora de todas as pessoas que amam a paz avançarem para impedi-lo de causar mais danos ao mundo.”
As relações entre Washington e Pequim deterioraram-se acentuadamente neste ano em uma série de questões, desde comércio e tecnologia, reivindicações territoriais chinesas no mar da China Meridional e a repressão a Hong Kong por meio de uma nova lei de segurança nacional, criticada dentro e fora do território por ameaçar as liberdades individuais.
Internacional
Quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
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