NATÁLIA CANCIAN E GUSTAVO URIBE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo nomeou nesta quinta-feira (18) o médico Hélio Angotti Neto para o cargo de secretário de ciência, tecnologia e insumos estratégicos do Ministério da Saúde, área voltada ao monitoramento do resultado de estudos clínicos e inclusão de novos medicamentos no SUS.
Desde o início do último ano, Angotti ocupava o cargo de diretor do departamento de gestão de educação em saúde na secretaria de gestão do trabalho na saúde, chefiada por Mayra Pinheiro, de quem é braço direito.
Nos últimos dias, a equipe de Pinheiro tem assumido a defesa da ampliação da oferta de cloroquina e hidroxicloroquina, remédios indicados para malária, usados também no tratamento da Covid-19. Ainda não há, porém, evidências científicas de eficácia.
Formado em medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo e especialista em oftalmologia pela Universidade de São Paulo, Angotti é autor de livros sobre medicina, filosofia e bioética. Nas obras, costuma se posicionar contra o aborto.
A maioria dos livros é publicado pela Monergismo, editora que, em seu site, afirma ter como objetivo publicar obras acadêmicas e populares que “exaltam o poder e glória de Deus”.
Nas redes sociais, o novo secretário se descreve como “cristão, pai de família, médico, gestor, escritor e pesquisador”.
Também costuma fazer referências frequentes a Olavo de Carvalho e replicar postagens de outros membros “olavistas” no governo, como o assessor especial da Presidência da República Filipe Martins.
A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta (18), e assinada pelo ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto.
A publicação ocorre pouco mais de uma semana após o bilionário Carlos Wizard, que havia sido convidado para o cargo, afirmar que deixaria o Ministério da Saúde, onde já despachava como consultor.
Wizard virou alvo de críticas após afirmar que a pasta pretendia mudar os critérios para contagem de mortes por Covid-19. Sem apresentar provas, ele disse desconfiar que os números estavam inflados – especialistas, porém, apontam subnotificação.
Três dias antes de ser nomeado para o cargo, Angotti participou de uma coletiva de imprensa do Ministério da Saúde para anunciar a ampliação da oferta de cloroquina e hidroxicloroquina também para grávidas e crianças com sintomas de Covid-19.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que a FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA) revogou o uso emergencial do medicamento. Ao comunicar a decisão, a agência alegou que, com base em novos dados, avaliava que não era mais razoável acreditar que a cloroquina e a hidroxicloroquina poderiam ser eficazes no tratamento da doença.
Angotti afirmou que a decisão da FDA seria analisada pela pasta, mas que a análise da agência levava em conta apenas o uso para pacientes em estado grave.
As orientações atuais do ministério, no entanto, valem tanto para pacientes com sintomas leves, moderados ou graves, de acordo com os últimos documentos publicados.
Na coletiva, Angotti defendeu a ampliação, afirmando que o cenário “muda muito rápido” e que a pasta tem visto “indícios cada vez mais fortes” de benefícios dos medicamentos para uso precoce. O ministério não apresentou quais seriam essas referências.
Em nota divulgada após o anúncio da ampliação, a Sociedade Brasileira de Pediatria reforçou a recomendação de que médicos não indiquem o medicamento a crianças fora de estudos clínicos devido a possíveis riscos.
Nesta semana, a Organização Mundial de Saúde também suspendeu estudos com a cloroquina.
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