Negócios
Quinta-feira, 25 de julho de 2024

Na Via, um novo plano de austeridade

Renato Franklin quer recolocar a varejista numa trilha sustentável até 2025

Sob nova liderança desde abril, quando iniciou uma reestruturação de sua diretoria, a empresa Via está lançando uma estratégia para reverter a recente queima de caixa e recuperar sua lucratividade. Essas questões têm sido alvo de críticas do mercado nos últimos anos. Recentemente, a equipe liderada por Renato Franklin propôs um conjunto de medidas mais rigorosas, algumas já em execução e outras planejadas, que visam reformular a direção da empresa até 2025.

A Via, que detém as marcas Casas Bahia e Ponto (anteriormente Pontofrio), já reduziu sua estrutura organizacional em 25%, resultando na eliminação de seis mil postos de trabalho até agosto – quase 15% de sua força de trabalho total. Além disso, a empresa planeja fechar 30 lojas adicionais, além das 20 já encerradas. A possibilidade de fechamento de outras 50 lojas também está sendo considerada, dependendo dos resultados. Isso equivale a cerca de 10% das lojas existentes até o final de 2022.

Renato Franklin, que anteriormente liderou a Movida por quase uma década, enfatiza que o foco do grupo varejista está na redução dos riscos operacionais. Isso envolve concentrar os recursos e a equipe nas áreas em que a empresa possui maior competência, buscando eficiência operacional e geração de caixa.

“Nós identificamos as fontes de receita de rápida obtenção e as exploraremos. Aquilo que não for lucrativo será deixado para depois. Estamos revisando projetos, estruturas de custo e prioridades. Nosso objetivo é adotar medidas para alcançar um fluxo de caixa positivo. Posteriormente, em uma segunda fase, poderemos direcionar recursos para um projeto mais amplo de crescimento”, afirma Franklin. “Embora a empresa tenha um potencial maior, não vou prometer algo que não posso entregar no momento. Primeiro, precisamos melhorar o balanço e reconquistar a confiança do mercado.”

No que diz respeito aos custos fixos, o plano inclui o fechamento de até 100 lojas com margens negativas, revisão de contratos de locação e medidas para aprimorar a produtividade nos centros de distribuição. Isso está projetado para gerar um aumento de R$ 240 milhões no lucro antes dos impostos e contribuições sociais. Além disso, aproximadamente R$ 370 milhões serão economizados com a revisão da equipe corporativa, incluindo a demissão de diretores já anunciada, e mais R$ 200 milhões serão economizados em gastos de marketing. Adicionalmente, espera-se um acréscimo de R$ 250 milhões através de medidas para aumentar a penetração do carnê do grupo.

No que tange ao estoque, a empresa pretende reduzir o nível para 90 dias de vendas, após ter alcançado mais de 140 dias em 2021 devido à crise global de abastecimento na época. No segundo trimestre deste ano, o estoque fechou em 98 dias. Embora a liquidação em curso possa impactar as margens, isso ajudará a diminuir os custos fixos de capital, segundo o CEO.

A Via também planeja abandonar 23 categorias de produtos que, apesar de apresentarem boas vendas, não são rentáveis devido aos altos custos de parcelamento e marketing. Franklin afirma que essas categorias serão transferidas para um modelo de marketplace (3P), liberando assim cerca de R$ 150 milhões em estoque.

Um analista que avaliou rapidamente as medidas descreve a situação como uma “freagem estrutural”, destacando que, embora algumas dessas medidas já tenham sido tomadas no passado, essa reestruturação é mais profunda. Embora a empresa já tenha passado por cortes e fechamento de pontos, essas mudanças representam uma reavaliação mais substancial.

Quanto a uma possível oferta pública de ações para recuperar capital de forma mais rápida, Franklin enfatiza que, dado o atual cenário em que a empresa ainda não está gerando resultados positivos, esse caminho não é viável. “Exploramos todas as opções de captação de recursos, mas não é o momento adequado para uma oferta subsequente no mercado”, declara o CEO, adotando uma abordagem realista.

Em relação à estrutura de capital, a empresa está reformulando o modelo de financiamento do crédito ao consumidor por meio de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), em vez de depender exclusivamente de bancos. Essa mudança tem o potencial de liberar até R$ 5 bilhões em recursos. A Via também está monetizando ativos, prevendo um total de até R$ 4 bilhões, com mais da metade desse valor oriundo de créditos fiscais.

O “Plano de Transformação 2025” foi divulgado simultaneamente ao balanço do segundo trimestre, evidenciando a urgência de uma abordagem mais sustentável. A empresa registrou um prejuízo de R$ 492 milhões, acumulando perdas próximas a R$ 800 milhões na primeira metade do ano.

Fonte: Pipeline Valor