Política
Sábado, 12 de julho de 2025

Sai o “nós contra eles”, entram os gatinhos; comunicação do governo fica mais eficaz?

Trackings encomendados pelo Planalto apontam melhora de 2 pontos percentuais de aprovacão do presidente, depois da campanha nas redes

Em meio ao confronto com o Congresso Nacional sobre a questão tributária, especialmente com os parlamentares da oposição, o governo federal mudou sua estratégia de comunicação. Ainda na linha do confrontamento entre pobres e ricos, passou divulgar vídeos e memes nas redes sociais com imagens de gatinhos para explicar sua posição em relação às mudanças no IOF e na proposta de zerar o IRPF para quem ganha até R$ 5 mil. A pergunta é: a estratégia pode funcionar num momento de descrédito?

    Para o coordenador do curso de publicidade e propaganda do Ibmec-RJ, Victor Azevedo, a efetividade da nova estratégia é, no mínimo, duvidosa. “O governo federal usando meme, para uma coisa ou outra, tudo bem. Mas não para assuntos que são mais sérios, nos quais a população está realmente precisando entender do que se trata”, explica.

    Num dos posts, o governo explicou: “a gente viu esse tipo de formato fofo, narrativo e memético circulando em diferentes redes e resolveu aplicar no “Gov” também, para explicar de forma lúdica e acessível a proposta de atualização das regras do IR”.

    Em outra postagem, as peças da Secretaria de Comunicação Social (Secom) fizeram uma analogia entre a relação de forças das diferentes faixas de renda. Segundo o texto, “nesse cabo de guerra, o governo federal tem lado: o lado da classe média e do povo trabalhador que movem o nosso país.”

    Segundo Azevedo, para falar bem de algo precisa de um “ataque direto”, para demonstrar coerência no que está sendo dito e tirar as possíveis mentiras ou inconsistências. Já falar mal reverbera mais do que falar bem, disse o especialista.

    Mas quando a informação é utilizada pela oposição, isso tem mais audiência, independente de estar certo ou errado. Ou seja, a a oposição, segundo ele, está no papel dela. “Está colocando o que ela acha com relação o respeito daquilo, independente se está certo ou errado”, avalia o professor.

      Ate então, o governo não vinha conseguindo emplacar um discurso nas redes e perdia feio para a implacável produtividade da oposição. A Secom fez, então, uma tentativa de adequação de discurso, formato e estética ao que é mais simpático para as redes.

      Desta vez, a narrativa já se reflete numa leve recuperação da popularidade do presidente Lula. Trackings encomendados pelo Planalto apontam melhora de 2 pontos percentuais de aprovacão do presidente em relação a levantamentos anteriores.

      Até aqui, o Planalto comemora ter conseguido sair da defensiva nas redes e, finalmente, ter a chance de pautar o debate, pela primeira vez neste terceiro mandato.

      Por outro lado, há um certo receio de que a ofensiva prejudique ainda mais a relação com o Congresso. A oposição acusa o governo de resgatar o antigo discurso de “nós” contra “eles.

      Segundo o professor, a estratégia pode até funcionar durante um tempo, mas ela não se sustenta. “Você trocar isso para gatinhos, aí você tá assumindo que o primeiro não deu certo ou que o primeiro não teve audiência. Se esse segundo não dá certo, você dá tiro no próprio pé”, avalia.

      Propaganda do PT

      O professor considera mais efetiva a propaganda feita pelo PT: dos pobres levando mais imposto e dos ricos levando menos. “Esse eu achei mais efetivo do que o dos gatinhos, por exemplo. Porque esse explica de uma forma mais simplificada o que o PT considera como realidade.”

      Pra o presidente do PT, senador Humberto Costa (PE), “o que nós estamos fazendo é somente traduzir para uma linguagem de comunicação aquilo que o PT sempre defendeu, especialmente o que defendeu na eleição passada,” explica.

      “Todo mundo lembra que o presidente Lula por várias vezes usou a expressão de que ele queria colocar os pobres no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda. Então todo esse debate que está acontecendo leva isso em consideração. Que é o que nós defendemos na campanha, a busca de construir justiça tributária no Brasil,” afirma o presidente do PT.

      Segundo Costa, o partido decidiu entrar na disputa para valer, porque estava o tempo todo perdendo o embate nas redes sociais. “Eu acho que agora entramos nessa disputa competindo”, avalia.

      Ele aposta que quando o PT propõe uma ação na rede social para debater temas que são atuais, propostas que estão no Congresso Nacional, o Congresso tende a ser mais sensível para aprová-los. “Eu não tenho nenhuma dúvida. Eu acho que se nós continuarmos cobrando, pedindo que o Congresso vote essas medidas, o Congresso votará e vai aprovar”, prevê.

      Fonte: InfoMoney