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Sábado, 12 de julho de 2025

Por que a Embraer é a maior vítima do tarifaço de Trump contra o Brasil?

Queridinha do mercado, ação da fabricante de jatos é a mais abalada pelo tarifaço contra o Brasil por conta da sua exportação para os EUA

Queridinha do mercado, ação da fabricante de jatos é a mais abalada pelo tarifaço contra o Brasil por conta da sua exportação para os EUA

Dentre todas as empresas que podem ser afetadas pelas tarifas gerais de 50% anunciadas na véspera pelo presidente dos EUA, Donald Trump, uma em especial ganha destaque, principalmente por ter grande parte da sua receita proveniente de exportações para a maior economia do mundo. Trata-se da Embraer (EMBR3), cuja ação tem uma alta acumulada de mais de 100% nas suas ações no acumulado de 12 meses, mas que vinha sofrendo recentemente com as ameaças do presidente americano em tarifar o Brasil.

    A XP Investimentos aponta que a Embraer tem uma alta exposição aos EUA, de cerca de 60% do faturamento. Ela exporta principalmente E1s para companhias aéreas norte-americanas e conclui a montagem de jatos executivos na Flórida; assim, os impactos diretos e indiretos podem ser significativos.

    Os analistas Lucas Laghi, Fernanda Urbano e Guilherme Nippes, que assinam o relatório da XP, ressaltam dois impactos principais devido ao aumento da tarifa para produtos brasileiros.

    Em primeiro lugar, na divisão Executiva, como a empresa conclui a montagem de Praetors (cerca de 55-60% do conteúdo do Brasil) e Phenoms (cerca de 35-40% do conteúdo do Brasil) em suas instalações na Flórida, parte do CPV (Custo de Produtos Vendidos) do produto é suscetível a tarifas de importação quando os jatos são enviados do Brasil para os EUA (com a Embraer como responsável pela sobretaxa).

    Nesse sentido, estima um impacto de custo de US$ 95 milhões por cada 10 pontos percentuais (p.p.) de tarifa para a sua previsão de EBIT de 2026E, ou um impacto de –55-60% em nossas estimativas de EBIT (Lucro Antes de Juros e Impostos)/lucro de 2026 esperado se a tarifa de 50% for implementada, respectivamente.

    Em segundo lugar, no segmento comercial, embora os clientes da ERJ sejam os responsáveis pela cobrança tarifária, a preocupação permanece com a demanda mais fraca após um ambiente inflacionário para os E1s, com riscos de adiamento de entregas caso as companhias aéreas tentem evitar tais sobretaxas, embora as cláusulas contratuais (e PDPs) da ERJ devam reduzir tais riscos.

    A XP, embora veja o anúncio de Trump principalmente como uma potencial barganha, espera que a preocupação dos investidores permaneça alta, dado o impacto potencial significativo que uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros sugeriria para a ERJ (queda 60% para a sua estimativa de lucros para 2026). Dito isso, reitera recomendação neutra no valuation, com potencial downside em relação às estimativas de consenso (e as nossas) se as tarifas permanecerem mais altas em relação ao previsto anteriormente.

    Na mesma linha, o Bradesco BBI também ressalta que a Embraer é a empresa de sua cobertura mais exposta às exportações para os EUA.

    Assim, estima um impacto potencial de aproximadamente US$ 220 milhões no EBIT de 2025 — cerca de 35% do total estimado para o ano. Essa estimativa considera que a tarifa entre em vigor em agosto, como estipulado na carta oficial, o que limitaria o impacto a apenas uma parte do ano.

    No segmento de aviação executiva, os jatos Phenom são produzidos nos EUA, enquanto os jatos Praetor têm sua montagem final no país.

    “Isso pode ajudar a mitigar parte do impacto, já que a produção local estaria isenta da tarifa. Ainda assim, não está claro se essa isenção seria total”, avalia.

    Para o BBI, a Embraer pode compensar parte do impacto por meio de: i. Reajuste de preços em novos pedidos de jatos executivos (com efeito apenas na entrega); ii.Aumento de preços em serviços e peças, reduzindo indiretamente o impacto nas entregas e iii. No segmento de aviação comercial, as tarifas podem levar clientes a adiar recebimentos de aeronaves.

    O UBS BB estima um impacto de aproximadamente US$ 70 milhões nos custos da Embraer e um impacto de 13% na margem financeira de 2026 para cada aumento de 10% nas tarifas. O banco considera o impacto apenas sobre jatos executivos, com 40% dos Phenoms e 60% dos Praetors sendo tarifados e 75% das vendas totais de jatos executivos para os EUA.

    Fonte: InfoMoney