
Acordo de transmissão foi fechado por R$ 1,7 bilhão e há outros ativos em tratativas
Na primeira negociação conjunta de um grupo clubes de futebol do Brasileirão, reunidos na Liga Forte União, a receita aumentou 55% em relação às temporadas passadas. A liga contratou a agência LiveMode para fazer a negociação, definindo a estratégia sobre número de canais, exibição aberta ou fechada e valores.
No acordo assinado, a receita de transmissão do ciclo de 2025 a 2029 ficou em R$ 1,7 bilhão, ante R$ 1,1 bilhão do ciclo anterior encerrado no ano passado. Ainda há outras propriedades a serem negociadas, como direitos de transmissão da série B, direitos internacionais e direitos de betting. A estimativa é que o montante total seja 75% acima no comparativo.
A transmissão foi vendida a dois canais abertos nacionais, Globo e Record, e a dois canais digitais (streaming e internet), Amazon e Google (YouTube) – ambos pela primeira vez no Campeonato Brasileiro.
“A fragmentação da mídia nos últimos 10 anos e mais acentuadamente nos últimos cinco anos tornou mais desafiadora e complexa a dinâmica de mercado. Um player pode pagar mais com uma distribuição protegida por paywall. Isso pode fazer o produto perder conexão com o fã que consome em plataforma aberta?”, diz Leonardo Lenz Cesar, sócio da LiveMode. “A gente buscou otimizar essa composição, atraindo grandes players locais e globais, equilibrando plataformas pagas e abertas, gerando mais valor para os clubes e seus acionistas.”
A Liga Forte reúne 33 clubes, entre eles, Fluminense, Corinthians, Botafogo e Fortaleza. Desses, 11 estão na série A e havia uma diferença considerável de valores em relação ao que a maioria deles recebia, em média, por ano do ciclo, na comparação com grandes clubes que estão hoje em outra liga, a Libra, como Flamengo e Palmeiras. Com a mudança no modelo de negociação, houve uma equiparação na média entre os dois blocos, já que o incremento de receita na Libra foi da ordem de 10%.
O novo formato, inspirado em ligas internacionais como NFL, de futebol americano, NBA, de basquete, e Premier League, de futebol, rompeu com o modelo histórico de venda individualizada por clube. No tradicional, os diretores dos clubes acabavam privilegiando antecipações para ter recursos em sua gestão do que uma estratégia de longo prazo – assim, o modelo trouxe também um amadurecimento dessa visão das administrações, algumas delas hoje como SAF.
“O mercado brasileiro está construindo um campeonato mais equilibrado para os clubes e, assim, mais forte e atraente para patrocinadores e grupos de mídia. É o que aconteceu na Europa com a Premier League”, diz Cesar. Responsável por novos negócios e investimentos na LiveMode, ele trabalha no universo esportivo há mais de 20 anos – fundou a TopSports vendida para WarnerMedia, e liderou a divisão de esportes da Meta, dona do Facebook, antes de se juntar à agência.
“Os números confirmam nossa tese de que o futebol brasileiro possui um enorme potencial de crescimento e valorização”, diz João Leitão, sócio-fundador da Life Capital Partners (LCP), investidora da Liga Forte. “O Brasil é um dos mercados mais promissores do mundo, com uma população jovem e apaixonada por futebol. Ainda estamos nos 10 minutos do primeiro tempo desse jogo.”
Os investidores, incluindo a LCP, estão reunidos na Sports Media, criada para gestão dos ativos. Em dezembro, mesmo antes da conclusão de venda dos direitos de transmissão da série A, os fundos tiveram uma remarcação positiva de 33,91%.
Para os envolvidos, a conclusão das negociações de transmissão do Campeonato Brasilerio abre espaço para um outro passo na profissionalização e remodelamento do mercado, com a unificação das duas ligas. “Agora, saiu da mesa um elemento que geava muita discussão, havia divergência entre como fazer essa negociação e divisão de receitas, diferentes percepções de valor e risco em relação aos contratos de transmissão”, diz Cesar. “Quando olhamos para frente, vemos ainda muito valor a ser destravado com uma combinação de Liga Forte e Libra, com licenciamentos, ‘salary cap’ e fornecedores oficiais”.
Fonte: Valor Pipeline