Economia
Segunda-feira, 22 de julho de 2024

2024 é o ano dos dividendos? Mercado vislumbra recorde; saiba como aproveitar 

Valor pago a acionistas no primeiro semestre deste ano já é equivalente a 74% do total distribuído em 2023

A macroeconomia recheou 2024 de incertezas e ajudou o Ibovespa a recuar 7,6% no primeiro semestre. Porém, as empresas vão relativamente bem no âmbito microeconômico. Mesmo em cenário adverso, geraram caixa, reduziram as dívidas e distribuíram no período 74% do montante total de proventos de 2023 – e geram bom presságio para o resto do ano.

Segundo dados da plataforma Meu Dividendo, companhias pagaram R$ 165 bilhões em dividendos e Juros Sobre Capital Próprio (JCP) no primeiro semestre, após temporada de balanços do 1T24 foi “mais positiva do que o esperado”, segundo a XP. E a próxima rodada de divulgações, do 2T24, deve ser “semelhante ao que foi visto no primeiro trimestre”.

Vem recorde aí? 

Os dados animam o mercado para uma distribuição recorde de dividendos em 2024. O ano a ser batido é 2022, com R$ 319,40 bilhões pagos. No primeiro semestre daquele ano, foram distribuídos R$ 125,16 bilhões no primeiro semestre, 24% a menos do que o número deste ano. 

“É uma distribuição que vem com o controle de custos das companhias, como recurso de sobrevivência em um cenário que ainda é de retomada econômica desde a pandemia de Covid-19, que afetou as cadeias de distribuição”, diz Enrico Cozzolino, sócio e head de análises da Levante Inside Corp.

“Estatística pura”, diz Wendell Finotti, CEO e fundador da Meu Dividendo, quando perguntando sobre os argumentos para esperar recorde de dividendos em 2024. “De 2017 a 2023, 54% dos dividendos foram distribuídos no segundo semestre e já passamos o patamar do primeiro semestre de 2022, o ano a ser batido”, completa. 

O que explica a força do 1º semestre?

A queda de juros ajuda a explicar o volume maior neste primeiro semestre e a projetar a sequência de boa remuneração aos acionistas. Além disto, Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, destaca “o movimento de redução do endividamento de empresas que estavam alavancadas ao longo de 2022 e 2023, recuperação na cotação de commodities, e desaceleração em métricas de inflação, elevando a renda disponível para gastar por parte das famílias”.

Mas Cozzolino pondera que a distribuição de dividendos pode ser um sinal de estagnação da atividade econômica: “quando uma empresa decide distribuir dividendos o faz porque não vê possibilidade de investimento em si para gerar retorno maior”. 

JCP será barreira?

Os Juros Sobre Capital Próprio geralmente se concentram no segundo semestre e devem impulsionar a remuneração aos acionistas na segunda metade do ano. Ao mesmo tempo, é o fator que pode impedir o recorde. Esses proventos não são obrigatórios e as empresas têm mais flexibilidade para escolher quando pagar, ou não, enquanto cada uma já tem uma regra mais rígida para os dividendos. 

Se a projeção das empresas que costumam distribuir JCP for de piora no cenário macroeconômico, elas podem se sentir inseguras com os pagamentos e segurar a remuneração para reforçar o caixa e mitigar riscos. “Elas ainda podem seguir pagando o JCP, mas aumentar o prazo de pagamento, anunciando agora e pagando mais para frente para manter o dinheiro por mais tempo”, explica Finotti. 

Como aproveitar os dividendos robustos?

No primeiro semestre, o setor de óleo e gás dominou a distribuição de proventos, tanto em valor total distribuído – lista encabeçada pela Petrobras (PETR3PETR4) –, como em valor por ação – Comgas (CGAS3CGAS5) foi a líder. 

Veja as empresas com maior volume distribuído por ação no primeiro semestre de 2024:

EmpresaTickerValor por ação (R$)
ComgasCGAS512,08
ComgasCGAS310,93
PetrobrasPETR44,27
PetrobrasPETR34,27
Banco do NordesteBNBR33,16
ValeVALE32,74
GrazziotinCGRA42,7
EmbparEPAR32,62
MéliuzCASH32,41
ItaúITUB42,26

Fonte: Meu Dividendo

Veja os maiores valores totais distribuídos em dividendo e JCP no primeiro semestre: 

EmpresaTickerTotal distribuído (em R$ bi)
PetrobrasPETR455,65
ItaúITUB422,2
ValeVALE312,43
Banco do BrasilBBAS37,4
BradescoBBDC47,24
ItaúsaITSA46,71
SantanderSANB114,52
TelefônicaVIVT33,1
CemigCMIG32,89
BB SeguridadeBBSE32,52

Fonte: Meu Dividendo

Setores para observar

Mas um setor que costuma ser referência na distribuição de dividendos ainda não brilhou em 2024. As empresas de energia geralmente concentram os pagamentos na segunda metade do ano e são “são alavancas muito fortes para esse segundo semestre”, segundo Finotti, o que traz oportunidades para investir nessas companhias e surfar a onda de um ano bom para os dividendos. 

Belitardo, da Hike Capital, projeta que CPFL Energia (CPFE3) e Cemig (CMIG3) serão as líderes do setor elétrico na distribuição de dividendos nos próximos meses. Entre os bancos, o especialista cita Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3); no saneamento básico, Sanepar (SAPR4) e Copasa (CSMG3).

O CEO da Meu Dividendo ainda diz que a aversão a risco no mercado gerou preços baixos nas ações que pagam dividendos e “esta é uma ótima oportunidade quem quer começar a investir em dividendos, já que ainda é possível vislumbrar valorização dos papéis no médio a longo prazo”. 

Encontrar ações com preços justos também é um dos fatores cruciais na montagem da carteira de dividendos. Para isto, é preciso focar no futuro da empresa, e não no que ela já distribuiu. “O investidor olha para o passado para analisar o motivo da distribuição: foi por alguma pressão de curto prazo ou ela tem como seguir distribuindo e crescendo? É importante olhar a projeção para o futuro da empresa”, diz Cozzolino.

Fonte: InfoMoney