Economia
Domingo, 19 de maio de 2024

Mercado de Trabalho será o tema da economia em 2024

Emprego em alta pode atrasar queda dos juros e vai afetar relação entre BC e governo

O bom desempenho do mercado de trabalho brasileiro entrou no debate sobre os próximos passos do Banco Central (BC) na redução dos juros.

Nos documentos oficiais divulgados pela autoridade monetária na última semana, o atual nível de emprego e a alta na renda dos trabalhadores acenderam um alerta sobre o impacto inflacionário que podem causar.

O receio é que isso leve o Copom a reduzir o ritmo de cortes da taxa básica este ano. O alerta já chegou com a mudança na sinalização do Comitê sobre as próximas decisões. No governo, a reação a esse recado do BC veio do ministro do Trabalho, Luiz Marinho e até de Fernando Haddad, da Fazenda.

“O mercado de trabalho vai ser o tema da economia em 2024. E vai reacender o debate entre o Banco Central e o governo”, disse Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

Os dados mostram que 90% dos acordos coletivos de reajuste estão sendo feitos acima da inflação. A renda média dos trabalhadores sobe há 15 meses consecutivos, segundo a Fipe.

Para Bruno Imaizumi, há vários fatores que ajudam a explicar essa evolução, entre eles, o crescimento das vagas formais que têm melhor remuneração.

“Em algum momento isso vai bater de alguma maneira na inflação corrente. A gente não sabe ainda como ou quando, e o Copom deixou claro que não é um processo linear. Mas se essa dinâmica de ganhos no rendimento continuar, vai bater na inflação, especialmente na dos serviços que roda acima do IPCA cheio”, disse o economista.

Um dos contrapontos à preocupação crescente com os impactos na inflação é a produtividade do trabalho no Brasil. Apesar dela ter se recuperado nos últimos anos, ainda está em ritmo aquém do necessário para garantir crescimento sustentável e contínuo no país.

“Na ata da última reunião do Copom havia 23 frases a mais que na ata anterior. Metade dessas a mais foi para falar de mercado de trabalho e das pressões salariais. Uma das que mais chamou atenção foi a que tratou da produtividade. Tendo a ir na linha do BC de que a criação de vagas não tem sido acompanhadas por aumento de produtividade, o que aponta para pressão inflacionária”, explica Imaizumi.

O trecho na ata do Copom citado pelo economista da LCA diz: “Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra”.

O aquecimento do mercado de trabalho é preocupação também na economia americana, onde a taxa de desemprego está nas baixas históricas e é um dos motivos para o Fed adiar o início dos cortes de juros nos Estados Unidos.

No Brasil, a queda mais acentuada do desemprego não impediu o BC de reduzir a Selic, mas cresce a preocupação com seus efeitos a partir de agora.

A geração de empregos está vivendo seu melhor momento em uma década no país. Dados do Caged, com geração de vagas formais, e da Pnad Contínua, do IBGE, que cobre todas as categorias de trabalho, revelam que a recuperação dos postos de emprego no pós-pandemia se deu tanto em quantidade quanto em qualidade.

A taxa de desemprego oficial subiu levemente no trimestre terminado em fevereiro, de 7,6% para 7,8%. O movimento foi marginal, esperado para a época do ano e não interrompeu a recuperação do trabalho formal, nem a melhora na renda média dos trabalhadores.

A formalização tem se destacado no aumento do emprego, numa dinâmica incomum na economia brasileira. A informalidade sempre puxou as retomadas dos ciclos econômicos até agora.

Os dados do Caged têm surpreendido para cima há meses e provocam revisões para geração de vagas formais em 2024, que devem ficar acima de 1,2 milhão.

Fonte: CNN