Custo alto e falta de crédito travam investimento em armazenagem no Brasil, revela pesquisa

Capacidade de armazenamento, que era de 91,4% da produção na safra 2009/2010, caiu para 60,4%; No país, 6 em cada 10 produtores não têm infraestrutura na propriedade

Aqueles envolvidos na agricultura, que se acostumaram a quebrar recordes, enfrentam agora um desafio cada vez mais premente: a falta de espaço para armazenagem. Enquanto na safra 2009/2010 o Brasil conseguia armazenar impressionantes 91,4% de sua produção de grãos, hoje esse número caiu drasticamente para 60,4%. A principal razão para esse déficit sem precedentes de 123,7 milhões de toneladas está na combinação do alto custo de construção de infraestrutura de armazenagem e na falta de acesso a linhas de crédito atraentes para investir.

Essa situação é revelada por um estudo inédito realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com produtores rurais de todo o país. Segundo o estudo, que ouviu 1.065 produtores de todas as regiões, 61% deles não possuem infraestrutura de armazenagem em suas propriedades. Dentre esses, 63% apontam o alto custo como um motivo significativo para não terem investido até o momento, enquanto 39% destacam a dificuldade de acesso ao crédito como outro obstáculo importante.

A situação se torna mais evidente ao analisarmos os números. Quando comparamos a produção de grãos com a capacidade estática de armazenagem, fica claro que o déficit vem aumentando no Brasil ao longo dos anos. Passou de 12,9 milhões de toneladas na safra 2009/2010 para 43,2 milhões em 2014/2015, atingindo 74,2 milhões em 2019/2020. Na temporada 2021/22, esse número saltou para 83,7 milhões e, neste ano, após outra safra recorde, chegou a 123,7 milhões de toneladas.

O estudo também revela que a preocupação com os altos custos é mais acentuada nas regiões Norte (78,1%), Sul (68,5%) e Nordeste (63,6%), mas também é significativa no Centro-Oeste (61,8%) e Sudeste (61,7%). Quanto à dificuldade de acesso ao crédito, ela é citada como de grande importância principalmente pelos produtores do Norte (65,6%) e Centro-Oeste (45,5%), mas também é relevante no Nordeste (39,4%), Sudeste (37,8%) e Sul (32,7%).

A falta de infraestrutura adequada se traduz na necessidade de recorrer a serviços de terceiros para armazenar a produção, o que aumenta os custos de transporte e logística. É fundamental que medidas sejam tomadas para melhorar a situação, incluindo taxas de juros mais atrativas, prazos de financiamento mais longos e carência no pagamento da amortização. Além disso, a expansão da produção deve ser acompanhada por investimentos em infraestrutura para garantir que o Brasil possa competir efetivamente no mercado global.

Em resumo, a situação atual da armazenagem de grãos no Brasil é desafiadora, e medidas eficazes são necessárias para resolver esse problema e garantir a competitividade do setor agrícola no cenário global.

Fonte: Exame