Agronegócio
Domingo, 19 de maio de 2024

Recorde do agro: Brasil pode desbancar EUA na exportação de milho em 2023

Tensão entre Estados Unidos e China contribui para maiores exportações brasileiras, mas acende alerta para risco de dependência à demanda asiática

Após um impressionante aumento de 32% entre 2021 e 2022, as exportações do agronegócio brasileiro estão caminhando para alcançar um novo recorde este ano. Um destaque notável é o desempenho do milho, que registrou um aumento de 52,9% em relação à temporada anterior. Esse aumento é impulsionado pela forte demanda da China e resultou no Brasil ultrapassando os Estados Unidos como líder nas vendas internacionais desse produto.

De acordo com o relatório divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 6 de setembro, a estimativa para as exportações de milho durante o período de 2022/2023 deve atingir aproximadamente 50 milhões de toneladas, superando as exportações dos Estados Unidos. Apenas de janeiro a agosto de 2023, as vendas externas de milho totalizaram 6,66 bilhões de dólares, um aumento de 33,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior. O volume embarcado chegou a 25,2 milhões de toneladas, representando um aumento de 41,4% na mesma comparação.

Antes do anúncio da Conab, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já havia apontado que o Brasil foi responsável por quase 31,5% das exportações globais de milho durante 2022/2023, enquanto os EUA corresponderam a cerca de 23,2%. Para 2024, a projeção é de que o Brasil continue liderando pelo segundo ciclo consecutivo, algo inédito.

A dependência da China é fundamental para esse aumento, segundo analistas. A China, que representou 37,2% das exportações do agronegócio brasileiro de janeiro a julho, começou a buscar alternativas para reduzir sua dependência dos Estados Unidos devido a tensões geopolíticas e conflitos como a guerra entre Ucrânia e Rússia. O Brasil tornou-se a escolha preferida para suprir a demanda de milho, com o primeiro carregamento sendo feito em novembro de 2022.

Pedro Rodrigues, assessor de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), observa que as tensões geopolíticas fizeram os chineses procurarem outros parceiros além dos EUA, e o Brasil, devido às suas boas relações com a maioria dos países, é visto como uma alternativa segura.

Carlos Cogo, consultor e analista de mercado do agronegócio, destaca que o aumento nas exportações de milho brasileiro não representa riscos para o consumo interno, uma vez que o país tem um excedente substancial para atender à demanda internacional. Ele ressalta que o Brasil é um país agroexportador que se abastece e vende o excedente, enquanto a demanda interna cresce a um ritmo mais lento em comparação com o aumento da produção de grãos.

Felipe Spaniol, coordenador de inteligência comercial e defesa de interesses da CNA, chama a atenção para a dependência crescente da China. Atualmente, 37,2% das exportações do agronegócio brasileiro são destinadas à China, enquanto a União Europeia responde por 13,4% e os Estados Unidos por 5,7%. Ele destaca a necessidade de acompanhar de perto a situação na China, incluindo fatores como ajuste imobiliário, envelhecimento da população, redução do consumo doméstico e previsão de crescimento abaixo de 5%, que podem representar desafios a médio e longo prazo.

Fonte: Exame