Economia
Domingo, 19 de maio de 2024

Campos Neto diz que combate à inflação é o melhor instrumento social que existe

Presidente do BC foi convidado a dar explicações sobre elevado patamar de juros na Comissão de Assuntos Econômicos

O presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (25), em audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal, que o combate à inflação é o melhor instrumento social que existe e negou que o Brasil esteja afundando em recessão.

Aos parlamentares, o chefe da autarquia defendeu o regime de metas de inflação e a importância da autonomia do BC, explicou a mecânica da tomada de decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) e a influência das expectativas de inflação sobre a calibragem da taxa de juros.

“Nosso trabalho é fazer a inflação convergir para a meta com o mínimo de custo social”, afirmou. “Não é verdade que o Brasil está afundando em recessão sem fim. A gente está tentando fazer um trabalho de trazer a inflação para a meta, porque a inflação é um elemento muito corrosivo para os rendimentos dos mais carentes, e a gente precisa fazer isso da forma mais suave possível.”

Campos Neto foi convidado pelos parlamentares a comparecer no Congresso Nacional para dar explicações sobre a taxa básica de juros (Selic) –fixada desde agosto de 2022 em 13,75% ao ano.

O convite ao presidente do BC veio em reação às críticas diretas e recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes do governo ao nível elevado de juros no país em meio a um cenário de desaceleração da atividade econômica e aumento da inadimplência —pagamentos em atraso há mais de 90 dias.

requerimento foi aprovado em 14 de março, mas Campos Neto já tinha mostrado ao presidente da comissão, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), disposição de comparecer ao Senado.

Na audiência, ele disse ver o debate sobre os juros como “meritório” e negou que o BC seja culpado pelas mazelas do Brasil. O presidente da instituição afirmou também que a autoridade monetária está “no mesmo barco que o governo”, tentando achar soluções para os problemas do país.

Campos Neto disse aos senadores que não consegue estimar quando o Copom dará início aos cortes da taxa básica por ter direito a apenas um de nove votos do colegiado do BC, embora veja as condições caminhando na direção certa. De acordo com o chefe da autoridade monetária, o processo de redução de juros é técnico e leva tempo.

Assim como em suas exposições mais recentes, Campos Neto reiterou a mensagem de que a inflação elevada é mais prejudicial para a sociedade do que o alto nível de juros, por aumentar a desigualdade e penalizar a população de mais baixa renda.

“Inflação é o imposto mais perverso que existe, que prejudica os pobres. É uma transferência de valor do dinheiro do governo, onde o dinheiro perde valor na mão das pessoas e ganha no emissor, que é o governo. De certa forma, a inflação até melhora a questão fiscal, mas ao custo de desigualdade e de uma piora na qualidade do consumo”, afirmou.

O chefe da autoridade monetária reforçou que a omissão do BC no combate à inflação teria sido muito mais custosa para a sociedade do que o aumento da Selic.

Segundo Campos Neto, se o Copom tivesse atuado de forma política e evitado aumentar os juros no período eleitoral, a inflação deste ano seria próxima de 10% e, para obter as mesmas projeções atuais, o BC teria que elevar a taxa Selic para 18,75%.

O presidente do BC também voltou a citar como antiexemplo os casos da Argentina, que enfrenta uma inflação desenfreada, e da Turquia, que baixou os juros e hoje tem de lidar com o aumento da pobreza.

“O combate à inflação é o melhor instrumento social que existe hoje, tem vários estudos que mostram isso”, disse. “No caso da Argentina, a pobreza aumentou 53% e hoje alcança quase 40% da população.”

Quanto à comunicação, Campos Neto destacou novamente que a autoridade monetária atua de forma técnica. “Em todas as atas [do Copom] desde 2019, toda vez que uma medida fiscal alterava a trajetória da dívida, o BC se expressou nas suas comunicações”, afirmou.

Segundo o chefe da autarquia, um dos fatores para os altos juros no Brasil é o fato de o governo brasileiro ter uma dívida bruta –que atingiu 73% do PIB (R$ 7,4 trilhões) em fevereiro– maior do que a média internacional. “Não é explosiva, mas é maior que a média”, disse.

O grande volume concedido no crédito direcionado, em boa parte com juros subsidiados, e o baixo nível de recuperação de crédito por parte das instituições financeiras devido à alta inadimplência dos tomadores de empréstimos são outros motivos citados por Campos Neto para explicar por que os juros são elevados no país.

O presidente do BC também foi chamado ao Senado para prestar informações sobre erro ocorrido na compilação de dados na série histórica do fluxo cambial –volume de dólares que entram e saem do país. Após a revisão, a autoridade monetária informou que o país registrou em 2022 saída de US$ 3,233 bilhões, em vez de entrada de US$ 9,574 bilhões.

Segundo ele, o erro foi reajustado, não houve negligência e os procedimentos foram aprimorados para que o problema não volte a se repetir. “Quando a gente corrigiu, teve pouco efeito nos mercados”.

Fonte: Folha