A inadimplência do Mercado Pago, o banco digital do Mercado Livre

O Mercado Pago, que desde o ano passado tem se posicionado como o banco digital do Mercado Livre e tem apostado em concessão de crédito para impulsionar a operação de serviços financeiros, está com uma taxa de inadimplência de 29,6% para atrasos superiores a 90 dias, apurou o Pipeline. O número é referente ao quarto trimestre do ano passado e representa uma alta de 5,7% percentuais em relação ao trimestre passado.

A instituição costuma divulgar apenas a taxa de atrasos inferiores a 90 dias — que caiu de 13,1% para 10,3% no mesmo tipo de comparação –, porque entende que se trata de uma métrica mais relevante para o tipo de crédito que concede, em geral de prazo mais curto. Como os empréstimos são de valores menores, com um tíquete médio de R$ 150, a quitação da dívida acaba ocorrendo em menos de três meses, o que faz com que o bom pagador, muitas vezes, não ajude a melhorar o indicador de inadimplência que toma prazos mais longos como referência.

Além disso, o Mercado Pago só tira os maus pagadores da lista de inadimplentes depois de um ano, enquanto há outros players no mercado que trabalham com uma tolerância menor, de seis meses. O resultado é que, ao final de um quarto trimestre, a taxa de inadimplência para atrasos superiores a 90 dias carrega todos os maus pagadores do ano inteiro, sem ter a contribuição positiva dos bons pagadores que saíram cedo da carteira.

Como o Mercado Pago tem um método muito particular de mensurar os inadimplentes, os investidores costumam ter dúvidas sobre a taxa e como conseguir comparar o índice da companhia com outros players no mercado. A empresa costuma responder que se trata de um caso único.

Em geral, analistas do setor financeiro estão mais habituados a analisar as taxas de inadimplência acima de 90 dias, de instituições que trabalham com financiamentos mais longos, como o de um imóvel ou de um veículo, em que o bom pagador vai ficando e contribuindo para a qualidade da carteira. Bancões como Bradesco e Itaú, que são mais seletivos nas concessões e têm carteiras mais diversificadas, têm índices de 4,3% e 2,8%, ainda que estejam também em alta, em razão do juro maior.

O Nubank, principal nome entre os bancos digitais, anotou uma taxa de 5,2% no quarto trimestre para dívidas vencidas há mais de 90 dias. A diferença é que a maior parte da carteira do Nubank está em cartões (79%), enquanto no Mercado Livre a maior fatia é de empréstimos pessoais (55%). Já o PagBank PagSeguro, que tem um público similar ao do Mercado Pago, teve uma taxa de 32,4% no quarto trimestre, avanço de 4,1 p.p. ante o trimestre anterior.

Entre analistas, o Mercado Pago é visto como uma parte valiosa do Mercado Livre, uma vez que o crédito tem sido uma aposta para varejistas que querem elevar suas margens. A inadimplência da fintech, contudo, é um ponto de preocupação no mercado e pode virar uma dor de cabeça para o marketplace fundado na Argentina.

Enquanto banco digital, o Mercado Pago tem atuado com um público majoritariamente de renda menor, que oferece um risco maior para operações de crédito, como vendedores autônomos que usam a plataforma de pagamentos ou as maquininhas de entrada da instituição. A companhia começou há cerca de três anos a apostar em produtos de crédito, como cartão de crédito e empréstimo pessoal. A carteira total chega a US$ 2,8 bilhões, de acordo com dados do balanço do ano passado.

Ao atuar também com seguros e investimentos, o Mercado Pago tem 43,7 milhões de usuários na América Latina e almejar chegar ao seleto grupo dos três maiores bancos digitais do país. O Nubank tem 70 milhões de clientes no Brasil.

Ao seguir essa estratégia focada em crédito, o Mercado Pago anunciou nesta quarta-feira que vai usar recursos da própria financeira para oferecer financiamento a veículos que estão à venda na plataforma do Mercado Livre. Até então, a instituição dependia de dois bancos parceiros, o Bradesco e o Daycoval, que seguirão com o relacionamento.

Fonte: Valor Pipeline