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Terça-feira, 7 de maio de 2024

Má fase do varejo acende luz amarela para receita de aluguel nos shoppings centers

Pressão vem quando o setor retomava seus números pré-pandemia e parecia deixar a covid-19 para trás

varejo não vive momento de bonança, no Brasil e no mundo. Com gigantes em crise das mais diferentes proporções, os shoppings centers podem também começar a sofrer os impactos, justamente quando o setor repunha seus números pré-pandemia e parecia deixar a covid-19 para trás.

Em recuperação judicial, a Americanas (AMER3), por exemplo, avisou que devem permanecer em aberto débitos de aluguel atrasados com os shoppings centers na ordem de R$ 11,6 milhões. Entre os shoppings estão grandes redes como Iguatemi (IGTI3)Ancar e o grupo AD.

Marisa (AMAR3), de vestuário, informou uma reestruturação e contratou assessores para renegociar R$ 200 milhões em dívida de curto prazo. Segundo fontes ouvidas pela EXAME na última quinta-feira, 16, a renegociação de aluguéis é uma das missões da companhia em sua reorganização da casa.

Para se somar a tudo isso, segundo o jornal Valor Econômico, a rede de móveis e decoração Tok&Stok também vai se reestruturar e contratou a consultoria Alvarez &Marsal para isso.

Em coletiva da associação do setor de shoppings centers, a Abrasce, no começo do mês de fevereiro, Glauco Humai, presidente da associação, afirmou que é preciso estar atento, pois o caso Americanas “serve de alerta”. No entanto, não se pode falar em calote generalizado.

Em 2022, o setor registrou faturamento anual de R$ 191,8 bilhões, alta de 20,5% em relação a 2021 (R$159,2 bilhões). Esse valor é nominal e não exclui o efeito da inflação. O número médio de visitantes ao mês foi de 443 milhões, o que representa uma elevação de 11,6% sobre 2021, quando a média mensal foi de 397 milhões de pessoas.

“Em termos de vacância, esse patamar foi de 5,6% em 2022, o que nos deixa mais próximos dos níveis pré-pandemia, de 4,7% registrados em 2019”, diz a associação em nota.

Para o sócio diretor da consultoria de varejo Gouvêa Malls, Luiz Alberto Marinho, a situação é, sim, um fator de pressão no curto prazo para o setor de shoppings centers, mas o horizonte mais amplo traz desafios mais complexos.

“Um fenômeno que já vem acontecendo é a mudança de perfil de mix. As ancoragens  [lojas maiores e com potencial de atrair clientes pro centro comercial] mudaram. Hoje são muito mais restaurantes e serviços, como entretenimento. Mas eles não pagam as mesmas coisas que âncoras de moda ou beleza, por exemplo”, explica Marinho. Com essa mudança no perfil da ancoragem, os shoppings já não ganham tanto quanto antes. 

Segundo Marinho, o modelo de negócio dos shoppings está mudando. “Nesse contexto, ter uma varejista pagando um pouco menos de aluguel é menos grave. Até porque âncora paga menos aluguel que as lojas satélites. O que merece mais atenção é a percepção de valor da loja física”, diz ele.

Isso porque o custo de ocupação das lojas está mais alto. Se antes da pandemia girava em até 15%, hoje passa dos 20%. Isso porque a inflação e os juros altos corroem o poder de compra do consumidor, impactando as vendas.

Para lidar com isso, o varejista precisa rentabilizar a loja outras maneiras, como conseguindo colocar seus vendedores fechando negócios por canais digitais, como WhatsApp, e sendo ponto de entrega para compras on-line, a fim de capturar compras extras que o cliente possa querer fazer ao entrar na loja. “Mas quem consegue fazer isso? Os grandes varejistas, que têm uma enorme base de clientes e mais recursos a seu favor”, diz Marinho. 

Fonte: Exame