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Sábado, 11 de maio de 2024

O choque de realidade de Alice e Sami para competir nos planos de saúde

O CEO e cofundador da Sami Vitor Asseituno segue confiante de que vai atingir as metas. Com faturamento de cerca de R$ 60 milhões no ano passado, a previsão é triplicar a receita neste ano. Isso seria feito com a oferta de planos premium e com tíquete mais elevado e diversificando a carteira de clientes de MEIs para empresas maiores com cerca de 200 funcionários.

Para 2023, a meta é mais do que dobrar o número de segurados. “Queremos terminar o ano tendo entre 30 mil e 35 mil vidas”, afirma Asseituno, que diz estar “olhando para um novo aporte” que poderia acontecer ainda neste ano, mas que “levantar capital não depende apenas da companhia”. Outra meta para o ano é atingir o breakeven do negócio. Na Alice, não há previsão para que isso seja feito no curto prazo.

Mas a verdade é que está cada vez mais difícil acompanhar de perto as gigantes do setor como HapvidaUnimedAmilSulAmérica, que juntas concentram dezenas de milhões de beneficiários em seus planos.

Nos últimos anos, as gigantes do setor começaram a verticalizar suas operações com acordos de M&A que aumentaram sua capacidade de atendimento. Foi o caso da união de Rede D’Or na SulAmérica, que criou uma empresa avaliada em mais de R$ 73 bilhões. E da junção de negócios entre Hapvida e Grupo NotreDame Intermédica, duas gigantes do setor privado de saúde.

“Por algum motivo essas startups estão indo na direção contrária de um setor que está verticalizando e se tornando cada vez mais dono de toda a estrutura”, disse um sócio de uma gestora de venture capital que pediu para não ser identificado. “O que a gente escuta entre os investidores é que essas startups estão tendo dificuldade para crescer e ganhar mercado.”

Outro investidor disse ao NeoFeed que nenhuma dessas empresas tem uma rede forte para atender os seus clientes, “porque isso é caro de fazer”. E concluiu: “O mercado precisa parar de confundir healthtechs com operadoras de saúde. São coisas diferentes.”

Ainda que conte com hospitais de referência como Albert Einstein, Beneficência Portuguesa, Oswaldo Cruz, tanto Sami como Alice ainda possuem uma rede enxuta e que contempla atendimentos em São Paulo e na região metropolitana. Isso inviabiliza que essas empresas consigam firmar acordos para o oferecimento de seus planos no B2B para companhias com funcionários em outras regiões.

“Quando a gente levantou capital, tínhamos uma expectativa de crescimento. Quando vimos que isso não aconteceria, precisamos ajustar as contas e concluímos que precisávamos reduzir a folha de pagamento”, diz Florence. Segundo o executivo, o plano era captar um novo investimento no ano passado, o que não ocorreu.

A dificuldade para captar mais dinheiro e consequentemente conseguir reduzir a diferença dos números para as gigantes do setor não é o único sintoma enfrentado pelas startups. Um dos problemas pode estar na falta de diferenciais competitivos que façam o consumidor que ainda não tem um plano optar por essas startups.

O que atraiu os investidores, além do impacto da telemedicina durante a pandemia, foi a criação de um novo formato de fazer o atendimento dos pacientes, focando principalmente em serviços de triagem e no uso de tecnologia para reduzir custos. Ambas apostam na tese de médicos de família que ajudam na prioridade dos pacientes e na prevenção de problemas de saúde.

Mas as rivais do setor fizeram a lição de casa para reduzir esse gap. Conforme apurado pelo NeoFeed com fontes do mercado, as operadoras de saúde podem diminuir em até 50% seus custos com cada cliente ao implementar tecnologias que automatizam o processo. Isso envolve o atendimento por telemedicina, o agendamento automático de consultas, prontuários eletrônicos, mudanças no serviço de atendimento ao consumidor, entre outras práticas.

Um segundo diferencial que parece ter perdido um pouco sua atratividade é o preço. A Sami, que se posicionou como uma empresa low cost dos planos de saúde, é um exemplo ao oferecer uma cobertura individual por menos de R$ 200 por mês. Empresas como Unimed, Amil e Hapvida também já criaram opções mais econômicas de seus convênios.

Vitor Asseituno Sami
Vitor Asseituno, cofundador e CEO da Sami

Ao tentar provar que a tese de investir em tecnologia pode ajudar a reduzir os custos, Sami e Alice agora enfrentam uma batalha de Davi e Golias para tentar se posicionar como planos de saúde competitivos mesmo frente a uma concorrência contra as gigantes do setor que também já vêm investindo em tecnologia.

“O crescimento é mais devagar, mais organizado e com maior retorno sobre o investimento”, diz Florence, da Alice. “Eu não estou olhando os 50 milhões de clientes do mercado suplementar, mas para os 100 milhões que não tem plano”, complementa Asseituno, da Sami.

Os próximos meses devem dar uma indicação maior do que esperar do futuro dessas empresas que ao olhar dos investidores eram healthtechs, mas que se posicionam cada vez mais como prestadoras de serviço.

Fonte: Neofeed