Agronegócio
Sábado, 18 de maio de 2024

Entenda por que produtores da América do Sul estão de olho nas mudanças climáticas

Os eventos extremos como secas prolongadas e enchentes colocaram o clima no topo da lista de preocupações dos produtores da América do Sul. Isso é o que mostra uma pesquisa recente feita pela consultoria EY. O estudo “Top 10 Riscos e Oportunidades para o Agronegócio” contou com a avaliação de executivos e empresários dos três países que formam o Cone Sul, como Brasil, Argentina e Chile. De acordo com a pesquisa, 47% dos entrevistados reconsiderariam o investimento com base nos riscos climáticos.Tamanha importância tem a ver com a proporção que o agronegócio atingiu na região, que expandiu em 56% sua produção agrícola nos últimos dez anos, ante uma média global de 29%, tornando-se um grande cinturão de alimentos para o mundo. “As economias desses países passaram a depender cada vez mais do agro. Daí a atenção especial do setor com a manutenção do próprio negócio”, afirmou o líder da divisão de agronegócio para América do Sul na EY, Alexandre Rangel.Na Argentina, por exemplo, o setor já representa aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB), gerando 22% do total dos empregos. No Brasil, com mais de R$ 2 trilhões, o agro responde por 20,3% dos postos de trabalho, como indica o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). Já no Chile, de acordo com o Ministério de Agricultura daquele país, o setor responde por 9,7% do PIB e mais de 24% do total de exportações, ficando atrás apenas das vendas de cobre ao mercado externo.“A percepção do risco climático sempre existiu, pois o agro funciona como uma ‘fábrica a céu aberto’. Nunca se sabe se vai chover ou não. Todo o negócio é gerenciamento de risco. Mas com as mudanças climáticas complicam ainda mais”, disse Rangel. Exatamente por isso, a questão da sustentabilidade também ganhou importância e o setor já começa a perceber as oportunidades no mercado de crédito de carbono. “Agora o produtor consegue ver formas reais de monetizar a preservação, deixando de ser o único a arcar com a manutenção do meio ambiente”, afirma. Para Rangel, quando a preservação passou a ter valor financeiro o produtor começou a considerar. “A agenda de sustentabilidade é cara e nunca foi financiada por banco nem governos. Há seis ou sete meses o mercado de crédito vem se fortalecendo e se tornando uma moeda real de troca”. Para o especialista, o círculo virtuoso vai se efetivar quando as regras forem estabelecidas, de forma clara e sem muita intervenção.Ao lado do clima e da sustentabilidade, os empresários do agro também estão atentos aos gargalos da infraestrutura em toda a região. Diante desse aumento substancial da produção local, assuntos como logística e armazenamento ganharam mais força. “Tivemos muitos avanços em questão de portos, mas ainda falta investir em hidrovias e ferrovias. Além disso, ainda podemos ter um apagão de armazenagem com uma produção cada vez maior. Este será o próximo desafio”, disse.

Fonte: IstoéDinheiro