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Segunda-feira, 20 de maio de 2024

Empresários e banqueiros aderem a nova carta aberta de apoio à democracia

Um variado grupo de empresários aderiu a uma carta em tom duro em defesa da democracia brasileira e ao sistema eleitoral nesta terça-feira, 26. O manifesto, que vem sendo gestado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e circula desde a semana passada, ganhou assinaturas de peso no mundo empresarial e financeiro. Entre os nomes que assinaram o texto estão o de Roberto Setubal e Cândido Bracher (Itaú Unibanco), representantes da indústria como Walter Schalka (Suzano) e de empresas de bens de consumo como Pedro Passos e Guilherme Leal (Natura).

Assinaram a carta também Eduardo Vassimon (Votorantim), Horácio Lafer Piva (Klabin), Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso), o economista José Roberto Mendonça de Barros e o cineasta João Moreira Salles.

Conforme o Estadão informou na quarta-feira, 20, empresariado e juristas se articulavam para unir forças em uma mobilização que terá como ápice um ato no dia 11 de agosto, nas arcadas do Largo de São Francisco, em defesa do Tribunal Superior Eleitoral e da democracia brasileira.

O texto que ganhou adesão do empresariado não faz menção expressa ao presidente Jair Bolsonaro, mas afirma que o País está “passando por um momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições”. Ao citar “desvarios autoritários” que puseram em risco a democracia dos Estados Unidos, a carta diz: “Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.”.

Os organizadores do manifesto esperam que a adesão de importantes atores econômicos estimule que outros medalhões do empresariado brasileiro a se juntar ao movimento. Um dos articuladores da carta foi o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior.

A polêmica reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e embaixadores de vários países, na qual o presidente da República colocou em dúvida o sistema eleitoral do Brasil, impulsionou o movimento de defesa do sistema eleitoral, apesar da dificuldade em se costurar um consenso entre empresários de diferentes inclinações políticas.

O manifesto é inspirado pela Carta aos Brasileiros de 1977, um texto de repúdio ao regime militar, redigida pelo jurista Goffredo Silva Telles, e lida também na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

A maior parte dos empresários está nos grupos dos “anti”, seja contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PR). Desta forma, havia um medo generalizado entre determinados executivos – especialmente os que tendem a apoiar Bolsonaro – que, ao assinar uma carta de apoio à democracia, estariam em direto assinando um atestado de apoio a Lula. Segundo essa fonte, existe uma “multiplicidade de posicionamentos” entre os empresários, mais ou menos como ocorre na população brasileira em geral. Outros dois grupos bem definidos seriam os que têm o voto cristalizado em Lula ou Bolsonaro e a turma que quer, a todo custo, evitar a polarização. No entanto, a essa altura, o consenso de que uma terceira via venha a surgir é considerada bem improvável entre o setor produtivo.

A campanha de Lula tenta se manter afastada da organização dos eventos, para não contaminar a mobilização com o viés partidário. Aliados do presidente afirmam reservadamente, no entanto, que a mobilização de empresariado e sociedade civil contra as investidas de Bolsonaro sobre o sistema eleitoral são benéficas para o petista. O Grupo Prerrogativas, que concentra advogados criminalistas e tem realizado eventos de apoio a Lula, tem ajudado na construção das adesões à nova Carta aos Brasileiros. Entre advogados que já assinaram o manifesto estão Celso Antônio Bandeira de Mello, Alberto Toron e Pedro Serrano.

Dois atos estão programados para acontecer na manhã do dia 11, ambos na Faculdade de Direito da USP. O primeiro, com empresariado e entidades da sociedade civil, deve ocorrer no Salão Nobre da faculdade. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está capitaneando o contato com entidades produtivas e empresariais que aceitam participar do evento. Organizações da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), também irão participar. O texto de divulgação para este encontro ainda está em elaboração, pois depende de um ajuste entre entidades onde o posicionamento político é sensível.

Já o segundo ato do dia será aberto, com a leitura da Carta aos Brasileiros — a qual os empresários aderiram como pessoa física — será feita pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello.

Fonte: Estadão Conteúdo