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Terça-feira, 23 de julho de 2024

Inflação dos streamings testa fidelidade de assinantes

A ESPN+, o serviço de streaming de esportes da Disney nos Estados Unidos, acaba de anunciar um reajuste de 43% na assinatura, indicando o difícil caminho da indústria para conciliar a disparada dos custos de produção — evidenciada pelo aumento dos direitos de transmissões esportivas — com a renda do consumidor, cada vez mais comprimida.

No streaming de esportes da Disney, o valor saiu de US$ 6,99 para US$ 9,99 mensais, um aumento ainda insuficiente para compensar os custos mais altos. Para se ter uma ideia do impacto dos direitos de transmissão mais caros, basta olhar o último balanço trimestral da Disney. No trimestre fechado em abril, os custos de programação e produção da ESPN+ escalaram 48%.

Entre investidores, o reajuste na assinatura da ESPN+ repercutiu bem e as ações da Disney subiam quase 2,6% no início da tarde. O conglomerado de entretenimento e mídia está avaliado em US$ 169,9 bilhões em bolsa.

Com uma programação que inclui partidas exclusivas da NFLe documentários como o badalado “Man in The Arena: Tom Brady”, a ESPN+ vem apostando na capacidade de seu catálogo para emplacar o reajuste sem afastar os consumidores.

Nos últimos tempos, a aposta da Disney no streaming de esportes vem atraindo a audiência. O número de assinantes do serviço chegou a 22,3 milhões em março, um crescimento de 62% em 12 meses, mostrou uma reportagem da Bloomberg.

Ainda assim, o negócio perde dinheiro. Juntos, os serviços de streaming do conglomerado — que incluem Disney+, Hulu e ESPN+ — registraram um prejuízo de quase US$ 900 milhões no trimestre encerrado em abril (o último divulgado).

A dúvida agora é sobre a capacidade dos consumidores para aceitarem esse nível de preço. Na Disney, o reajuste no streaming da ESPN+ poderia ser levemente contornado com a assinatura combo de Disney+, Hulu e ESPN+, que não teve o preço alterado — o serviço custa US$ 13,99 por mês. Com o reajuste no serviço exclusivamente esportivo, a Disney talvez alavanque o combo.

Enquanto tenta lidar com os custos mais altos repassando ao consumidor, a rival Netflix ainda dá os primeiros passos para criar um serviço mais barato com anúncios. A firma de Reed Hastings – que também aumentou preço de assinaturas este ano nos Estados Unidos, Austrália e Canadá – anunciou nesta semana um acordo com a Microsoft para desenhar um serviço com os anúncios.

A construção do produto da Netflix, no entanto, não será nada trivial. “Provavelmente será um longo e difícil caminho para escalar, e a Netflix enfrentará mais ceticismo dos anunciantes do que imaginava inicialmente”, analisa o site The Information.

Na prática, a retomada do ritmo de crescimento da base de assinantes da Nexflix depende oo sucesso do novo serviço baseado em anúncios. No curto prazo, a desaceleração é difícil de contornar. Num relatório divulgado hoje, o UBS reiterou estimou que as perdas de anunciantes no segundo trimestre devem mesmo ficar em 2 milhões (em linha com a sinalização da diretoria).

O banco também trabalha com um ritmo de crescimento muito mais baixo no segundo semestre. A previsão é que, no terceiro trimestre, o número de assinantes líquidos aumente apenas 1,3 milhão. A estimativa anterior era de 2,8 milhões, enquanto o consenso de mercado aponta para 1,9 milhão. Na comparação com o ano passado, a desaceleração é impressionante. No terceiro trimestre de 2021, a companhia obtivera 4,4 milhões de assinantes.

Fonte: Pipeline Valor