Internacional
Domingo, 19 de maio de 2024

Pedestres morrem de bala perdida e tiroteios aumentam nos EUA

Um bebê no assento do carro, um homem na própria cama, uma menina que caminhava junto à sua mãe: cada um deles morreu de balas perdidas com poucos dias de diferença e em um momento em que a violência armada aumenta nos Estados Unidos.

Além dos números recordes de suicídios e de homicídios em várias cidades do país, uma quantidade não informada de pessoas morre por balas que não estavam destinadas a elas.

Essas mortes chamam brevemente a atenção dos jornais e da polícia, como ocorre com os tiroteios em massa. Depois, a atenção sobre o assunto diminui até a próxima tragédia.

“Acontece com muita frequência”, disse Chris Herrmann, um especialista em violência armada da John Jay College of Criminal Justice, de Nova York. “Se isso acontecesse em outro país, seria primeira página de jornal”, acrescentou.

Em 16 de janeiro passado, Matthew Willson, um astrofísico britânico de 31 anos, dormia na casa da namorada, em Atlanta, quando acordou com o barulho de tiros. Pouco depois, foi fatalmente ferido.

“É impossível entender como isso pode ser certo”, lamentou sua irmã Kate ao jornal The Atlanta Journal-Constitution.

Quase uma semana depois, Kerri Gray dirigia com seu filho de seis meses, quando ouviu um barulho, e dois carros passaram a toda velocidade.

“Não houve vidros quebrados. Não houve gritos. Foi um instante”, disse à imprensa, após a morte de seu bebê.

Melissa Ortega, de 8 anos, caminhava por uma rua de Chicago em 22 de janeiro, quando um homem atirou contra outro. Acabou acertando nela e tirando sua vida.

“Ele me tirou o propósito de existir. A razão pela qual eu me levantava todos os dias. Me roubou uma vida cheia de sonhos”, lamentou a mãe da menina, Araceli Leanos, ao canal Univision TV.

O FBI (a Polícia Federal americana) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) disseram que não fazem um monitoramento das mortes por balas perdidas nos Estados Unidos. Anualmente, cerca de 40.000 pessoas morrem por armas de fogo no país. Na maioria dos casos, trata-se de suicídio.

Os números oficiais diferenciam entre as mortes acidentais e intencionais, mas não sobre as circunstâncias exatas dos fatos.

Herrmann estima que as mortes por balas perdidas são entre 1% e 2% do total dos falecimentos por armas de fogo. Este número aumenta, ou diminui, em função da quantidade de tiroteios em massa.

“Quando os tiroteios aumentaram 10%, vimos 10% de aumento em alvos não desejados”, comentou, explicando que vê o termo oficial “alvos” como desumanizante.

O problema da violência armada nos Estados Unidos aumentou desde o início da pandemia. Os protestos por justiça racial em 2020 e no final de 2021 apresentaram números recordes de homicídios em grandes cidades como Filadélfia, Austin, Columbus e Indianapolis.

Apesar de a taxa nacional de homicídios permanecer abaixo dos picos das décadas de 1980 e 1990, aumentou em 2020 a um ritmo que não se via desde o início dos registros nacionais, em 1960.

Ao mesmo tempo, as vendas de armas de fogo marcaram um recorde em 2020, com em torno de 23 milhões de armas vendidas, seguido por cerca de 20 milhões em 2021, relata a consultoria Small Arms Analytics & Forecasting.

Fonte: AFP