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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Selic decola a 9,25%, maior patamar em quatro anos; BC assume tom duro e indica nova alta de 1,5 ponto em fevereiro

Com a nova alta de 1,5 ponto concretizada hoje, a Selic saiu do patamar de 2% em janeiro e fecha o ano em 9,25%

Em janeiro, quando a Selic estava em 2% ao ano — o menor patamar de toda a série histórica —, muito se falava numa mudança de paradigma para a economia brasileira: taxas estruturalmente baixas eram o novo normal. Mas, passados menos de 12 meses, eis que o cenário mudou radicalmente; tanto é que o Copom acaba de elevar os juros a 9,25% ao ano, no maior patamar desde julho de 2017.

Gráfico de linha mostrando a evolução da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, desde 2017. O Copom, do Banco Central (BC), define a taxa em reuniões a cada 45 dias
O patamar de 9,25% ao ano atingido hoje se equipara ao visto em julho de 2017

Com a nova alta de 1,5 ponto decretada hoje, o BC cumpriu com o prometido na reunião de setembro e deu continuidade a um dos programas de aperto monetário mais intensos do mundo — ao todo, a taxa básica de juros brasileiras deu um salto de 7,25 pontos apenas em 2021. E essa escalada continuará no ano que vem: o Copom já deixou claro que uma nova alta de 1,5 ponto está contratada para a próxima reunião, em fevereiro.

Ou seja: mantido o cenário atual, a Selic irá para 10,75% no começo de 2022, retornando ao patamar de dois dígitos; o tão comemorado novo normal de juros baixos no Brasil não durou muito tempo.

A decisão de hoje foi unânime; a inflação cada vez mais elevada, as incertezas político-fiscais e os riscos relacionados à Covid têm pressionado o Copom a subir com os juros de maneira intensa. O boletim Focus, por exemplo, já trabalha com uma projeção de IPCA de 5,02% em 2022, acima do teto da meta para o ano, de 5%.

Copom: mudança no tom

O comunicado emitido há pouco mostra uma mudança bastante clara no tom assumido pelo BC: num dos trechos mais explícitos, a autoridade diz que “é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista” — até agora, o Copom vinha hesitando em assumir uma postura nitidamente dura em sua comunicação.

O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Trecho da decisão de juros da 234ª reunião do Copom

Ao longo do documento, o BC vai enumerando os motivos que provocaram essa mudança: no exterior, a inflação transitória está cada vez mais permanente, e o surgimento da variante ômicron da Covid-19 coloca uma camada extra de incerteza no cenário internacional; no Brasil, os indicadores macroeconômicos seguem piores que o esperado.

Esse ajuste no tom, deixando claro uma postura firme no combate à inflação, era esperado por parte dos agentes do mercado financeiro, que viam com preocupação a possível desancoragem das expectativas para 2022. A sinalização de hoje, assim, deve trazer impactos mais significativos à porção curta e média da curva de juros nos próximos dias.

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O Copom também atualizou suas perspectivas para o cenário básico: partindo de um dólar a R$ 5,65 e usando as premissas do boletim Focus, a autoridade monetária projeta que a inflação para 2022 ficará em 4,7% — um patamar acima dos 4,1% previstos na reunião de outubro, mas que ainda fica abaixo do teto da meta de 5%.

O BC também enviou o rotineiro aviso ao governo quanto à trajetória fiscal do país. Além de apontar preocupação quanto às políticas de combate à pandemia, o comunicado segue batendo na tecla de que “questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos”.

Fonte: SeuDinheiro