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Quinta-feira, 2 de maio de 2024

Para conter inflação, BC sobe taxa básica de juros para 5,25%, maior alta em 18 anos

Com olho nas expectativas de inflação de 2022, o Banco Central (BC) subiu a taxa básica de juros de 4,25% para 5,25% nesta quarta-feira. Foi a quarta alta seguida na Selic, que estava em 2% no início deste ano.

O aumento de 1 ponto percentual (p.p) foi maior do que o sinalizado na reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom). Em junho, o aceno foi de um aumento de 0,75 p.p com a ressalva de que uma piora nas expectativas poderia levar a altas maiores. Apesar disso, a subida mais intensa já era esperada pelo mercado financeiro justamente por conta das sucessivas altas nas expectativas de inflação para 2021 e 2022.

“Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação”, apontou o comunicado. A última vez que o BC decidiu por uma alta de juros de 1 p.p em uma única reunião foi em fevereiro de 2003, quando subiu a Selic de 25,5% para 26,5%.

Para a próxima reunião marcada para setembro, o BC sinalizou uma nova alta de 1 p.p, elevando a Selic para 6,25% ao ano. Nesse patamar, os juros se aproximam do nível considerado “neutro”, que não estimula nem prejudica a atividade econômica. Economistas calculam que esse valor está entre 6% e 7%.

No comunicado, BC também demonstrou mais preocupação com a inflação e disse que deve continuar subindo os juros além do patamar neutro. É uma mudança de avaliação em relação à reunião anterior, quando o BC esperava que os juros neutros seriam suficientes para conter a inflação para 2022.

“Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação”.

Inflação

Na época da última reunião do Copom, a projeção de inflação para 2021 era de 5,82% e para 2022, 3,34%, abaixo da meta de 3,5% estipulada para o próximo ano. Já no relatório Focus mais recente, que reúne as projeções do mercado, as estimativas estavam em 6,79% para este ano e 3,81% para o próximo.

O principal objetivo do Banco Central é atingir a meta e o instrumento para isso é a taxa Selic. Ao aumentar os juros, o crédito tende a diminuir, assim como o consumo, o que diminui a inflação. No entanto, esse efeito demora de seis a nove meses para chegar na economia real.

A trajetória de alta nos juros acontece ao mesmo tempo em que os índices de inflação subiram mês após mês. Em junho, a alta acumulada de 12 meses ficou em 8,35%, bem acima da meta de 3,75% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Mesmo com o intervalo de tolerância de 1,5 p.p para cima ou para baixo, a inflação deve acabar o ano acima do teto da meta, em 6,79%, de acordo com o relatório Focus. No comunicado, o Copom disse que a inflação ao consumidor “continua se relevando persistente” e destacou a inflação de serviços e a continuidade de pressão por bens industriais.

“Aém disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas”, diz o texto.

Riscos fiscais

Entre os riscos para uma alta de inflação, o BC citou possíveis novos prolongamentos de políticas fiscais de resposta à pandemia. Esses programas poderiam pressionar a demanda, como o auxílio emergencial fez no ano passado e “piorar a trajetória fiscal” do país, segundo o comunicado.

De acordo com o BC, apesar da melhora nos índices da dívida pública, o risco fiscal “segue elevado”. Para conter esse risco, o comunicado reitera a importância do processo de reformas e de ajustes na economia.

No cenário externo, o comunicado lembra da variante Delta da Covid-19, que pode prejudicar o processo de recuperação da economia no mundo e ainda adiciona um risco de alta na inflação nas economias “centrais”. Internamente, o BC avalia que a recuperação é positiva.

“Os indicadores recentes continuam mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre”, aponta o comunicado.

Fonte: O Globo