Cultura
Terça-feira, 21 de maio de 2024

Caetano Veloso quer saber o futuro dos milhares de Enzo Gabriel, o nome de 2019

Lançado nesta quinta (21), o novo álbum do Caetano Veloso, “Meu Coco”, é composto por 12 faixas que articulam profecia, nomes, amores carnais e leituras do mundo e da cultura brasileira.
O músico mobiliza nomes de artistas, personalidades, familiares e amigos na construção das canções. Há nomes conhecidos, alguns menos célebres e outro de significado pessoal.
“Nomes não pararam de surgir”, diz Veloso. “Aconteceu na primeira canção, mas não foi planejado, não tinha a intenção de fazer um disco assim. Mas terminou ficando muito”.
Veja a seguir todos os nomes que aparecem em “Meu Coco”.

‘Meu Coco’
A canção carro-chefe do disco cita a atriz Leila Diniz e as cantoras Nara Leão, Elis Regina e Maria Bethânia, personalidades femininas fortes. João Gilberto está no centro do enigma do Brasil (“somos chineses”). Surgem ainda os compositores Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso e figuras históricas como Zumbi dos Palmares e Princesa Isabel (“Zabé”).
Simone Raimunda, citada no primeiro verso, é a modelo baiana que assumiu o nome Luana de Noailles e desfilou para marcas internacionais como Chanel, Dior e Paco Rabanne. Luana cresceu no bairro popular da Liberdade, em Salvador. “Eu a conheci antes de ela ganhar o pseudônimo”.
Moreno é Moreno Veloso, seu filho. Zabele, cantora, é filha de Pepeu Gomes e Baby do Brasil. Amora é Amora Mautner, diretora da Rede Globo e filha de Jorge Mautner. Amon é Amon Pinho, professor da Universidade Federal de Uberlândia, filho de Roberto Pinho, o antropólogo que apresentou Caetano a ideias sebastianistas nos anos 60. Manha é Manhã de Paula, filha da dançarina Maria Esther Stockler e do escritor José Agrippino de Paula. A garota morreu num acidente de automóvel, em São Paulo.
Ainda cita “Irene”, a canção, que se refere ao riso de sua irmã.

‘Anjos Tronchos’
Cita três mestres da música erudita: Arnold Schönberg, Anton Webern e John Cage, marcantes em seu diálogo com o poeta concreto Augusto de Campos, citado de modo cifrado na letra: “Mas ha poemas como jamais/ Ou como algum poeta sonhou”.
“Hobsbawm atribuiu a revolução iraniana, que instaurou uma teocracia, ao desenvolvimento tecnológico que tinha resultado naquela altura no gravador pequeno a fita cassete”, diz Caetano. “Vi um paralelo nisso e isso me fez continuar a pensar outras coisas a respeito do desenvolvimento da internet, do smartphone e de outras coisas.”
No último verso, surge a cantora americana Billie Eilish e seu irmão Finneas.

Autoacalanto”
Canção dedicada a Benjamin, seu neto, filho de Jasmine e Tom Veloso.

‘Enzo Gabriel’
Nessa canção utópica, Veloso se inspira no nome mais registrado em cartórios do Brasil, em 2019: Enzo Gabriel. Com uma linha profética, a música enfeixa o fascínio duradouro do artista pelo futuro do país.
“Foram batizados muitos milhares de brasileiros com esse nome ‘Enzo Gabriel’. Então eu pergunto qual será o seu papel na salvação do mundo?”, diz Caetano.
“A gente está passando por um período difícil, que nega muito tudo o que pode ser bonito numa canção ou na vida. E, quando a pergunta vem, é feita por um eu lírico que ainda está ligado à ideia de missão salvacionista do Brasil.”

‘Gilgal’
Com uma batida de candomblé, menciona “orixás” da música brasileira: Pixinguinha, Jorge Ben, Djavan, Wilson Batista, Jorge Veiga, Carlos Lyra, Milton Nascimento e o grupo Os Tincoas.

‘Você-Você’
No fado, Veloso cita os nomes dos compositores Ary Barroso, Noel Rosa, Tom Jobim, Chico Buarque e da fadista Amália Rodrigues. Aparecem ainda Peri e Ceci, personagens de “O Guarani”, de José de Alencar, e Ganga Zumba, o primeiro líder do quilombo de Palmares. Cacá Diegues dirigiu um filme sobre o líder negro.

‘Sem Samba Não Dá’
No único samba do álbum, ele cita jovens artistas da música brasileira: o duo Anavitoria; as cantoras Marilia Mendonca, Duda Beat, Gloria Groove, Majur, Maiara e Maraisa, Simone e Simaria; os cantores Ferrugem e Leo Santana; o duo Youn; MC Cabelinho, DJ Gabriel do Borel; os rappers Baco Exu do Blues, Hiran, Tz da Coronel e Djonga, que sampleou o tropicalista Rogerio Duarte, também citado na letra. Por fim, a banda feminina Dida.

Fonte: FolhaPress/Claudia Leal