Numa operação inédita para tentar tirar do poder o premiê autocrata da Hungria, Viktor Orbán, seis partidos de oposição anunciaram neste domingo (17) seu candidato único à eleição de 2022.
Após uma votação em dois turnos, o escolhido foi o conservador Péter Márki-Zay, engenheiro eletricista de 49 anos que trabalhou em vendas e entrou para a política em 2018, com uma plataforma antissistema.
Naquele ano, Márki-Zay também contou com uma frente de partidos para derrotar o partido de Orbán, o Fidesz, em um de seus redutos, e se tornar prefeito da cidade de Hódmezövásárhely.
Com cerca de 74% dos votos da primária de oposição apurados, o candidato conservador tinha 57% dos votos, enquanto a outra concorrente, a social-democrata Klára Dobrev, também de 49 anos, contava 43%.
Ela reconheceu a vitória de Márki-Zay e, apesar das farpas trocadas durante o processo de escolha, anunciou-o como “o candidato a premiê de nossa frente de seis partidos” e prometeu “apoiá-lo com todas as forças para substituir o governo de Viktor Orbán e, em seguida, desmontar o sistema que ele criou”.
A aliança é vista como a única forma de derrubar o premiê, já que ele alterou o sistema eleitoral do país para conseguir controlar dois terços do Parlamento com apenas 42% dos votos na eleição de 2014.
Devido a essa distorção, fruto da redução do número de distritos eleitorais e da alteração dos perímetros das circunscrições para favorecer o Fidesz –manobra conhecida como “gerrymandering”–, a frente precisa fazer mais que escolher um único candidato se quiser desalojar Orbán.
Assim, os planos são lançar apenas um nome em cada um dos 106 distritos eleitorais e uma lista comum para as outras 93 cadeiras do Parlamento, além de um programa eleitoral conjunto.
O pacto para lançar um único candidato entre siglas muito diferentes, que vão dos socialistas à direita, foi firmado em dezembro, quando, isolados, os partidos tinham no máximo 14% das intenções de voto.
Desde então, a frente única aparece na média das pesquisas virtualmente empatada com o partido de Orbán, com cerca de 48% dos eleitores. Nos dois turnos dos quais Márki-Zay saiu vencedor participaram mais de 600 mil eleitores, ou cerca de 11% dos que foram às urnas na eleição de 2018.
Márki-Zay foi apoiado por políticos liberais e de centro-esquerda, como o prefeito de Budapeste, Gergely Karácsony, porque foi considerado com mais potencial para atrair o eleitorado indeciso e os conservadores descontentes com o governo iliberal de Orbán.
Durante o seu governo, o premiê ultranacionalista, no poder desde 2010, promoveu uma escalada de ataques contra direitos LGBT, imigrantes e a imprensa independente.
Karácsony, que antes das prévias era visto como favorito a liderar a oposição contra o premiê, ficou em segundo lugar no primeiro turno e abandonou a disputa na semana passada, quando pesquisas de opinião mostraram que Márki-Zay parecia estar mais bem colocado para vencer Dobrev.
Eurodeputada e vice-presidente do Parlamento Europeu, ela foi a mais votada no primeiro turno, mas membros da oposição temiam que pudesse ser um alvo mais exposto contra Orbán, por ser mulher do controvertido ex-premiê Ferenc Gyurcsány, que governou a Hungria de 2004 a 2009 pelo socialista MSZP.
Enquanto a sombra da esquerda sobre Dobrev poderia afastar eleitores mais conservadores, principalmente do interior, Márki-Zay se apresenta justamente como um ex-eleitor do Fidesz –”cristão e de direita”–, decepcionado com os rumos tomados pelo atual premiê húngaro.
O conservador escolhido neste domingo foi cofundador em 2018 do Movimento Hungria para Todos (MMM, na sigla em húngaro), grupo apartidário que trabalha pela união dos que se opõem a Orbán.
Fonte: FolhaPress/Ana Estela Sousa