Internacional
Sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Putin faz teste inédito com míssil hipersônico lançado de submarino

A Rússia anunciou nesta segunda (4) que lançou com sucesso pela primeira vez um míssil hipersônico de um submarino, ampliando as possibilidades de uso deste tipo de armamento.
O 3M22 Tsirkon (Zircão) foi lançado do submarino nuclear Severodvinsk no mar de Barents, no Ártico. Um vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa em Moscou mostrou o míssil sendo disparado, à noite, e segundo o órgão um alvo não especificado foi destruído.
O Tsirkon é uma das “armas invencíveis”, aspas naturalmente compulsórias, anunciadas em 2018 pelo presidente Vladimir Putin. Diferentemente de dois outros modelos hipersônicos, o Kinjal e o Avangard, ele teoricamente não foi feito para carregar armas nucleares.
Sua função básica é servir de arma antinavio. Ele é um míssil de cruzeiro composto por dois estágios, um com combustível sólido que o coloca em uma altitude de até 28 km, quando é acionado um motor alimentado com propelente líquido conhecido como scramjet, que o impulsiona até a Mach 9 (11 mil km/h).
Não há muitos detalhes sobre sua carga bélica ou se as alegações de que ele é manobrável durante o voo são precisas, evitando defesas, mas de forma geral especialistas concordam que o armamento está em fase avançada. O Kinjal (Punhal) e o Avangard (Vanguarda) já estão em uso limitado pela Rússia.
O Tsirkon começou a ser testado em 2012, com lançamentos de protótipos de aviões e bases terrestres. Desde o começo de 2020, ele passou a ser usado na fragata Almirante Gorchkov, que já o lançou cinco vezes desde então.
O uso submarino torna a arma ainda mais imprevisível, dada a furtividade de sua plataforma de lançamento, podendo atingir alvos entre estimados 250 km e 1.000 km. Ele também terá uma versão terrestre.
O testo ocorre na semana seguinte ao anúncio feito pela Coreia do Norte de que o regime de Kim Jong-un havia lançado um planador hipersônico com sucesso.
Não há dados de inteligência que possam comprovar a afirmação, mas ela é um salto qualitativo enorme para a ditadura comunista, que tem armas nucleares e também testa mísseis intercontinentais e lançados de submarino.
Se for verdadeiro, o míssil é semelhante ao Avangard: lançado por um ICBM (míssil intercontinental), a partir de certa altura é destacado um planador que segue em velocidades hipersônicas, manobrando contra defesas antiaéreas até seu alvo.
Hoje, Rússia e, depois, a China estão em estágio mais avançado na aplicação dessa tecnologia. Os EUA testaram recentemente com sucesso, após uma série de fracassos, um modelo hipersônico, mas a Força Aérea do país segue relativamente cética em relação a ao custo-benefício desse tipo de armamento, e tem acelerado a produção de novos bombardeiros furtivos.
Politicamente, o disparo demonstra força em um momento de extrema tensão em sua relação com a Otan (aliança militar ocidental). Desde que o presidente Joe Biden assumiu o governo americano em janeiro, houve uma deterioração no contato com o Kremlin.
Em abril, Putin fez uma grande movimentação de tropas para pressionar a Ucrânia a não tentar retomar militarmente as áreas separatistas pró-Rússia que, desde 2014, estão autônomas no leste do país. Houve alarme na Europa, e a retórica militarista dos dois lados só fez crescer.
Já em junho, os russos deram tiros de advertência contra uma fragata britânica na costa da Crimeia, península anexada da Ucrânia em 2014. No mês passado, uma versão anabolizada do maior exercício anual das Forças Armadas russas também gerou queixas de falta de transparência no Ocidente.
No Zapad (Ocidente)-2021, talvez 200 mil homens se exercitaram em campos na Rússia e na Belarus, aliado do Kremlin que vive às turras com membros orientais da Otan como a Polônia.
Além disso, o Kremlin reclamou nesta segunda do que chama de campanha ocidental de difamação. No domingo (3), um consórcio internacional de imprensa publicou revelações sobre contas e propriedades de aliados de Putin no exterior, incluindo uma casa milionária em Monte Carlo que seria de uma ex-amante do presidente.

Fonte: FolhaPress/Igor Gielow