A Azul já tem planos para o futuro, se conseguir completar a aquisição da rival Latam Brasil. Pelo menos, é o que conta John Rodgerson, sócio e CEO da operadora. “Hoje, voamos para 110 cidades e queremos terminar o ano com 135. Se tiver fusão, chegaremos a 200”, diz. A empresa acredita que este é o maior potencial de destinos no momento para o Brasil. “Seria muito saudável conectar Alta Floresta, no Mato Grosso, com Frankfurt”, defende.
A empresa, criada em 2008 por John Neeleman, americano nascido em São Paulo, cresceu na última década explorando cidades pouco atendidas pelas grandes empresas do setor. “O nosso modelo de negócios não depende do triângulo São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília”, afirma Rodgerson, que ajudou a montar a empresa e assumiu a gestão das operações em 2017. “Essas cidades dizem respeito a 92% dos assentos vendidos em voos dos nossos rivais. Para nós, são apenas 37%.” Com essa estratégia, a empresa consegue utilizar aeroportos onde não há concorrência de outras grandes empresas, permitindo praticar margens de lucro maiores. Ela é única companhia aérea voando em 80% de suas rotas.
Com tal modelo de negócios, a Azul acabou se tornando a maior empresa em voos domésticos, após a pandemia. Isso a credenciou a buscar uma revolução que pode estar se desenhando no setor, conforme mostra reportagem de VEJA. A compra, no entanto, encontra resistência por parte do grupo Latam, que deve apresentar nos próximos meses seu plano de recuperação judicial, nos Estados Unidos. A Azul promete que, depois disso acontecer, apresentará a sua proposta para assumir as operações do grupo no Brasil.
A Latam, que detinha 38% do mercado doméstico em março de 2020 — quando a Covid-19 chegou aqui –, ficou com 28,5% no último mês de abril. Já a Azul tinha 25% e chegou a 45%, na mesma comparação de meses. Com isso, ultrapassou a Gol e a Latam.
Perguntado se as afirmações de compra da rival seriam apenas uma estratégia para fragilizar o rival, Rodgerson diz que a Azul tem planos para, de fato, consolidar e se expandir no Brasil e que uma prova disso seria a opção dos principais executivos da empresa permanecerem no Brasil. Neeleman, que já criou também a americana JetBlue Airways, lançou neste mês uma nova companhia regional nos Estados Unidos, a Breeze Airlines. “Eu e o grupo executivo todo da Azul tivemos a oportunidade para sair. Eu poderia ser o presidente da nova empresa”, afirma. “Mas ninguém saiu, porque a gente acredita no potencial do Brasil.”
Se a proposta da Azul for aceita pelos credores da Latam, alguns deles com interesses nas duas empresas, haverá ainda uma batalha para a aprovação da fusão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade. As visões do que poderia acontecer na análise pelo órgão diferem muito, de acordo com a fonte de mercado ouvida, mas a Azul estaria disposta a conceder alguns voos em que houvesse sobreposição entre as duas empresa, o que não são muitos, já que a Latam se reforçou muito, nos últimos anos, em suas operações internacionais, enquanto a Azul fez o caminho para o interior brasileiro, turbinado pelos agronegócios. Agora, o mercado espera os próximos passos da cada vez mais agressiva e competitiva Azul.
Fonte: Veja