Cultura
Quinta-feira, 3 de outubro de 2024

‘Empolgante trazer algo novo’, Jovens órfãos ajudam Sherlock Holmes em série

VITOR MORENO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem nunca brincou de detetive na infância e sonhou em ser assistente de Sherlock Holmes que atire a primeira pedra. Pois é exatamente isso que um grupo de órfãos acaba fazendo em “Os Irregulares de Baker Street”, série que estreia nesta sexta-feira (26) na Netflix.
A trama mistura o universo clássico do detetive com uma série de mistérios sobrenaturais que assolam a Inglaterra vitoriana. Para conseguir informações com o povo das ruas, o doutor Watson (Royce Pierreson) acaba fazendo contato com o grupo, que passam a ser pagos para isso.
Entre eles, está Jessie, uma jovem atormentada que descobre ter o poder de ler a mente das pessoas. “Sempre pensei em ter um superpoder, mas sempre quis poder voar, esse era o meu negócio, ou ser invisível, que também deve ser muito legal”, brinca a atriz Darci Shaw, 18, que interpreta a jovem, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Ela revela que, antes de aceitar o papel, fez teste para dar vida de Bea, a irmã mais velha de Jessie –a personagem acabou ficando com a atriz Thaddea Graham, 23. Moradora de Liverpool, ela ficou muito feliz ao descobrir que a série seria gravada na cidade. “Pensei que nunca iria conseguir, era bom demais para ser verdade”, conta.
“Sempre fui meio fã de Sherlock Holmes”, afirma. “Assistir a alguém tão inteligente quanto Sherlock Holmes, com uma mente brilhante, é muito fascinante. Você fica tentando descobrir qual é o mistério. As pessoas adoram adivinhar.”
Jojo Macari, que interpreta o briguento Billy, concorda. “Acho que é um personagem que está encravado na cultura britânica, como Harry Potter e James Bond”, compara. “Lembro que meu pai lia histórias de mistério para me fazer dormir, o que, pensando bem, é muito estranho. Mas acho que desde então um personagem assim estava na minha lista de desejos.”
O ator conta que fez um treinamento físico para ficar bem diferente do nerd que viveu em “Sex Education”. “Numa das primeiras aparições do Billy, o texto dizia: ‘Ele entra e está absolutamente sarado’. Na época, eu nunca tinha ido à academia em toda a minha vida (risos)”, revela. “Fui no primeiro dia e deu tudo certo. Cheguei no segundo dia me achando, aí o instrutor falou: ‘Talvez hoje possamos tentar com algum peso’. Ficou muito mais difícil desde então.”
Ele conta que adorou a série desde que pegou o roteiro para ler. “Eu estava tendo um dia horrível, para ser sincero, tinha acabado de terminar um relacionamento e fiz cinco testes em um dia, o que é muito”, conta. “Mas quando entrei para fazer o teste, algo imediatamente clicou. Acabei sendo o primeiro Irregular da gangue.”
Depois dele, muitos atores foram testados para os diversos papéis. Eles também fizeram rodadas de leituras com diferentes formações para ver como era a química entre os atores.
“Estávamos todos hospedados em um hotel em Liverpool, então passávamos o dia inteiro juntos”, lembra Macari. “Se houvesse um ovo podre no grupo, eu teria enlouquecido. Mas esses caras viraram amigos para toda a vida agora.”
Já Darci Shaw, por ser da cidade, conseguiu fazer todos se sentirem acolhidos. “Deu para apresentar todos à minha família”, lembra. “Quando eles voltaram para suas cidades eu me senti muito estranha. Foi um pouco triste.”
Essa sensação, aliás, foi sentida em duas ocasiões. É que a série estava em gravações quando a pandemia do coronavírus estourou. “Estávamos filmando e em março de 2020 tudo fechou”, lembra a atriz. “Ainda tínhamos algumas cenas a fazer, basicamente as cenas finais. Tivemos que esperar uns seis meses.”
Porém, ela diz não acreditar que isso tenha afetado o trabalho. “Quando você coloca os figurinos de novo, é como se nunca tivesse parado”, afirma. “Foi divertido rever todo mundo, teve gente da equipe que nem reconheci porque eles haviam perdido peso. Mas nós nos acostumamos a trabalhar com a Covid, fomos nos ajustando.”
Os atores explicaram que não procuraram ler muito os trabalhos de Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, porque, nos livros, os “Irregulares” são apenas citados. “A maneira como os roteiros são escritos é tão envolvente que você acaba sendo sugado”, conta Jojo Macari, que ouviu um audiolivro do detetive “para entrar no clima”.
Shaw elogia o criador da série, Tom Bidwell, pela criatividade. “Os ‘Irregulares’ apareciam em, sei lá, umas cinco ou seis linhas, mas Tom transformou isso em uma série inteira sobre eles”, contou. “Ele desenvolveu como cada personagem seria e a relação entre eles. Espero que as pessoas gostem.”
“Por mais que eu ame Sherlock Holmes, tudo sobre ele foi feito muitas vezes”, concorda Macari. “Acho super empolgante trazer algo novo e desenvolver esse mundo.”
Os atores contam que algumas cenas, em especial as que contêm elementos sobrenaturais, foram feitas com a ajuda de efeitos especiais. No primeiro episódio, por exemplo, o grupo é atacado por uma revoada de pássaros assassinos.
“A Thaddea Graham, que faz a Bea, tem muito medo de pássaros”, entregou Macari. “Mas o nosso diretor escondeu alguns pássaros ao redor do cenário e não nos disse onde eles estariam. Estávamos constantemente nervosos porque não sabíamos de onde eles iriam sair.”
Porém, medo mesmo eles estão da reação do público após a estreia da série nos cerca de 190 países em que a Netflix chega. “Eu acho que não pensei muito nisso, porque isso me assusta muito”, confessa Shaw. “Eu apenas finjo que não está acontecendo nada.”
Avisados de que os fãs brasileiros são vorazes nas redes sociais, eles já estão ansiosos para serem contatados. “Com o Instagram e outras redes sociais, não há nível de separação”, lembra Macari. “Se você gosta do meu trabalho, pode me mandar uma mensagem. É muito doido isso. Espero que todos sejam legais conosco.”