O governo chinês se reunirá a partir de sexta-feira em seu grande encontro político anual, uma sessão parlamentar que pode fortalecer ainda mais o controle de Pequim sobre Hong Kong. Os quase 3.000 deputados que integram a Assembleia Popular Nacional (ANP), como todos os anos, ratificarão como se fossem uma só pessoa as decisões do Partido Comunista Chinês (PCC), no poder, no solene Palácio do Povo em Pequim.
Com bandeiras vermelhas gigantes como pano de fundo, este importante evento também seria a ocasião para afirmar ainda mais a influência do presidente Xi Jinping, que está à frente da segunda potência mundial há oito anos. A reunião de 2020, atrasada pela primeira vez em 40 anos por causa da pandemia, foi para ele a oportunidade de proclamar a vitória do país sobre a covid-19.
A China, onde o coronavírus surgiu no final de 2019, conseguiu controlar amplamente a pandemia, que se espalhou pelo globo. Na tentativa de conter as dúvidas sobre sua responsabilidade, Pequim processou uma jornalista local que havia feito a cobertura da quarentena na cidade de Wuhan (o epicentro da pandemia).Playvolume00:00/01:12TruvidfullScreen
E, apesar do declínio da epidemia, a sessão parlamentar acontecerá com sérias restrições sanitárias, com presença limitada de jornalistas.
– O “sonho” de Pequim –
Os deputados de Hong Kong foram vacinados contra a covid-19, noticiou a imprensa. Sua cidade foi o centro do encontro no ano passado, com a ratificação de uma Lei de Segurança Nacional que sufocou a dissidência da ex-colônia britânica.
A região autônoma provavelmente vai recuperar destaque nesta edição, com uma reforma do sistema eleitoral que visa enfraquecer a autoridade dos vereadores distritais. Em uma votação realizada no final de 2019, quando Hong Kong estava passando por vários protestos pró-democracia, muitas cadeiras locais foram conquistadas por opositores do governo pró-Pequim.
Atualmente esses políticos representam o último contra-poder em Hong Kong e o regime chinês poderia tentar excluí-los do processo de nomeação da Assembleia Legislativa local, já controlado pela China em grande parte.
Um alto funcionário chinês alertou que Pequim quer garantir que apenas “patriotas” possam ser eleitos em Hong Kong, ou seja, partidários do regime comunista. A imprensa chinesa explicou que o objetivo é preencher as “lacunas” do sistema eleitoral.
As próximas eleições legislativas em Hong Kong, que voltou ao controle chinês em 1997, estão marcadas para setembro.
“Se a ANP adotar um texto de lei para reformar o sistema eleitoral de Hong Kong, Pequim chegará ainda mais perto de seu sonho: o controle absoluto” da metrópole financeira, ressalta a cientista política Diana Fu, da Universidade de Toronto.
Opositores de Pequim argumentam que o regime de Xi Jinping atropela o princípio do “Um País, Dois Sistemas”, que deveria garantir a autonomia do território até 2047.
Como todos os anos, a sessão será aberta na sexta-feira com um discurso do primeiro-ministro Li Keqiang, que nesta ocasião costuma revelar as metas de crescimento econômico para o ano em questão. No entanto, em 2020 isso não ocorreu devido às incertezas levantadas pela pandemia.
Vários especialistas esperam que não se divulguem dados específicos, nem para 2021 nem para o plano quinquenal 2021-2025, que deve ser aprovado durante esse encontro. A sessão “será particularmente importante porque acontecerá sob tensão excepcional: a pandemia e a complexa relação com os Estados Unidos”, explica o especialista Yuen Yuen Ang, da Universidade de Michigan.
Fonte: IstoéDinheiro