SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A revelação que o Ministério da Saúde argentino mantinha uma espécie de centro de imunização VIP -no qual políticos, seus familiares e outras pessoas próximas ao poder conseguiam furar a fila para receber a a vacina contra a Covid-19- causou uma nova crise no governo do presidente Alberto Fernández.
O escândalo, que ganhou o apelido de “Vacina Gate”, já derrubou um ministro, ameaça outros nomes da cúpula do governo e causou uma indignação na sociedade argentina.
Isso porque a facilidade com que essas personalidade tiveram acesso às doses contrasta com o ritmo lento da campanha de vacinação para a população em geral.
Até esta segunda (22), 722.234 tinham recebido ao menos uma dose de imunização no país, segundo dados do site Our World in Data. Isso significa que a cada 100 argentinos, apenas 1,6 recebeu a vacina até o momento. Para comparação, no Brasil a proporção é de 3,3 para cada 100 habitantes.
A estimativa atual é que o Ministério da Saúde tenha reservado para seu próprio uso e para vacinar pessoas próximas -incluindo políticos e familiares- cerca de 3.000 doses.
Na segunda, após a divulgação do caso, o governo admitiu que permitiu que pessoas que não estavam nos grupos prioritários furassem a fila da vacinação, mas revelou apenas 70 nomes que teriam se beneficiado do esquema.
O caso já está na Justiça. Na manhã desta terça-feira (23), o hospital Posadas (um dos principais do país) e a sede do Ministério da Saúde foram alvos de uma operação de busca e apreensão. Além disso, o ex-titular da pasta, Ginés González García -que renunciou por causa do escândalo- está sendo processado.
Quem revelou a história foi o jornalista Horacio Verbitsky, 79, um apoiador de longa data do peronismo (principal movimento político argentino, do qual faz parte Fernández) e que já foi assessor da ex-presidente e atual vice Cristina Kirchner.
Na semana passada, Verbitsky reconheceu publicamente que furou a fila para receber a vacina. Ele fez o anúncio porque o jornal Clarín, o principal do país, iria publicar no domingo (21) uma reportagem revelando o caso.
Em sua declaração, o jornalista, incriminou abertamente García, que já vinha desgastado dentro do governo. Verbitsky disse que tinha decidido se vacinar, e então telefonou “para o velho amigo Ginés”. O então ministro pediu que ele fosse até a sede do próprio Ministério da Saúde para receber a dose.
Além furar a fila, o veterano jornalista também não precisou fazer um cadastro para conseguir um horário para receber sua dose. Os argentinos têm reclamado muito desse processo e relatam que tanto a inscrição pela internet quanto pelo telefone apresentam problemas e demoram horas para serem concluídas.
Logo depois da primeira divulgação, mais casos começaram a ser revelados. Além do centro de vacinação no ministério, havia equipes dedicadas a distribuir vacinas em casa para os pacientes VIP.
Quando o caso veio à tona, apenas um pouco mais de um terço do 1,8 milhão de doses da vacina Sputink V que a Argentina recebeu da Rússia já tinha sido utilizado.
Naquele momento, a imunização estava restrita apenas para os profissionais de saúde na maior parte do país. A exceção era a Província de Buenos Aires (que não inclui a capital), onde pessoas com mais de 70 anos já tinham começado a receber a dose. Na cidade de Buenos AIres, a vacinação de idosos com mais de 80 começou apenas nesta segunda.
A Argentina contratou 5 milhões de doses da Sputnik V para serem entregues em fevereiro, mas a produção atrasou, e novas levas programadas para março e abril também devem sofrer o mesmo problema. Nesta semana deve ter início ainda a vacinação com a Oxford/AstraZeneca, a partir de um convênio com o México.
A demora para dar celeridade à vacinação já vinha irritando os argentinos e a revelação de vários personagens ligados ao poder vacinados com antecedência só aumentou a revolta.
Entre os 70 beneficiados divulgados pelo governo estão o ex-presidente Eduardo Duhalde, 79, sua mulher, sua filha e seu secretário particular; o principal sindicalista do país, Hugo Moyano, 77, sua mulher e seu filho mais novo; o líder da Câmara, o deputado peronista Sergio Massa, 48, e toda sua família; o procurador do Tesouro e ex-assessor de Cristina, Carlos Zannini, 66; o ministro da Economia, Martín Guzmán, 38; o assessor de imprensa de Fernández, Juan Pablo Biondi, 48; o chefe de gabinete do presidente, Santiago Cafiero, 41; e o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, 64.
Tanto Fernández quanto Cristina também já receberam a imunização, mas o caso deles é diferente. Ambos foram vacinados publicamente, em uma tentativa de aumentar o apoio da população à campanha.
Assim que o caso foi revelado, o presidente pediu a renúncia de Ginés González García e o substituiu pela então número dois da pasta, Carla Vizzoti.
Assim que assumiu, a nova ministra disse que as vacinações ilegais eram apenas “casos pontuais” e que, por ordem do presidente, iria aumentar a fiscalização sobre o calendário de vacinação. Ela se comprometeu, ainda, a divulgar o nome dos beneficiados caso o episódio se repetisse.
Do outro lado, a oposição aproveitou o episódio para criticar o governo. Por meio de suas redes sociais, o ex-presidente Mauricio Macri, 62, disse que condenava a existência do centro de vacinação VIP e que só irá se vacinar quando chegasse a sua vez. “Não passarei na frente de nenhum argentino que seja idoso ou da população de risco.”
Internacional
Quinta-feira, 3 de outubro de 2024
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
SP: Reta final tem Nunes, Boulos e Marçal em busca de indecisos
Os três candidatos devem mirar eleitores jovens, mulheres e idosos No último debate do primeiro turno, os candidatos Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) pretendem buscar o voto dos eleitores indecisos. O percentual de pessoas que ainda não definiu o voto na capital paulista é de 6%, segundo a última pesquisa estimulada da Quaest. Diante do...
Política
Fintech Nomad amplia oferta de serviços com cesta de investimentos nos EUA
Quem assiste às propagandas da Nomad com o astro americano Will Smith pode pensar que a fintech brasileira, fundada por Patrick Sigrist, um dos criadores do iFood, teve uma jornada tranquila. Não foi bem assim. Criada em 2019, a empresa teve as operações iniciadas em 2020, em plena pandemia, com o nome de OutInvest. Pretendia ser uma conta internacional integrada...
Negócios
A tão temida “guerra aberta” no Oriente Médio chegou
“Do ponto de vista de Israel, estamos em uma guerra regional desde 7 de outubro, e essa guerra agora é total”, disse Michael Oren, ex-embaixador de Israel nos EUA e um dos diplomatas mais linha-dura do país O cenário de uma “guerra ampliada” no Oriente Médio, temido há tempos, finalmente se concretizou. Nos últimos 360...
No Mundo
O que ainda falta para o Brasil melhorar nota e recuperar grau de investimento?
Com a elevação da nota de crédito pela Moody’s, o Brasil está agora a um passo do chamado grau de investimento, nível de classificação de risco perdido em 2016. O grau de investimento funciona como um atestado de que os países não correm risco de dar calote na dívida pública. É uma espécie de selo de...
Economia
Empresas que atuaram na campanha acusam Marçal de calote
Duas empresas que atuaram na campanha de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo acusam o influenciador de não pagar pelos serviços contratados.Uma delas, a Vivere Press Comunicação 360 entrou com uma ação na Justiça estadual cobrando o pagamento.Segundo o documento, o contrato para a prestação de serviços foi firmado no dia 2 de...
Política
Shoulder compra a butique carioca Haight
Primeira fase é de 40% do capital e incorporação total acontece em até 18 meses Depois de incorporar a marca masculina Oriba, a Shoulder acaba de fechar sua segunda aquisição. Terá 40% da butique carioca Haight, por meio de um aporte em caixa, chegando à incorporação integral em até 18 meses, com troca de ações....
Negócios
Em autobiografia, Melania Trump defende direitos ao aborto livres de pressão do governo
Trechos do livro foram obtidos pelo The Guardian A ex-primeira-dama Melania Trump afirma que apoia os direitos ao aborto “livres de qualquer intervenção ou pressão do governo” em sua próxima autobiografia, segundo trechos do livro obtidos pelo The Guardian. “Por que alguém, além da própria mulher, deveria ter o poder de determinar o que ela faz com...
No Mundo