Economia
Quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Uma carona de R$ 100 milhões para conquistar os caminhoneiros na estrada

Atualmente, a empresa conta com 60 mil usuários ativos por mês

O americano Charlie Conner, 44 anos, atuava como head do fundo de private equity americano Arlon Group no Brasil quando se deparou com uma chance daquelas que ele mesmo diz aparecer poucas vezes na vida. “Nunca vi uma oportunidade tão óbvia”, diz, sobre o investimento que o grupo fez, em 2016, na Sotran, empresa de logística voltada para o agronegócio.

Na visão do executivo, a logística é uma indústria que está passando por uma das maiores disrupções na atualidade. “O que aconteceu com o mercado de táxi há 10 anos, o de delivery há 6 anos e o de bancos há 5 anos, está começando a acontecer no setor de logística no mundo inteiro”, diz Conner ao NeoFeed. “É uma mudança muito grande.”

Não à toa, em 2019, ele deixou o Arlon para comandar a empresa que ele “investiu” e que se prepara para acelerar nas estradas brasileiras. A Sotran, dona de um aplicativo chamado Tmov, onde os motoristas encontram as cargas para transportar, acertam o valor do frete e recebem o pagamento, toda a jornada de ponta a ponta, acaba de receber um cheque de R$ 100 milhões.

O aporte, anunciado com exclusividade ao NeoFeed, foi liderado pelo grupo brasileiro FitPart, que tem investimentos em empresas como Unidas e Stone, e o próprio Arlon Group. O plano é usar esse dinheiro para digitalizar, cada vez mais, a vida dos caminhoneiros, contratar engenheiros e analistas de dados e aumentar a base de usuários plugados na plataforma.

Costurado pelo banco de investimentos Lazard, o investimento dará suporte à operação neste e no próximo ano. Depois, a ideia é partir para novas rodadas ou, quem sabe, uma abertura de capital. E a meta é praticamente dobrar a operação que hoje conta com 60 mil caminhoneiros ativos por mês. “Até o fim do ano deveremos chegar em 100 mil usuários por mês”, diz Conner.

Além de aumentar a base, a Sotran, que movimentou R$ 1,3 bilhão em 2020, pretende lançar, nos próximos meses, um marketplace voltado aos embarcadores, que são as empresas que se conectam na plataforma em busca da logística. São atualmente 900 companhias de grande porte como JBS, BRF, Cargill, ADM, entre outras. O novo serviço abrirá a possibilidade para que as empresas possam fazer a gestão no app da logtech.

“Esse novo serviço não é exatamente um SaaS (software as a service), ele dá um suporte maior”, diz Conner. “Vamos dar o software com o ecossistema, é o que chamamos de TaaS (transport as a service).” A empresa que escolher essa opção vai pagar um take rate menor. Mas, neste caso, ela terá a missão de gerenciar o capital de giro e o risco de oscilação de preço.

Charlie Conner, CEO da Sotran

Hoje, funciona da seguinte forma: o motorista abre o aplicativo, reserva a carga que vai levar e toda a interação do caminhoneiro é diretamente com a Sotran. A empresa paga o motorista e assume todo o risco da operação, adiantando, inclusive, 80% do pagamento na contratação e o restante concluído na entrega.

“O motorista não tem capital de giro. Quando ele carrega o caminhão, a primeira coisa que precisa é abastecer”, diz Conner. “Se ele vai de Sorriso (MT) para Santos (SP), um frete de R$ 10 mil, ele vai precisar de R$ 4 mil para abastecer.” Justamente por conta disso, a companhia criou uma fintech e uma conta de pagamentos por onde o motorista pode receber e movimentar o dinheiro.

Batizada de Tmov bank, a fintech deverá, em breve, oferecer outras possibilidades e produtos para os caminhoneiros. Oferta de crédito, por exemplo, está nos planos. “Muitos caminhoneiros não têm acesso a vários produtos financeiros e vamos entrar nesse mercado”, diz Conner.

A disputa por esse usuário, definitivamente, não será fácil. A Sotran tem concorrentes mais famosos e mais robustos em termos de aportes e de operações. A CargoX, por exemplo, foi uma das pioneiras em digitalizar essa relação entre transportadoras e embarcadoras. Fundada em 2013, a empresa já recebeu aportes que somam US$ 174 milhões de fundos como LGT Lighstone, Valor Capital, Farallon Capital e Goldman Sachs.

Outra rival que tem espaço nos smartphones dos caminhoneiros é a Truckpad, fundada em 2014. A companhia já recebeu investimentos de empresas como Movile, Plug and Play Tech e a gigante chinesa Full Truck Alliance (FTA). Tanto CargoX como a TruckPad atuam com qualquer tipo de carga, a Sotran, por sua vez, concentra seus esforços no segmento agro.

Fonte: NeoFeed