LARISSA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O projeto de autonomia do Banco Central, que foi aprovado nesta quarta-feira (10) na Câmara, inclui entre as obrigações secundárias da autoridade monetária fomentar o emprego e suavizar oscilações na atividade econômica.
Já avaliado pelo Senado, o texto agora segue para a sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Na prática, a proposta oficializa o que já ocorre hoje: a autarquia é responsável pelo controle de inflação, mas de forma secundária também olha para o mercado de trabalho e, sobretudo, para o crescimento da economia.
A inclusão das atribuições em lei, entretanto, mesmo que os preços sejam o alvo central, pode aumentar a cobrança para que o BC trabalhe para estimular a economia e fomentar o emprego em tempos de crise.
Hoje, além de garantir o poder de compra da moeda, a autoridade também precisa assegurar a estabilidade do sistema financeiro, ponto que permaneceu na proposta.
Economistas consultados pela Folha dizem que a mudança não deve afetar os rumos da política monetária, ao menos no curto e médio prazos, mesmo diante de pressão no Legislativo, onde o BC terá de prestar contas a cada semestre.
O texto-base passou na Câmara sem mudanças em relação ao aprovado em novembro no Senado.
Para o economista-chefe da JF Trust Investimentos, Eduardo Velho, o mandato fixo, que impede mudanças na diretoria a cada troca de presidente da República, dá mais poder para que o BC não ceda a pressões na condução da política monetária.
“Uma cobrança mais explícita não deve mudar a forma de atuação porque a autonomia por si só calibra isso, mesmo que ela venha do Congresso”, diz.
Para o analista, os novos objetivos podem dar mais transparência na comunicação do BC.
“O texto é bem claro quanto às atribuições e coloca a inflação como central, isso pode ajudar a entender como é de fato sua atuação. Além disso, é possível que nos relatórios de inflação e nas atas do Copom [Comitê de Política Monetária] haja mais detalhes das análises e projeções para o emprego e para a atividade”, afirma.
O economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo, concorda que o projeto destaca os objetivos do BC com clareza.
“Isso não compromete a capacidade ou a autoridade do BC porque o próprio texto diz que ele precisa controlar a inflação. Embora também tenha de olhar para a atividade, não há prejuízo para a atribuição central, que é garantir o poder de compra da moeda”, diz.
“Não vejo essa conivência do BC com uma inflação mais elevada porque formalmente precisará olhar para a atividade ou estimular o emprego, mesmo que haja uma pressão adicional do Poder Legislativo”, afirma.
Galhardo também avalia que a oficialização das atribuições pode ampliar as análises nos comunicados do BC. “Se há preocupação, ainda que de forma secundária, com a atividade econômica, acredito que terá de mudar seus relatórios e incluir de forma mais detalhada essas questões”, diz.
Eduardo Velho, da JF Trust Investimentos, pondera que hoje não há possibilidade de se fazer o mandato duplo -com inflação e emprego como atribuições principais– porque o país ainda não superou completamente o problema da inflação.
“Há pouco tempo tínhamos hiperinflação, o sistema de metas é relativamente novo. Com o amadurecimento da economia, com juros estruturais mais baixos e inflação controlada, podemos pensar em nos equiparar com países desenvolvidos, como o Fed [Federal Reserve, o banco central americano], temos um longo caminho pela frente”, diz.
O banco central americano, além de preços estáveis, busca também estimular a criação de empregos.
Recentemente, o Fed indicou que deverá tolerar um nível de inflação acima da meta por alguns anos para que o nível de desocupação caia, dando maior importância ao mercado de trabalho, que foi afetado pela pandemia de Covid-19.
“Não vejo o BC brasileiro fazendo isso, deixando os juros a 2% ao ano para estimular o emprego em detrimento da inflação”, diz Galhardo.
O professor e coordenador do Centro Macro Brasil da FGV-EESP, Marcelo Kfoury, também avalia que a mudança não afetará política monetária. “O BC consegue suavizar o ciclo [econômico], mas não criar demanda, então nesse sentido não teria tanta potência”, diz.
“É importante destacar que pleno emprego não é máximo emprego, mas um nível de ocupação que não gere inflação. Estimo que esse patamar esteja entre 9% e 10%. Abaixo disso há impacto nos preços”, afirma.
Segundo o analista, com a falta de mão de obra e a economia aquecida, a empresa remunera mais o funcionário e repassa os custos. Além disso, o consumo aumenta e a inflação sobe.
“Quando se segue uma meta de inflação, mantendo a economia estável, indiretamente você está olhando para o mercado de trabalho, então já está dentro do regime. Mas, se fosse mandato dual, seria mais leniente com a inflação”, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Para ele, incluir o emprego como atribuição principal seria prejudicial à economia.
“É contraproducente em um país com uma memória inflacionária forte. Quando tivermos uma economia minimamente mais desenvolvida, começamos a falar de mandato dual, quando a política monetária tem potência maior que a fiscal”, afirma.
Destaques
Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Alta dos alimentos vai se propagar e meta será descumprida, avisa o BC
O Banco Central sob a presidência de Gabriel Galípolo avisou na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça, 4, que deve descumprir a meta de inflação já na largada, agora sob o regime de “meta contínua”. Em outras palavras, isso quer dizer que a inflação anualizada vai ficar acima...
Economia
Nissan sofre queda na Bolsa após notícia de que descartou fusão com a Honda
As ações da Nissan registraram forte queda nesta quarta-feira (5) na Bolsa de Tóquio depois que o jornal econômico Nikkei informou que a montadora abandonou as negociações para uma fusão com a concorrente Honda. O jornal e outros meios de comunicação japoneses informaram que a Honda propôs transformar a Nissan em uma subsidiária, ao invés...
Negócios
Santander Brasil registra lucro de R$ 3,85 bi no 4º trimestre, salto de 75%
O Santander Brasil reportou nesta quarta-feira, 5, lucro líquido gerencial de 3,85 bilhões de reais para o quarto trimestre de 2024, um salto de 74,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, em resultado marcado por expansão de margem financeira e melhora na rentabilidade. Previsões compiladas pela Lseg apontavam lucro de 3,72 bilhões de...
Negócios
Voa Brasil chega a 28,5 mil reservas; saiba como comprar passagem a R$ 200
Programa do governo para facilitar o acesso de aposentados à passagens aéreas, o programa Voa Brasil alcançou a marca de 28.500 voos reservados em seis meses, apontam dados divulgados pelo Ministério de Portos e Energia nesta terça-feira, 4. O mês de janeiro teve recorde de reservas, com 5.308 bilhetes, quantia 15% melhor que o recorde...
Política
Serviço Postal dos EUA suspende encomendas recebidas da China e Hong Kong
Trump se moveu para fechar a “brecha de minimis” que permite que importadores e compradores dos EUA não paguem tarifas O Serviço Postal dos EUA (USPS) disse que suspenderia temporariamente as encomendas da China e de Hong Kong, depois que o presidente Donald Trump fechou uma brecha comercial esta semana usada por varejistas, incluindo Temu...
No Mundo
Recompras de ações batem recorde em 2024 e tiram bilhões da Bolsa brasileira
O mercado de ações brasileiro teve um recorde de programas de recompra de ações por parte de empresas em 2024. Foram 126 pedidos de recompra aprovados pela B3 no ano passado, envolvendo 4,8 bilhões de papéis, ambos recordes históricos da Bolsa de Valores brasileira. Os números representam um salto em relação a 2023, que teve...
Economia
Lula concede entrevistas e se reúne com presidentes de bancos públicos nesta quarta-feira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concederá, nesta quarta-feira, 5, entrevista às rádios Itatiaia, Mundo Melhor e BandNewsFM BH, de Minas Gerais. O compromisso será às 7h30. Às 10h, Lula fará reunião com bancos públicos no Palácio do Planalto. Participarão o vice-presidente, Geraldo Alckmin; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; a...
Política