Economia
Quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Plano de carreira ganha importância diante de mercado de trabalho instável

BÁRBARA BLUM
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com um mercado de trabalho cada vez mais instável – seja por crises econômicas ou por modelos de negócio no estilo startup -, montar um plano de carreira nos primeiros anos da vida profissional nem sempre é prioridade.
Especialistas em recursos humanos afirmam, porém, que a estratégia ganha cada vez mais importância para pensar a carreira a longo prazo.
“Muitas pessoas confundem plano de carreira com plano de cargos e salários da empresa”, afirma Camely Rabelo, cofundadora da aceleradora de carreiras Exchange. Para ela, o método deve ser um planejamento estratégico, que define metas a atingir, e em quanto tempo e o que deve ser feito para chegar lá.
Quando fez formação de coach, aos 22 anos, ela optou por um plano de carreira de oito anos cuja meta era chegar ao cargo de diretora comercial aos 30 anos. No plano, ela incluiu todos os cargos que gostaria de vivenciar – e pelos quais precisaria passar – até atingir o objetivo final.
Segundo Camely, cada etapa do plano envolvia o desenvolvimento de habilidades diferentes, seja no campo técnico ou no comportamental. O processo de aprofundamento dessas qualidades é o que ela chama de roda de competências.
“Ao final do ciclo de estudos da roda de competências de uma função, já vale começar a se preparar para a próxima”, afirma.
Apesar de não haver nem idade certa nem limite para começar, especialistas aconselham a começar cedo. Para Marília Militão, especialista em recolocação profissional, o momento da adolescência, em que começa a busca por um curso superior, pode ser um bom ponto de partida.
“Muitas vezes, temos uma profissão dos sonhos, mas quando a vivenciamos podemos perceber que não é aquilo que a gente queria”, diz. Para ela, tão importante quanto saber o que se busca é saber o que não faz sentido.
Essa busca, para o especialista em recursos humanos Carlos Silva, na área há mais de 30 anos, deve ser individual e desvinculada da companhia em que se está no momento.
“Gerações mais antigas passavam mais tempo nas empresas e acabavam confundindo o plano de carreira do profissional com o plano de cargos da empresa.”
Para os mais jovens, das gerações millennial e Z, as noções de propósito, de satisfação pessoal e de bem-estar ocupam espaço prioritário na busca por um bom emprego. Já os profissionais das gerações X e baby boomers consideram mais a estabilidade.
“Hoje, com os millennials, vemos pessoas que não querem passar mais de dois ou três anos em uma mesma empresa. Elas querem se desenvolver rapidamente, chegar a cargos de direção antes dos 30. É outra mentalidade.”
Roberto Picino, diretor-executivo da consultoria Michael Page, afirma que, apesar de a escada de carreira tradicional das empresas ainda existir, o trabalho e os profissionais estão mais flexíveis e autônomos.
“Não adianta a empresa crescer e o funcionário não. Deve ser no mesmo compasso”, comenta.
Silva afirma que, com a idade média dos CEOs e diretores diminuindo cada vez mais, a visão de desenvolvimento profissional das empresas, que costuma ocorrer em um ritmo mais lento, fica em descompasso com a dos jovens que entram no mercado em busca de crescimento rápido.
A mudança de prioridades profissionais que veio com as novas gerações mudou também a forma como se dá o networking.
Segundo Silva, se os mais velhos viam com maus olhos a tentativa de se manter atraente para o mercado, com cursos e a busca constante por desenvolvimento. Hoje isso já mudou radicalmente.
A busca permanente pela melhora é, para ele, o primeiro passo para um plano de carreira de sucesso. Esse processo, para Marília Militão, não precisa envolver títulos e cursos, mas deve estar atrelado ao aprimoramento de habilidades necessárias para cumprir cada etapa almejada.
“Dependendo do cargo que o jovem quer, cursos como de idiomas e de Excel podem ser até mais importantes do que uma faculdade”, afirma. Para ela, vale até procurar estudar por iniciativa própria, por meio de vídeos no Youtube.
Para desenvolver habilidades comportamentais vale a mesma fórmula.
“Grupos de jovens em igrejas são bons para desenvolver liderança, comunicação, conflitos. Até ajudar vizinhos a cuidar dos filhos desenvolve responsabilidade, atenção e foco, por exemplo.”