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Quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Mercado vê chance para setores que ficaram para trás na Bolsa

JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, ter se recuperado do impacto do coronavírus, diversos setores ainda amargam perdas relacionadas à pandemia, em especial o de serviços, com destaque para empresas de turismo e educação.
Nos últimos 12 meses, a Cogna acumula queda de 62%, e a Yduqs, de 40%. A CVC cai 42,64%, e a Gol e a Azul, 30,7% e 28,9%, respectivamente.
“O consumo cíclico segue desvalorizado e depende da imunização. O país que estiver mais vacinado vai ter uma recuperação da economia mais rápida”, diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.
Caso a expectativa de uma vacinação em massa em 2021 se concretize, esses ativos poderão ter saltos na valorização, pois estão entre os mais defasados do Ibovespa.
“Lojas Renner é a maior pechincha da Bolsa”, diz Luís Fernando Zen, estrategista da Invexa Capital.
A varejista acumula queda de 28,3% nos últimos 12 meses e, segundo Zen, está barata com relação ao retorno que pode dar ao investidor.
Na mesma lógica, ações de shoppings, construção civil e bancos estão entre as recomendações de especialistas.
Como há o risco de a imunização demorar mais do que o previsto, afetando a recuperação, o investidor precisa ficar atento ao noticiário sobre o tema. Caso as perspectivas piorem, as empresas poderão sofrer forte desvalorização.
Algumas instituições estão revisando para baixo suas estimativas para a economia brasileira em 2021, dados o atual processo de vacinação e o aumento no número de casos e mortes neste início de ano.
A Tendências Consultoria, por exemplo, projeta um crescimento de 2,9% para o PIB, abaixo da mediana do mercado de 3,5% apurada pelo Banco Central na pesquisa Focus.
O economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, também está entre os que revisaram a projeção de crescimento do PIB para este ano, de 3,5% para 3%, mas, em sua avaliação, as perspectivas para o processo de vacinação são positivas.
“A retomada depende da vacinação. Ela tem um impacto enorme no crescimento da economia”, diz Caio Lewkowski, sócio da Tarpon Capital.
Para não dependerem só da vacinação e da retomada do consumo doméstico, os fundos da Tarpon também investem no agronegócio, que se beneficia do aumento das exportações com o dólar alto.
“Investimos em empresas que devem ter desempenho melhor que as concorrentes e que tenham estrutura de capital adequada para passar por momentos em que a atividade econômica não é tão pujante”, afirma Rafael Maisonnave, também sócio da Tarpon.
Segundo ele, é importante buscar empresas com boas margens de lucro, pouco endividadas e com alta previsibilidade de ganho.
O setor elétrico está entre os investimentos da Tarpon justamente pela previsão de renda, já que as empresas do setor têm, geralmente, uma constância no fluxo de caixa.
“Empresas de infraestrutura estão menos expostas à economia real”, diz Maisonnave.
Outra aposta é o setor de saúde. “Cerca de 75% dos brasileiros não têm plano, mas está entre as prioridades, é algo que se deseja”, diz Lewkowski.
Ele também cita o impacto da pandemia e do envelhecimento da população como incentivos para a população buscar planos de saúde.
No setor, a gestora investe na Hapvida e na NotreDame Intermédica, que planejam uma fusão. A operação criaria um gigante do setor, impulsionando ainda mais os papéis.
A Invexa Capital também vê um potencial de crescimento na adesão de planos de saúde. Outra aposta é em celulose.
“Para uma empresa internacional como a Suzano, questões locais têm pouco impacto. Ela depende mais do dólar”, diz Marcelo Weber, fundador da gestora.
A Vale também é vista com bons olhos. “Este momento da empresa com baixo endividamento e o minério em alta é sensacional.”
Empresas de siderurgia e mineração são dependentes da demanda externa, especialmente da China. Como o esperado é uma taxa de crescimento elevada para o país em 2021, empresas do setor tendem se favorecer.
No setor aéreo, Weber vê uma retomada de Gol e Azul, mas não de Embraer a curto prazo. “Talvez não seja o grande momento da empresa, pela desistência da Boeing [de comprar a divisão de aviação comercial da brasileira].
Bertotti, da Messem, vê boa oportunidade em empresas estatais, cuja privatização fica mais provável com a vitória de Arthur Lira (PP-AL) para liderar a Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para presidir o Senado.
A mesma lógica vale para as reformas. O mercado vê uma maior probabilidade no avanço dessa agenda. Nesse cenário, Bertotti aposta na Sabesp e na Eletrobras. “Com a agenda reformista ganhando força, estatais se valorizam.”