KARINA MATIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eduardo Sterblitch, 33, afirma que tem repetido muito um aforismo do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Temos a arte para que a verdade não nos destrua”. Ainda que o mundo continuasse a existir sem música, filmes ou obras artísticas, ele seria muito mais tedioso e desinteressante, avalia o ator.
“Eu acredito que a arte salva desde antes da pandemia, e sempre salvará”, completa. No isolamento social, para não “enlouquecer”, Sterblitch diz que precisa “vomitar de alguma forma todas as tensões” do momento. “Graças a Deus, eu sou artista e tenho essa condição de poder escrever num papel uma loucura ou levantar e tentar fazer uma gag muda ou fazer um curta, uma peça online.”
De toda essa inquietude nasceram uma peça, uma série, um filme -os três seguem em desenvolvimento- além do programa “Sterblitch Não Tem um Talk Show: o Talk Show”, que teve duas temporadas no Globoplay. “Estou pensando em ideias em que eu possa realizar com pouca gente, em casa ou em um estúdio pequeno super controlado, porque vai demorar ainda para todos tomarem essa vacina”, diz.
Para ele, na verdade, os resultados não são o que o motivam. “Importa que eu estou vivo, estou criando, que as coisas estão acontecendo dentro da minha cabeça. Isso é o que importa, o resto, o que vier é lucro.”
Enquanto Sterblitch desenvolve suas novas ideias, o público da TV aberta poderá acompanhar o trabalho do ator em “Shippados”, série que estreou em julho de 2019 no Globoplay, e que a partir desta terça-feira (12) será exibida na Globo.
A produção é escrita por Alexandre Machado com a mulher, Fernanda Young, que morreu em setembro de 2019. Sterblitch diz ter ficado animado com a oportunidade de “popularizar a última obra da escritora”. “Vai dar para matar um pouco da saudade dela”.
Na comédia romântica, ele é Enzo, jovem metódico e neurótico que se frustra constantemente ao tentar encontrar a cara-metade em aplicativos de relacionamentos. Esse é o mesmo dilema de Rita, papel de Tatá Werneck, uma sincera atendente do balcão de informações de um supermercado, que mora com a mãe e acredita que o pai a abandonou por sua tosse incessante quando criança.
Em um desses encontros desastrados, Rita e Enzo se conhecem. A partir daí, eles começam a descobrir algo em comum: o azar no amor e a persistência por achar um par -apesar das muitas frustrações. O elenco da série traz outros nomes do humor brasileiro, como Rafael Queiroga, Júlia Rabello, Luis Lobianco e outros.
Com pessoas naturalmente engraçadas ao redor e um clima amistoso de gravação, Sterblitch diz que o mais desafiador de interpretar Enzo era conseguir se concentrar ou ficar triste. Sim, porque, embora seja uma comédia, “Shippados” tem seus momentos de drama. “Ao mesmo tempo, todos eles [os colegas de elenco] são sérios também…existia um bom senso de entender a hora em que era para acabar com a brincadeira, e se concentrar”, afirma.
Uma das reações que mais recebeu do público, diz o ator, foi a surpresa com a parceria romântica na série entre ele e Tatá. “As pessoas falam que acham muito legal e não esperavam a gente fazendo dessa forma.” Outro ponto que “Shippados” tem recebido elogios, diz Sterblitch, é a trilha sonora, composta de músicas nacionais de artistas como Vanguart, O Terno, Los Hermanos, Elza Soares, Nação Zumbi, Céu e Maglore. “Se você não estiver gostando da série, por exemplo, você pode deixar ela passando para ouvir as músicas, e já estará bem servido”, diz o ator, em tom de brincadeira.
Segundo o colunista Fefito, do UOL, antes de morrer, Fernanda Young já escrevera cerca de metade dos episódios da segunda temporada de “Shippados” ao lado de Alexandre Machado, que decidiu seguir o trabalho. A Globo ainda não confirma a sequência.
Sterblitch diz que torce pela continuação, mas prefere não pensar muito nisso para não ficar ansioso. “Está nas mãos do público”, diz. “A minha preocupação sempre é trabalhar o mais atento possível, o mais dedicado para entregar o melhor meu possível dentro daquele lugar. O resultado a gente não tem controle. Fazemos um bom sanduíche se alguém vai comer, se alguém vai comprar, se alguém vai elogiar, aí já é com o acaso”.”
O ator estourou na TV no extinto Pânico, humorístico em que interpretou diversos personagens, o mais famoso deles o Freddy Mercury Prateado. Em 2019 e 2020, ele foi elogiado por sua atuação como o caipira Zeca, de “Éramos Seis”, que marcou sua estreia na teledramaturgia da Globo.
Perguntado se gostaria de fazer uma nova novela, Sterblitch afirma que o mais importante para ele é o papel oferecido. “Eu sempre gosto de compor personagem, se tiver a possibilidade de fazer um bom personagem, eu sempre vou estar interessado em fazer, independentemente do veículo.”
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