Cultura
Quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Animação brasileira ‘Umbrella’ quer seduzir o Oscar com clima meloso

INÁCIO ARAUJO
FOLHAPRESS – Uma boa mulher, em companhia da filha, leva uma caixa de brinquedos a um pequeno orfanato num dia de chuva. Um dos meninos não vai atrás dos brinquedos. Prefere se apossar do guarda-chuva trazido pela boa mulher e o esconder num armário no andar superior. A filha da boa mulher, no entanto, nota o que ele fez e vai atrás, disposta a recuperar o objeto.
Daí por diante é melhor não contar o que acontece nessa fábula, para não estragar as surpresas que vêm daí por diante. Não chegam a ser tão espetaculares assim, mas são, basicamente, o que “Umbrella” pode oferecer.
No mais, algumas indagações. Por que um filme de animação brasileiro busca um ambiente nova-iorquino para se fixar? E por que o personagem do refugiado seria húngaro? Se estamos no presente, que refugiado húngaro seria esse? Fugido do governo de Viktor Orbán? Orbán ficou mais famoso por pôr imigrantes da Hungria para fora. Nesse sentido, o trabalho de Helena Hilário e Mario Pece é um tanto vago.
Dito isso, essa animação chama a atenção por alguns pontos. O principal talvez seja a capacidade de se expressar em imagens, numa situação razoavelmente complexa, que envolve uma volta ao passado e uma ida ao futuro. Os diretores trabalham sem originalidade ou ousadia, mas de forma competente, nesse sentido. O segundo é o bom uso das cores -a direção de arte do filme é elogiável.
O terceiro, e talvez mais importante, seja o recurso contínuo, insistente e tolo aos sentimentos, de que o uso da música melosa não é o único sinal evidente. Talvez não seja por acaso que o filme interessou ao Oscar, instituição que com tanta frequência difunde a ideia de que o cinema não passa de uma arte dos bons sentimentos aliados a uma certa técnica.
Não é isso. Não é só isso. Passa longe disso. E não é porque cineastas brasileiros se adaptam a essa lógica diminuta que a gente precisa se curvar. Não mesmo.