ISABELA BOLZANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os fundos de ações foram a categoria que mais superaram o índice de referência (benchmark) nos últimos dois anos. Considerando os retornos do Ibovespa, principal índice acionário do país, essas carteiras tiveram melhor rentabilidade em 85,8% das vezes.
O Ibovespa é considerado o principal benchmark financeiro quando se trata de renda variável. Já para investimentos mais conservadores, o principal índice de referência para a rentabilidade é o CDI (Certificado de Depósitos Interbancário) ou a Selic.
Os dados são de um levantamento da Comdinheiro a pedido da reportagem. A sondagem considera os cinco maiores fundos de investimentos de renda fixa, ações e multimercados e seus respectivos retornos ao final dos últimos 24 meses -de 28 de setembro de 2018 até 31 de agosto de 2020.
As carteiras de multimercados ficaram em segundo lugar, superando a rentabilidade dos índices de referência em 76,7% das vezes. Nos fundos de renda fixa, os retornos tiveram performance melhor em 59,2% das vezes.
O movimento acompanha o ambiente político e macroeconômico do país. Especificamente em 2020, além das taxas de juros nas mínimas históricas e da consequente migração de investidores para a renda variável, fatores como a percepção de recuperação da economia e do resultado das empresas diante da pandemia do coronavírus também influenciaram a rentabilidade das carteiras.
Segundo o superintendente comercial da Itaú Asset Management, Stefano Catinella, é possível separar este ano em três momentos principais: janeiro e fevereiro – que ainda refletiam o otimismo de 2019 para a recuperação do país -, a chegada do coronavírus em março, com o maior estresse dos mercados, e o momento de reabertura da economia, que já demonstra um retorno importante nas Bolsas de Valores mundiais.
“A partir de agora, a expectativa é de que os dados continuem positivos. Vimos uma injeção muito forte de liquidez no mercado, com o auxílio emergencial e demais pacotes feitos para a manutenção do emprego e do consumo. Estamos mais otimistas”, afirmou.
O desempenho dos fundos também está relacionado à volatilidade que apresentam. A volatilidade é a oscilação do preço de um investimento – que pode depender dos mais diversos acontecimentos do dia.
Uma alta diária nos preços do petróleo, por exemplo, pode influenciar no Ibovespa em um pregão. Já a redução da Selic, também reflete nos retornos dos investimentos de renda fixa, mas em um período um pouco mais longo, já que a taxa básica não muda com frequência diária.
Ainda segundo o levantamento da Comdinheiro, as cinco maiores carteiras de renda fixa – considerando o patrimônio líquido e aplicações mínimas de, no máximo, R$ 5.000 – tiveram volatilidade anualizada que variavam entre 0,03% a 0,36%. Já a rentabilidade anual ficou entre 0,45% e 1,58%.
“A vantagem desse tipo de investimento é que ele oscila pouco. Mas como se baseiam principalmente nas taxas de juros – e a taxa básica agora está muito baixa – acabam tendo quase o mesmo retorno. Não tem nenhuma carteira com a rentabilidade negativa, por exemplo, mas também não vemos retornos excepcionais”, afirmou Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro.
Essas carteiras normalmente tem grandes patrimônios alocados em ativos mais conservadores, como é o caso de CDBs (Certificado de Depósito Bancário) de grandes bancos e títulos do governo, por exemplo. Além disso, também são mais líquidas, ou seja, os investimentos podem ser transformados em dinheiro em pouco tempo – situação que é recomendada também para reservas de emergência.
Os retornos limitados em renda fixa, por outro lado, também influenciaram em outro movimento: a migração de investidores para ativos mais arriscado e mais rentáveis.
Os últimos dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), apontam que a captação líquida total dos últimos 12 meses findos em 11 de setembro para fundos de ações foi de R$ 109,5 bilhões – em contraste com os saques líquidos totais de R$ 43,6 bilhões das carteiras de renda fixa no mesmo período.
Já segundo a Comdinheiro, a volatilidade anualizada dos cinco maiores fundos multimercados oscilou entre 2,59% e 11,98%. O retorno anual dessas carteiras ficou entre -0,44% e 14,23%. Já nas cinco maiores carteiras de ações, a volatilidade ficou entre 32,5% e 58,4%, enquanto o retorno anual variou de -21,16% a 67,62%.
De acordo com João Sang, analista de fundos da Ativa Investimentos, apesar de a crise ter desencadeado, inicialmente, um maior volume de resgates na indústria de fundos, as carteiras de multimercados – que investem em diferentes ativos – ganharam força em meados do primeiro semestre.
“Essa migração para multimercados mais agressivos ou até mesmo fundos de ações ou que investem no exterior se intensificou. Mas é preciso cuidado. Muitas pessoas mudaram 100% do seu dinheiro para renda variável, e isso não pode acontecer”, afirmou.
O movimento aconteceu mesmo depois do episódio conhecido como “Coronaday”, quarta-feira de cinzas que marcou o início da crise do coronavírus e que foi responsável pela Bolsa de Valores brasileira registrar até quatro circuit breakers (interrupção dos negócios causada por quedas muito significativas) em uma semana.
Segundo o diretor de gestão de ativos do BB DTVM, Marcelo Pacheco, no entanto, a recuperação foi rápida e forte uma vez que os agentes econômicos perceberam que o resultado das empresas deste ano não é permanente e que, portanto, não terá impacto relevante no longo prazo.
“Os agentes passaram a ter mais informações e a entender melhor o tamanho e a possível duração da pandemia, o que ajudou nessa recuperação das Bolsas. Além disso, também tem o que o mercado chama de TINA [sigla em inglês para ‘não há outra alternativa’]. Não há outro lugar para colocar o dinheiro e ter a chance de retornos mais altos”, afirmou Pacheco.
Para os próximos meses, o gestor de fundos da Kinea Investimentos, Marco Freire, afirmou que existem riscos domésticos e internacionais nos quais o mercado deve ficar de olho e dispensar maior atenção.
“Existe, por exemplo, a possibilidade de uma correção nos preços das Bolsas globais, que subiram muito nos últimos meses diante do avanço [dos papéis] das empresas de tecnologia. Já no Brasil, o principal risco é sempre a situação fiscal do país”, afirmou.
Ele disse ainda, que questões que tragam uma prolongação da pandemia ou a possibilidade de uma segunda onda de contágio também estão no radar, mas são cenários mais improváveis.
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