ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), foi alvo na manhã desta quinta (10) de mandados de busca e apreensão em sua casa e em seu gabinete no Palácio da Cidade. A ação é parte da investigação sobre suposto esquema de corrupção na prefeitura.
Agentes da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro cumprem 22 mandados expedidos pelo 1º Grupo de Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, foro especial para investigação contra prefeitos.
Candidato à reeleição, Crivella é alvo de operação dois dias após as buscas na casa do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), já oficializado como seu rival na disputa pela prefeitura.
O prefeito negou, em vídeo divulgado à imprensa, a existência de esquema de propina em sua gestão e considerou a operação “estranha, considerando que estamos em período eleitoral”. E disse ainda que a ação não tem justificativa, porque ele havia oferecido seus sigilos bancário, fiscal e telefônico ao Ministério Público.
O inquérito contra Crivella, cujo conteúdo integral está sob sigilo, foi aberto no ano passado com base na delação premiada de Sérgio Mizrahy, agiota da zona sul da cidade.
Ele apontou o empresário Rafael Alves, ex-dirigente do Salgueiro e da Viradouro, como o responsável por cobrar propina na Riotur. A empresa municipal de turismo era presidida até março por seu irmão, Marcelo Alves.
O delator disse que Rafael Alves cobrava propina de empresas contratadas pelo município ou que têm dívidas a receber de gestões anteriores. O agiota disse que recebia cheques do empresário recebidos como vantagem indevida para trocar por dinheiro vivo.
Mizrahy não entregou evidências do envolvimento direto do prefeito em seus anexos oferecidos aos procuradores e homologados pela Justiça. Mas a proximidade de Rafael Alves com Crivella colocou o bispo licenciado da Igreja Universal como um dos alvos da apuração. A apuração tem fotos dos dois caminhando e conversando na Barra, onde moram.
É a segunda vez que agentes da polícia e do MP-RJ fazem buscas no curso do inquérito. Não há denúncia contra Crivella. Alves foi doador de campanha do PRB, antigo nome do Republicanos, desde 2012. Tanto a sigla como Crivella receberam do empresário R$ 745 mil nas eleições de 2012 e 2014.
Na eleição de 2016, quando Crivella foi eleito, ele não aparece como doador. Mas, segundo relatos feitos à reportagem, atuou como arrecadador para a campanha. Após a vitória, foi convidado por Crivella para uma viagem em Israel.
Dois integrantes da cúpula da campanha de 2016 também foram alvos da operação nesta quinta. Mauro Macedo (primo do líder da Igreja Universal, Edir Macedo) foi tesoureiro, e Marcelho Faulhaber, marqueteiro da equipe de Crivella. Hoje Faulhaber prepara a estratégia de campanha de Paes, após romper com o atual prefeito no primeiro ano de gestão.
Na administração atual, a Riotur era sua área principal de influência. O órgão organiza o desfile no Sambódromo, espaço no qual Rafael, ligado a escolas de samba, transita com facilidade. A empresa também organiza o Revéillon.
Segundo relatos, Rafael atuava como se fosse o presidente da Riotur. Ele tinha sala na sede da empresa, ficava rodeado por seguranças na Sapucaí e distribuía para amigos coletes destinados para os que trabalham na supervisão do desfile.
A relação do empresário com o prefeito não é sempre harmônica. Ele tentou, sem sucesso, convencer Crivella a não retirar o apoio financeiro de R$ 2 milhões que o município dava a cada escola de samba. Mas manteve sob seu domínio até março a Riotur mesmo após a criação da Secretaria de Turismo entregue ao PP.
Crivella negou qualquer esquema na prefeitura. “Considero essa ação injustificada, já que nem sequer existe denúncia formal e eu não sou réu nesta ou em qualquer outra ação. Apesar disso, confesso que prefiro o Ministério Público voluntarioso, mesmo com alguns excessos, do que aquele omisso, que permitiu ocorrer no Rio de Janeiro, em gestões passadas, o maior volume de corrupção já visto no mundo.”
O advogado Alberto Sampaio Junior, que defende o prefeito, disse não poder comentar as suspeitas, por não ter tido acesso aos autos. “A desembargadora-relatora ainda não autorizou acesso ao procedimento cautelar e tampouco à decisão de busca e apreensão, inviabilizando, portanto, o exercício da ampla defesa”, disse, em nota.
Faulhaber afirmou que só esteve ligado ao prefeito na campanha de 2016 e na transição do governo. Macedo não foi localizado para comentar.
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