LEONARDO SANCHEZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cada vez mais atenta aos mercados regionais, a Netflix não tem deixado o público brasileiro na mão. Seu volume de produções nacionais é cada vez maior e, agora, a gigante do streaming se aventura também pela nossa literatura.
Estreia em breve na plataforma sua primeira adaptação de uma ficção policial brasileira, “Bom Dia, Verônica”, de Raphael Montes e Ilana Casoy. Lançado em 2016 sob o pseudônimo de Andrea Killmore, o thriller vendeu 10 mil cópias em sua primeira tiragem.
Agora, a história de sua protagonista, a escrivã Verônica, chega às telas no dia 1º de outubro, em forma de série. Tainá Müller vive a personagem do título, que, diante de casos enigmáticos que têm as mulheres como suas vítimas, decide desafiar o modus operandi da delegacia onde trabalha e mergulhar em investigações perigosas.
Uma delas a leva a Janete (Camila Morgado), uma mulher simples casada com um serial killer cruel e sádico. A vilania é incorporada por Eduardo Moscovis, mais uma parte do elenco formado ainda por Elisa Volpatto, Silvio Guindane, César Melo, Adriano Garib e Antônio Grassi.
Nomes conhecidos da literatura policial, Montes e Casoy integram a sala de roteiristas da adaptação. Ele tem um vasto currículo na ficção, com traduções em mais de 20 países, graças a títulos como “Suicidas” e “Dias Perfeitos”, ambos pela Companhia das Letras. Já ela, criminóloga, se debruçou sobre casos reais famosos, como o da família Von Richthofen e o do assassinato de Isabella Nardoni.
“Bom Dia, Verônica”, primeira e por enquanto única colaboração da dupla, surgiu como uma provocação. Leitor de Casoy, Montes a conheceu em um festival literário e flertou com a ideia de assinarem uma ficção juntos. Ela aceitou e, então, eles começaram a definir os elementos que precisariam estar presentes na trama.
“Cada um tinha coisas que queria abordar. Ele visivelmente queria uma personagem mulher, e eu poderia falar disso de forma bem real. Minha intenção era falar sobre mulheres invisíveis, como a Verônica, que é uma escrivã. Em muitos dos casos que eu pesquisei foram elas, as escrivãs, que me ajudaram, porque elas tomam nota e observam tudo”, diz Casoy.
Montes emenda que a protagonista de “Bom Dia, Verônica” surgiu justamente para que temas atuais do universo feminino pudessem ser discutidos. “Nós usamos a narrativa para alcançar várias questões. Mais do que oferecer respostas, o livro quer provocar”, diz o escritor.
No atual cenário audiovisual, em que testemunhamos uma ampliação da diversidade e um empoderamento das vozes femininas, “Bom Dia, Verônica” pareceu a escolha perfeita para uma nova série do streaming. Afinal, a história fala sobre os horrores, em diferentes escalas, dos quais as mulheres são vítimas ao mesmo tempo em que apresenta uma heroína para combater esses mesmos problemas.
Feminicídio é uma palavra que surge de forma recorrente durante a investigação de Verônica, mas o machismo está impregnado em toda a jornada da protagonista, que precisa provar sua competência enquanto observa colegas de delegacia pondo vítimas do “boa noite, Cinderela” em situações vexatórias.
Galeria Tainá Müller Veja imagens da atriz Tainá Müller https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/17693-taina-muller#foto-1588754430896893 * “Eu acho que essa é uma série feminina –o feminismo é um dos seus aspectos, mas não é o único”, explica Casoy. “A gente quis fazer uma Verônica que é uma heroína, sim, porque ela nunca abandona uma vítima pelo caminho. Mas ela não é perfeita. E, nesse mundo policial em que ela vive, existem muitos clichês de preconceito contra a mulher.”
E a fim de tornar a trama ainda mais próxima da realidade, Casoy e Montes fizeram questão de impregná-la com elementos bem brasileiros. Uma das vítimas do serial killer de Eduardo Moscovis, por exemplo, é uma jovem de uma cidade pequena que deixa a família para trás para tentar a vida em São Paulo.
“Sendo especialista em serial killers, eu sabia que seria cobrada nesse sentido quando eu criasse uma ficção, e o Raphael estava de acordo comigo quando eu disse que queria trazer um universo brasileiro para essa temática”, explica Casoy.
“O serial killer, mesmo na nossa ficção, é muito americanizado. A mente humana não tem fronteira geográfica, mas as questões ritualísticas e culturais variam por região, pela cultura, pelo pensamento local. Então a gente queria mexer com isso”, diz a criminóloga.
Montes, então, relembra a trabalhadora interiorana que é enganada pelo assassino em série de sua história. “Ele [o personagem de Moscovis] vai até a rodoviária, que é algo que faz parte da nossa realidade, buscar suas vítimas. É um assassino que entra nesse imaginário brasileiro. E isso em paralelo à violência doméstica, outra temática que abordamos. A história da Janete, que tem um marido abusivo, é tragicamente a história de muitas mulheres brasileiras.”
Nessa várias denúncias que fazem de uma sociedade que oprime as mulheres, Casoy e Montes também tecem críticas ao que consideram um sistema corrupto, ineficaz e excessivamente burocrático. “O ‘bom dia’ do título é o despertar da Verônica, que estava invisível como escrivã, para esse sistema que não abraça determinados casos, para um sistema legal falho”, concordam.
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