INÁCIO ARAUJO
FOLHAPRESS – A pandemia, sabemos todos, desmoralizou nossos super-heróis. O que esperar de seus superescudos, superforça, supertudo, se foram incapazes de detectar um mero e invisível vírus? Pior: como vai se virar o cinema para se manter no piloto automático da era Marvel & similares?
Algumas respostas: na série “Hunters”, a Amazon propõe o super-heroísmo de personagens em princípio comuns, lidando com problemas e inimigos reais (Holocausto, neonazismo). Netflix segue mais ou menos a mesma linha com “Power” (apresentado sem tradução do título). Mudar para que tudo continue igual é a divisa dos produtores. Aqui, a adolescente Robin (Dominique Fishback) começa a traficar uma nova e espetaculosa droga, com o fim exclusivo de pagar suas contas. Tem a proteção do policial Frank (Joseph Gordon-Levitt), que consome uma nova e espetaculosa droga com o fim de melhor combater sua difusão. Um terceiro elemento envolvido na trama é o ex-militar Art (Jamie Foxx).
A trama: Nova Orleans é a cidade escolhida para testar uma nova droga, capaz de dar ao usuário um poder de super-herói (ou supervilão) durante cinco minutos. A droga ainda está em fase de testes. Tanto pode fazer o usuário quebrar a banca quanto se arrebentar.
Digamos que o roteiro se permite certas facilidades nesse setor. Assim, quando Frank toma a droga, os efeitos são sempre positivos, o que não acontece a todos. Já o ex-militar tem algo de especial: como se tivesse caído ao nascer num pote da superdroga, que nem aquele personagem de “Asterix”. Deduz-se, no entanto, que se trata de algo mais grave: talvez uma questão genética, talvez uma experiência envolvendo algum laboratório militar etc.
Daí resulta algo rasteiro e outro tanto interessante. O rasteiro vem dos conselhos de Art a Robin: o sistema é feito para aniquilar os negros (como se ela não soubesse); ela que não se envolva com drogas, estude e trate de encontrar o seu real talento. A jovem trafica apenas para financiar uma caríssima operação que a mãe precisa fazer (recado do filme à América: falta um SUS por lá).
O essencial nesse movimento é que, num filme em que a ação domina de maneira convencional, embora levada agradavelmente pelos realizadores, a única coisa realmente interessante são os momentos em que as relações humanas se impõem: quando Robin abraça a mãe, por exemplo. Momentos fugazes, mas que ajudam a equilibrar o conjunto, a romper com a sequência frenética de acontecimentos, a criar a necessidade de algum entendimento, de algum mistério nos personagens, a criar neles alguma verdade, ao menos o bastante para que o clímax possa ser seguido com algum interesse.
“Power” não evita a saturação de efeitos que tem dominado o cinema comercial americano, mas oferece uma saída para o mundo dos vivos, da gente “normal”, como a lembrar que, afinal, as questões humanas costumam se resolver entre humanos, e não por forças super-heroicas. Só isso já o coloca um degrau acima dos filmes de ação habituais. O elenco forte (destaque para Dominique Fishback, surpreendente) também ajuda.
Por fim: o tema suposto do filme (a obtenção de um poder quase infinito), quase tão velho quanto a humanidade, está em outro lugar. Os superpoderes de hoje já existem, mas estão em outras partes; agem, mas quase não sentimos que agem.
Cultura
Domingo, 19 de janeiro de 2025
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Termina nesta sexta prazo para prefeito explicar muro na Cracolândia
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, deve se manifestar ainda nesta sexta-feira (17), junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os motivos que levaram a prefeitura a construir um muro na Cracolândia, confinando, no local, pessoas em situação de vulnerabilidade. A intimação, dando prazo de 24 horas para a manifestação do prefeito, foi determinada...
Política
Taxação de estrangeiros vai resolver crise de moradia da Espanha?
Em meio à alta nos preços de imóveis, premiê defende imposto de 100% sobre imóveis comprados por cidadãos não residentes de fora da UE. Como o plano se compara a outros países onde faltam moradias a preços acessíveis?O mercado imobiliário espanhol está está passando por um grande boom. Nos primeiros nove meses de 2024, os...
No Mundo
Saiba onde comprar discos de vinil e jogar fliperama para embarcar na nostalgia em SP
Em plena era digital, enquanto a humanidade acompanha a evolução vertiginosa da inteligência artificial, o hábito de consumir produtos e serviços analógicos está (novamente) em alta na capital paulista.Com algum esforço, quem anda pelas ruas de São Paulo consegue comprar discos de vinil, revelar filmes, jogar fliperama e até provar comidas que foram famosas em...
Cultura
Bolsonaro se irrita com veto de Moraes a passaporte: “Não estou indo para uma festa
Bolsonaro pediu o documento de volta ao ministro para viajar aos Estados Unidos e acompanhar a posse do presidente eleito, Donald Trump, no próximo dia 20 O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou irritação nesta quinta-feira, 16, por ter tido o pedido de devolução de seu passaporte negado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre...
Política
Brasil terá maior imposto do mundo com IVA estimado em 28%
País ultrapassaria carga de 27% da Hungria; trava de alíquota pode impedir isso A regulamentação da reforma tributária como foi sancionada nesta quarta-feira (16) deve resultar em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) médio de 28% no Brasil, segundo estimativa apresentada pelo secretário extraordinário da reforma, Bernard Appy. A taxa levaria o país a ultrapassar a carga de alíquota aplicada na Hungria (27%),...
Economia
Aborto legal na França completa 50 anos como exceção mundial
Cinquenta anos atrás, estima-se que eram realizados 300 mil abortos clandestinos por ano na França. “Abortava-se em condições assustadoras, em cima de mesas de cozinha, frequentemente com hemorragias e sequelas para toda a vida”, lembra à reportagem a diplomata Claudine Monteil, na época uma jovem feminista.Tudo mudou em 17 de janeiro de 1975, quando foi...
No Mundo
BYD anuncia fim de contrato com construtora chinesa e cria comitê para obras em Camaçari
A BYD anunciou nesta quinta-feira, 16, que encerrou oficialmente o contrato com a construtora chinesa Jinjiang após o resgate de 163 trabalhadores que trabalhavam em condições análogas à de escravos na obra da fábrica de Camaçari (BA) no final de 2024. Foi contratada uma construtora brasileira que será responsável pelos ajustes exigidos pelo Ministério do...
Negócios