Internacional
Terça-feira, 5 de novembro de 2024

Tesco quer que governo britânico exija de empresas auditoria antidesmatamento

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Sob pressão para que deixe de vender produtos ligados ao desmatamento da Amazônia e do cerrado, a maior rede de supermercados do Reino Unido quer que o governo britânico obrigue as empresas a rastrear suas cadeias de suprimentos para garantir que elas não provocam danos.
“Fazer queimadas para limpar a terra para plantio ou pastagem está destruindo habitats preciosos como a floresta tropical brasileira. É por isso que não compramos carne do Brasil”, afirmou Dave Lewis, principal executivo da Tesco, que tem 27% do mercado varejista britânico e faturou 56,5 bilhões de libras no último ano (2019/2020) -o equivalente a R$ 389,71 bilhões.
A declaração veio em resposta a uma campanha da ONG ambiental Greepeace para que a Tesco suspenda as vendas de produtos da Moy Park (produtora de frango sediada na Irlanda) e da Tulip (produtora de carne sediada na Inglaterra), empresas controladas pela brasileira.
Nos dois casos, os animais são alimentados com soja, cuja produção também é apontada pela Greenpeace como ligada a desmatamento. O escritório da JBS em Londres afirmou que a empresa “está comprometida com o fim do desmatamento em toda a sua cadeia de suprimentos” e tem trabalhado para “melhorar a rastreabilidade da cadeia de suprimentos no Brasil”.
“Todas as empresas subsidiárias da JBS aderem a rígidas políticas de compras responsáveis em todas as suas cadeias de suprimentos e compartilham nossa dedicação em eliminar o desmatamento definitivamente”, diz o comunicado.
Na última semana, quando perdeu investimentos da administradora escandinava Nordea também por questões ambientais, a JBS também havia afirmado seguir “rigorosa política de controle de compra matéria-prima”.
Apesar de se dizer comprometida em barrar fornecedores que possam estar ligados ao desmatamento, a Tesco afirmou que deixar de comprar produtos da Moy Park e da Tulip provocaria perdas de emprego no Reino Unido, afetaria produtores britânicos e comprometeria sua capacidade de oferecer carne de porco e frango fresca aos clientes.
Em seu comunicado, Lewis pediu ao governo britânico “que ordene às empresas de alimentos uma ‘due diligence’ [auditoria] eficaz em todas as cadeias de suprimentos, para garantir que todos os alimentos vendidos no Reino Unido sejam livres de desmatamento”.
Segundo o jornal britânico Financial Times, uma regulação para garantir cadeias de suprimento já está em estudo na Alemanha.
A rede varejista também adquire um sexto das 3,2 milhões de toneladas de soja importadas por ano pelo Reino Unido. Segundo o Greenpeace, 68% desse total vem da América do Sul. Estudo publicado na revista Science no mês passado indicou que, embora estejam concentradas numa minoria das fazendas, as práticas antiecológicas podem estar contaminando cerca de 20% da soja e pelo menos 17% da carne exportadas para a UE (União Europeia).
Consumidora de 516 mil toneladas de soja por ano, principalmente para alimentar rebanhos bovinos de carne e leite, a Tesco afirmou que participou em 2006 da fundação da Moratória da Soja Amazônica (pacto que proíbe compra do grão produzido em área recém-desmatada) e é cofundadora da Coalizão de Transparência da Soja.
A maior parte dos grãos importados pelo grupo, porém, vem do cerrado, cujo desmatamento também preocupa, segundo Lewis. No final de 2019, a empresa aderiu à Coalizão de Financiamento do Cerrado, que procura evitar danos ambientais na produção agrícola.
A cadeia de varejo também foi uma das companhias que encaminhou em maio carta ao Congresso brasileiro pedindo a rejeição do projeto de lei nº 2.633/20 , que foi apelidado por ambientalistas de ‘PL da Grilagem’, porque cria novas regras para posse de terra e regulariza propriedades em áreas indígenas.
O Greenpeace também quer que a Tesco se comprometa a reduzir à metade o volume de carne vendida, até 2025, para reduzir o impacto ambiental da produção desse alimento.
Lewis afirmou que pesquisas mostram que isso vai contra o desejo de três quartos de seus clientes, mas que a empresa tem trabalhado para aumentar a oferta de produtos veganos. Das refeições prontas que incluem leite ou proteína produzidas pela Tesco, 10% são baseadas apenas em plantas, afirmou o executivo.