Destaques
Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Movimento tenta boicotar prática de aluguel de ações

TÁSSIA KASTNER
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por que dar a alguém instrumentos para apostar contra seus investimentos? Essa pergunta está por trás da mais nova insurgência em redes sociais de pequenos investidores de ações.
Ligados ao Traders Club (plataforma de troca de informações sobre investimentos) eles começaram há algumas semanas um movimento para bloquear a possibilidade de que seus papéis sejam alugados.
O bloqueio é simples, basta acessar o site da corretora.
O objetivo seria limitar a atuação daqueles que apostam na queda de ações que, na avaliação desses investidores, deveriam subir.
Para analistas, qualquer efeito dessa mobilização deve ser de curtíssimo prazo porque ignora o princípio que rege os mercados: oferta e demanda.
Quem põe uma ação para alugar é o investidor (especial- mente fundos de ações) que efetivamente tem o papel e preten- de mantê-lo por um longo período em seu portfólio. Com o aluguel, ele ganha um dinheiro extra que geralmente ajuda a pagar custos como taxa de administração do fundo.
O valor recebido varia conforme a demanda por aluguel.
Já o tomador (ou “inquilino”) da ação é um investidor que aluga o papel em vez de comprá-lo. E faz isso para apostar na desvalorização, em uma operação que, em português, se chama venda a descoberto.
Ele vende o papel que não tem (mas alugou) a um preço que considera alto, acreditando que poderá recomprá-lo a um valor menor, após a queda, para devolver ao dono e lucrar com a diferença.
Ao dar instrumentos para a aposta na queda do papel, o investidor iria contra a própria tese de investimento, segundo os fomentadores do boicote.
“O investidor que aluga, vai alugar para shortear [apostar na queda]. Tem pressão vendedora. Dependendo do prazo do investimento, pouco importa se o papel cai nessa semana ou na próxima. O cara que coloca para alugar o papel é o investidor de longo prazo”, afirma Henrique Esteter, analista da Guide.
O professor William Eid, da FGV, aponta que a decisão de alugar uma ação para vendê-la é tomada antes. “A causa de [uma ação] não subir é anterior: é que existe um grupo grande de investidores que está acreditando na queda”.
“Impossibilitar a venda a descoberto não significa que a ação vai subir”, diz Michael Viriato, professor do Insper.
O mercado financeiro é feito sempre de compradores e vendedores que, tecnicamente, só fecham negócio quando acham que o preço é justo.
No fim de julho, após o movimento de redes sociais, o custo da operação de aluguel teria disparado, segundo imagens de plataformas de investimento compartilhadas por alguns investidores.
O principal destaque era o custo de aluguel da Cogna, a empresa que esses investidores apontavam o que consideravam um excesso de posições vendidas que pressionariam a cotação da ação. Ela fechou a semana a R$ 8,28, tombo de mais de 12% na sexta -na semana, o papel fechou estável.
Já o custo do aluguel subiu para mais de 30% sobre o valor da ação -a maior parte das companhias tinha aluguel ao redor de 2%.
E aqui começa uma segunda discussão sobre o princípio de oferta e demanda. Ainda que a decisão do pequeno possa ser legítima, por qual preço de aluguel ele estaria disposto a mudar de opinião?
Quando começou o movimento de suspensão do aluguel, houve quem fizesse piada.
“Se vcs vão fazer campanha contra aluguel de ações, façam contra os bancos também! Nunca pedi nada. Pq se alugar banco render 30% + dividendo eu não preciso de mais nada”, escreveu no Twitter a conta Femisapien, com 37 mil seguidores.