CLARA BALBI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Desde o início da quarentena, a atriz Bárbara Paz tem feito uma videoarte por dia. O diário fílmico, ela conta, foi a forma que encontrou de se comunicar com o mundo na pandemia. “Estava me sentindo muito isolada dentro de mim. Parecia que eu era um grande espelho de 360 graus.”
Enquanto em algumas das obras, publicadas nas suas redes sociais, ela registra paisagens à sua volta, nos dois que ela exibe esta semana no Festival Arte como Respiro, do Itaú Cultural, que reúne os trabalhos selecionados pelo edital de mesmo nome, a atriz aponta a câmera do smartphone para si mesma.
“Breathes on Solitude”, por exemplo, começa com uma imagem que remete a um parto (“eu vim ao mundo”, narra a voz em off), e depois envereda por imagens do cotidiano de Paz nos últimos meses – a leitura de um livro, as pernas cruzadas, as notas esparsas no piano. São imagens de uma “longa viagem de volta à essência”, conta a atriz.
“Fazia um tempo em que não voltava à casa. Então queria falar dessa volta, da minha solidão. Porque os outros eus, os outros personagens, ficaram lá fora. Aqui eu sou uma.”
A reflexão que o trabalho instiga sobre o espaço doméstico, ubíquo nessa pandemia, encontra ecos em outras produções apresentadas no festival, em cartaz até o domingo (26) no site do Itaú Cultural e até 5 de agosto nas redes sociais dos artistas participantes. São, no total, 33 produções exibidas a partir desta quarta (23) –na semana passada, foram outras dez.
A ideia de lar é central, por exemplo, da peça “Dois Amores e um Bicho”, da carioca Notória Companhia, e na performance “Cá Entre Nós”, idealizada por três atrizes do Bando de Teatro Olodum.
A primeira é uma adaptação de um texto do venezuelano Gustavo Ott que estreou no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, há três anos. Na trama, uma jovem veterinária passa a questionar se de fato conhece quem a criou ao descobrir que o pai matou, a pontapés, o próprio cachorro por achar que ele era homossexual.
A partir daí, os laços que mantinham a família unida se rompem um a um, com a mãe tomando consciência do relacionamento abusivo com o pai e, no ápice, a própria casa da família sendo arrasada.
Diretora da montagem, Danielle Martins de Farias conta que imaginar esse casal na quarentena foi um dos fatores que levou a companhia a inscrever o espetáculo no edital. “Imagina essa mulher trancada com aquele homem violento em casa. É muito triste, e muito real.”
Há ainda outros paralelos com a pandemia –um vírus, por exemplo, dizima toda a população de pássaros do zoológico, e a escalada das tensões sociais remete em muito a situação política brasileira atual.
Outra que fala da casa, mas da perspectiva da violência doméstica, é “Cá entre Nós”. Num vídeo com trilha sonora dramática, atrizes intercalam momentos performáticos e falas que alertam para a importância de prestar atenção em mulheres, em especial aquelas negras e pobres, que podem estar sofrendo agressões durante a pandemia –segundo a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, denúncias de incidentes do tipo cresceram 35% no país em abril.
“São três mulheres pretas que vivenciam essas situações e queriam externar um pouco esses diálogos”, diz Shirlei Silva, idealizadora da obra e uma das atrizes em cena.
A violência ainda se insinua na outra videoarte que Bárbara Paz apresenta no festival. Nela, a atriz encara os espectadores, um pedaço de picanha crua tapando a sua boca. Ouve-se o chiar que de uma carne jogada na panela quente.
Paz diz que a imagem, incômoda, surgiu da impotência que sente ao testemunhar o “governo desgovernado” do Brasil hoje. “Esse bando de morte, de sangue, e os seres humanos são só mais uma carne”, ela resume.
É o tipo de inquietação que, ela conta, queria compartilhar com o público. Paz afirma que foi isso, mais do que a remuneração de até R$ 10 mil por licenciamento de direitos autorais oferecida a cada projeto, que a motivou a inscrever as obras no edital.
O concurso, que também fez edições de música, literatura e artes plásticas, atraiu críticas nas redes sociais ao selecionar projetos de artistas já consagrados, como Luedji Luna, Jards Macalé, Luiz Tatit, Zélia Duncan e Anelis Assumpção.
Paz diz que respeita essas opiniões e que dá “graças por ter conseguido uma ascensão”, mas que se considera “uma artista como outros”. Além disso, ela acrescenta, o dinheiro que ganhou foi inteiramente doado ao paulistano Grupo Tapa, com o qual ela trabalha com frequência.
A atriz, que estreou na direção de longas no ano passado com o documentário “Babenco” conta que ainda não tem outros planos para o seu diário visual, sua primeira incursão nas artes plásticas. “Mas que ele vai ficar eterno para mim, nesse meu arquivo visual, vai.”
Cultura
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